México – Armados para entrar em campo

CLÁUDIA DARÉ

Na madrugada da terça-feira 13, o município de Chapala, a 60 quilômetros de Guadalajara, conviveu com uma realidade cada vez mais comum em partes do México. Um confronto entre policiais e homens armados deixou três mortos e dois feridos. No incidente, não faltaram armas poderosas, como a metralhadora AK-47 (ou Kalashnikov), e granadas.

No domingo anterior, a estrada que liga as duas cidades já havia sido palco de outra ação criminosa: homens fortemente armados bloquearam o tráfego e puseram fogo em automóveis. Dentro de menos de um mês, Guadalajara receberá 5.900 atletas e 2 mil delegados de 42 países, além de 800 mil turistas, para a 16ª edição dos Jogos Pan-Americanos. Segurança, como não poderia deixar de ser, é prioridade número um das autoridades mexicanas, em meio a uma guerra contra o narcotráfico que desde 2006 já deixou cerca de 45 mil mortos.

Um grupo especial formado por forças federais, estaduais e dos municípios será responsável pela segurança durante o Pan-Americano, que começará no dia 14 de outubro. Segundo as autoridades, 10 mil homens da Polícia Federal, da Marinha e do Exército participarão das operações. Um sistema de vigilância controlará toda a região metropolitana de Guadalajara por meio de câmeras. As patrulhas serão feitas por terra e pelo ar, com helicópteros.

O programa de segurança também vai cobrir aeroportos, estradas, hotéis e os portos de Manzanillo, no Pacífico, e de Veracruz, no Golfo do México, por onde deverão chegar várias delegações. Além disso, o grupo contará com especialistas nas áreas de terrorismo e ataques bacteriológicos, até possíveis sequestros e situações médicas de emergência.

O investimento em tecnologia e segurança está estimado em US$ 100 milhões e inclui equipamentos para detecção de armas químicas e explosivos. Mas a logística não foi suficiente para tranquilizar os convidados mais ilustres da competição. O Comitê Olímpico dos Estados Unidos admitiu que terá seu próprio plano de segurança para proteger os atletas de sua delegação.

O Comitê Organizador dos Jogos Pan-Americanos (Copag) diz estar convencido que os Jogos ocorrerão sem imprevistos. Para Carlos Andrade, diretor-geral do Copag, o evento será “muito seguro”. Ele faz referência ao trabalho realizado quatro anos atrás no Rio de Janeiro. “Assim como no Rio eles conseguiram controlar seus problemas, nós também vamos conseguir”, afirma, numa comparação entre o narcotráfico mexicano e o carioca.

O México tem a história a seu favor. O país conta com uma grande experiência na realização de eventos esportivos de grande porte. É a terceira vez que sedia os Jogos Pan-Americanos, mas pela primeira vez o evento não ocorrerá na capital. Os mexicanos também organizaram os Jogos Olímpicos, em 1968, e a Copa do Mundo duas vezes – em 1970 e 1986. Trazem na bagagem momentos de desafios diferentes dos atuais, mas não pouco turbulentos.

Os Jogos de 1968 aconteceram em meio a um levante de jovens e intelectuais que seguia a onda mundial de protestos. Dez dias antes da abertura, mais de 60 estudantes foram assassinados pelas Forças Armadas mexicanas. Na Copa de 1970, o México estava sob o manto da “Guerra Suja”, como ficou conhecida a perseguição do governo da época contra militantes de esquerda, período em que centenas foram presos, torturados e assassinados.

Hoje, a guerra é outra, e o cenário bélico preocupa. Mas Guadalajara, a única cidade a se candidatar a sede dos Jogos Pan-Americanos de 2011, parece não se arrepender. Segundo um estudo da Universidade Iberoamericana da Cidade do México e da Universidade Estadual da Califórnia, a entrada de dinheiro na economia do Estado de Jalisco, onde está Guadalajara, será equivalente a quatro vezes o valor total das exportações de tequila em 2010 (cerca de US$ 750 milhões) – seu insumo mais importante. Entre as estimativas econômicas, o estudo mostra que o turismo, inflado pelo evento, alcançará mais de US$ 110 milhões, dos quais US$ 85,6 milhões corresponderiam a turistas estrangeiros e US$ 24,8 milhões aos nacionais.

Apesar do atraso em parte das obras – o estádio de atletismo foi o último a levantar paredes e só tem 85% de seu projeto concluído –, a organização está animada com o interesse pelo Pan-Americano. Os ingressos para a cerimônia de abertura já se esgotaram. Das 700 mil entradas para os Jogos, 300 mil estão vendidas – 250 mil são para as partidas de futebol. A violência no país ainda pode afastar o público do evento? Andrés Labán, responsável pelas vendas de ingressos, segue otimista. “Tivemos medo no início, mas as bilheterias demonstram que não.

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