FAB ignora principal rota aérea de tráfico de cocaína

Bernardo Miranda
O Tempo

Mesmo após a Polícia Federal (PF) identificar em menos de dois anos sete aviões com grandes quantidades de pasta-base de cocaína e apreender mais de cinco toneladas da droga no Triângulo Mineiro, a Aeronáutica desconhece que o local seja alvo de tráfico aéreo e não tem nenhum planejamento de aumento do controle na região.

Por outro lado, a PF tem dois drones (aviões não tripulados) que poderiam ajudar no monitoramento, mas enfrentam problemas burocráticos e atuam em operações esporádicas apenas na fronteira do Brasil com o Paraguai.

Essa falha no monitoramento do tráfego aéreo é que torna o tráfico de cocaína por avião até o Triângulo um crime altamente lucrativo e de baixo risco. Como o transporte é feito por aviões de pequeno porte que voam em baixa altitude, eles não são captados por radares. A deficiência é admitida pela própria Força Aérea Brasileira (FAB), que, em nota, afirmou ter dificuldades para identificar “aviões sem plano de voo e sem contato com qualquer órgão de controle, decolando e pousando em pistas clandestinas”.

Sem esse controle, as apreensões de aviões com drogas são feitas somente quando as investigações da PF conseguem identificar quando e onde as aeronaves vão pousar. Em quase dois anos, isso ocorreu por seis vezes, mas a estimativa da própria PF é que pelo menos cem aviões pousem por mês em pistas irregulares do Triângulo Mineiro.

O chefe da PF em Uberlândia, delegado Carlos Henrique D’Ângelo, reclamou que já pediu à FAB um maior monitoramento. “Em uma reunião para discutir a situação, a Força Aérea afirmou que desconhecia a atuação de aeronaves fazendo tráfico de drogas no Triângulo. Mas sempre solicitamos apoio”, revelou o delegado.

A PF compraria 14 drones, em 2010, mas o Tribunal de Contas da União (TCU) abriu processo por irregularidades, e a licitação foi paralisada. À época, apenas duas aeronaves foram entregues para atender o país.

Colaboração. Os drones têm câmeras de alta resolução e infravermelho, que mapeiam a região e identificam aviões suspeitos. Porém, os dois da PF atuam na fronteira e para voar precisam do apoio da Aeronáutica. Isso porque esses aviões não tripulados só podem operar em áreas em que o espaço aéreo esteja fechado, para evitar colisões com aviões tripulados.

Já a Força Área Brasileira conta com quatro drones, que já foram usados em operações da PF no Triângulo. Mas a FAB afirmou desconhecer o uso frequente das pistas do Triângulo para o tráfico.

Saiba mais

– No caminho. Desde 2012, o Triângulo Mineiro se transformou na principal rota área de entrada de cocaína no Brasil, segundo a Polícia Federal.

– Fiscalização. O interesse dos traficantes na região ocorreu depois de um aumento da fiscalização no Oeste paulista e de um maior risco no transporte rodoviário devido à utilização de escâneres pela Polícia Rodoviária Federal.

Anac quer discutir drone

Até o fim deste ano, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) pretende desenvolver uma proposta de regulamentação para o uso de drones. O projeto deve ser alvo de audiência pública e pode ser publicado em 2014.

A Anac informou que para operar os drones é preciso conseguir uma autorização especial na própria agência e eles não podem ser utilizados em área urbana.

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