Alunos de escolas públicas na Maré foram treinados pela Cruz Vermelha para saber como escapar de tiroteios

Wilson Mendes
Jornal Extra
 
Pelo quarto dia consecutivo, aulas foram suspensas, nesta sexta-feira, no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio. Segundo a Secretaria municipal de Educação, um colégio está sem atendimento. A unidade atende 938 alunos. Segundo a Secretaria, as aulas perdidas serão repostas. A rotina de fechamento de escolas na Maré é fruto de uma guerra entre traficantes rivais.
 
Os conflitos já fazem parte do dia a dia de quem mora no conjunto de favelas. Tanto que, para saber como se proteger de tiros, os alunos já haviam até recebido instruções de como proceder Cruz Vermelha Internacional (CICV). A organização é a mesma que atua em locais de conflito, como a Síria e o Afeganistão.
 
Entre as escolas que receberam as visitas, duas que ficaram fechadas na quinta-feira. Elas ficam na área conhecida como Fronteira, entre as favelas Nova Holanda e Baixa do Sapateiro. Professores dizem que há disputa por território e os tiroteios são constantes.
 
– Os agentes (da CICV) falaram coisas importantes aos alunos em sala e distribuíram panfletos e cartazes. Em algumas escolas houve treinamento – revelou um professor.
 
De fato, com a parceria com a rede estadual, há até o desenvolvimento de planos de contingência, preparados para cada unidade e suas características físicas.
 
– Cada plano é único, pois leva em consideração a comunidade e a escola em si — Stephan Sakalian, chefe de projeto da organização no Rio.
 
Parceria desde 2009
 
Discretamente, a CICV atua em escolas do Rio de Janeiro desde 2009. Há um convênio firmado com a rede estadual, que tem apenas uma unidade na Maré, mas 12 escolas municipais da 4ª Coordenadoria Regional de Ensino (CRE) tiveram 120 profissionais capacitados, em abril do ano passado, para enfrentar os momentos de crise. Esses professores são responsáveis por 12 mil alunos. Dessas escolas, pelo menos cinco ainda receberam visitas dos representantes da Cruz Vermelha Internacional, até o início de 2013.
 
– Como não foi firmado um convênio com a rede municipal, visitamos apenas aquelas que ficam nos locais mais sensíveis da comunidade. São dicas simples, mas importantes em situações que você tem que saber se proteger – explicou Stephan.
 
Além da Maré, a CICV já atuou também no Cantagalo, Pavão-Pavãozinho, Cidade de Deus, Complexo da Maré, Complexo do Alemão, Parada de Lucas, Vigário Geral e Vila Vintém.
 
Dicas da guerrilha
Sinais de perigo – Fogos de artifício, lojas fechadas e ruas vazias são sinônimo de perigo.
Tenha um plano – “Identifique com antecedência um local seguro para se abrigar em caso de emergência”
Pego de surpresa – “Se não é possível achar um local seguro rapidamente, deite-se no chão e arraste-se até um local mais protegido”
Curiosidade mata – “Não seja curioso e não olhe pela janela”, recomenda o cartaz. Outra dica é para não sair do abrigo antes “de ter certeza de que o tiroteio não irá recomeçar”.
Documentos – “Não há lei no Brasil que obrigue, mas para evitar constrangimentos, sempre ande com documentos com foto”

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