Julia Duailibi
A presidente Dilma Rousseff classificou na quinta-feira, 21, de "limpeza humana" os assassinatos de moradores de rua em todo o País e criticou, de maneira indireta, a segurança pública promovida pelos Estados.
"Muitas vezes, o que está ocorrendo é uma limpeza humana nas grandes cidades deste País", afirmou para uma plateia de mais de 500 integrantes de movimentos de moradores de rua e catadores de material reciclável no Sindicato dos Bancários, em São Paulo. Dilma recebeu lista que apontava 142 assassinatos de moradores de rua em 2011.
"Acho importante criar, com os senhores governadores – porque nós não controlamos a polícia dos senhores governadores -, um diálogo para impedir isso", disse Dilma, acompanhada de oito ministros. O encontro com os moradores de rua era evento tradicional na agenda de fim de ano do ex-presidente Lula.
Dilma evocou o pacto federativo para dizer que a segurança nos Estados não é responsabilidade da União. "Neste País, a Constituição define que a União não tem poder sobre municípios, nem sobre Estados, porque o nome do Brasil é ‘República Federativa do Brasil’. Não é uma questão que qualquer presidente pode chegar lá e falar: ‘Está acabado com isso’", declarou.
Críticas. As declarações da presidente sobre a "limpeza humana" foram endossadas depois pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para quem há "visão higienista em muitos lugares do Brasil".
O PT acusa a Prefeitura de São Paulo, administrada por Gilberto Kassab (PSD), de promover políticas higienistas com a população de rua. Entre as críticas, está a construção em viadutos da chamada "rampa antimendigos", ainda na gestão de José Serra na Prefeitura (2005-2006).
A relação do poder público com os moradores de rua e as políticas públicas voltadas para esse segmento da sociedade serão um dos principais temas da eleição municipal de 2012.
Questionado se se referia a São Paulo, Carvalho afirmou: "Não posso dizer isso". Declarou, no entanto, haver uma "tendência" desse tipo de política no Brasil e que as ações voltadas para a Copa não podem ser "pretexto" para a promoção da exclusão de setores da sociedade.
Em seu discurso, Dilma fez avaliação similar. "Eu sei da pressão, até 2014, que as prefeituras terão. De fato, elas terão uma grande pressão sobre elas, mas é por isso que este momento exige que a gente discuta isso."
O pré-candidato do PT à Prefeitura, ministro Fernando Haddad (Educação), presente do encontro, disse que Dilma fez uma "interpretação correta" do problema em seu discurso e que a presidente estava "impressionada" com o número de mortes entre a população que vive na rua.