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“As Forças Armadas estão prontas”, diz general sobre a Copa

Durante cada jogo da Copa do Mundo no Beira-Rio, pelo menos dois caças e um avião-radar cruzarão os céus de Porto Alegre. A artilharia antiaérea estará pronta, embarcações guarnecerão o Guaíba, em uma operação que poderá mobilizar 3,6 mil militares.

A complexa estratégia de defesa, que se repetirá em todas as sedes do Mundial, tem a coordenação do general José Carlos De Nardi, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. Gaúcho de Farroupilha, conselheiro colorado, ele comanda 57 mil militares — entre Exército, Marinha e Aeronáutica —, distribuídos pelo país para garantir uma Copa segura.

Desde 2011 debruçado sobre o Mundial, De Nardi é um dos mentores das ações que envolvem Forças Armadas, Polícia Federal, policiais estaduais e Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Cinco estrelas reluzentes no peito e dezenas de condecorações no currículo, o general recebeu Zero Hora com o chimarrão servido para uma entrevista em seu gabinete, no Ministério da Defesa, em Brasília. Confira os principais trechos:

O Brasil tem condições de realizar a Copa com segurança?

Com a experiência adquirida na Rio+20, na Copa das Confederações e na visita do Papa (Jornada Mundial da Juventude), creio que teremos uma Copa do Mundo tranquila. A segurança pública e a defesa estão em boas condições. A preparação começou em 2011, em um triunvirato que inclui Casa Civil, Ministério da Defesa e Ministério da Justiça. Temos 57 mil homens treinados e mobilizados para Copa.

Somos um país sem histórico de atos terroristas. Algo tira o sono do senhor?

Acho difícil uma ação terrorista, o Brasil é um país amigo, um país de paz, não tem grandes dificuldades com outras nações. O que me preocupa é o lobo solitário, esse ninguém pode detectar.

O que seria um lobo solitário?

É o caso da Maratona de Boston, algum maluco. Não tem serviço secreto que possa detectar. Essa é a preocupação maior. A Abin tem feito relatórios muito positivos, no sentido de que é difícil que ocorra algo de grande porte. Agora, as Forças Armadas tem de estar preparadas.

A defesa preparou ações especiais contra o terrorismo?

No estádio a segurança é privada, é da Fifa. Ninguém vai ver árbitro deixando o campo escoltado por escudos da polícia militar. Teremos no estádio um pelotão especial e homens treinados em ações contra terrorismo e ameaças químicas, todos escondidos. Fora do estádio, as polícias militares farão a segurança, com média de 2 mil militares das forças de contingência próximos, prontos para entrar em ação se for necessário.

Qual o aparato de defesa no Beira-Rio?

Além das forças de contingências, haverá militares guarnecendo estruturas estratégicas, como redes de telefonia, energia e água. Estarão espalhados por Porto Alegre. Durante cada jogo no Gigante, pelo menos, dois caças vão voar sobre o estádio e um avião-radar vai estar acima deles, para captar ameaças. Ainda teremos helicópteros no solo, prontos para decolar. A Marinha também vai guarnecer o Guaíba.

As manifestações preocupam?

As manifestações ficam sob responsabilidade da segurança pública, com as polícias militares nos Estados. As Forças Armadas estão treinadas, haverá forças de contingência, mas o emprego de militares só acontecerá se o governador solicitar à presidente e ela autorizar.

Mas as polícias militares têm condições de garantir a segurança?

As polícias militares estão tão especializadas que, na Copa das Confederações, não tivemos nenhuma tropa federal atuando contra distúrbio, e acredito que não teremos agora. De qualquer maneira, as Forças Armadas estão prontas.

Na Copa das Confederações ocorreram confrontos fora dos estádios.

Assisti quase todos os jogos da Copa das Confederações, entrou no estádio é a maior tranquilidade, o pessoal vai para ver jogo. Não aconteceu nada no interior dos estádios, a baderna era fora. Nossa preocupação é com 15 Estados, porque, além das 12 sedes, há centros de treinamento no Espírito Santo, Alagoas e Sergipe.

Os governadores terão auxílio para definir o pedido de reforços?

Sim, e a resposta precisa ser rápida. Criamos centros de coordenação de defesa nas 12 cidades-sede, comandados por nove generais, dois almirantes e um brigadeiro. Juntos com os secretários de segurança estaduais e a Polícia Federal, eles tomarão decisões e darão auxílio aos governadores.

Os responsáveis nas sedes ficarão nos estádios?

Na Copa das Confederações, estava pegando fogo lá fora e teve secretário de segurança dentro de estádio, dizendo que estava tudo bem. Agora, é uma determinação: os responsáveis pela segurança e defesa nas sedes vão ver os jogos reunidos em centros de operações. Já disse para o Michels (Airton, secretário de segurança gaúcho) comprar uma boa televisão, porque ele não vai assistir jogos no estádio.

Em quais áreas os militares atuarão?

Há uma divisão de tarefas. As Forças Armadas vão cuidar de diversos eixos, como defesa do espaço aéreo, segurança cibernética e defesa de estruturas estratégicas. Se for preciso atuar em outra área, como portos e aeroportos, estaremos prontos.

Haverá operações nas fronteiras?

Já está em andamento a Operação Ágata, que patrulha toda faixa de fronteira do Brasil para inibir a entrada de drogas e armamentos. No Rio Grande do Sul, em vésperas de jogos, a ideia é que a Brigada Militar faças barreiras para ônibus nas cidades de fronteira. Intensificamos inspeções em minas de explosivos, para aumentar o controle dos depósitos. O Rio Grande do Sul é um Estado com histórico de ataques a banco no Interior.

Alguns jogos demandam cuidados extras?

Com base em trabalho de inteligência, montamos um mapa de jogos de risco, mas não posso revelar a lista. Jogos de países como Estados Unidos sempre geram cuidados especiais.

Jogadores badalados, como Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, terão segurança especial?

Aparato VIP só para o presidente e o secretário da Fifa (Joseph Blatter e Jerome Valcke) e chefes de Estado. As delegações terão segurança total. Se algum jogador quiser ir para noite, vai ter que tratar com o chefe da sua delegação.

Para Messi em Porto Alegre, por exemplo, não haverá reforço na segurança?

Pela determinação da Fifa, cada seleção chega à cidade do jogo 48 horas antes da partida e sai em até 24. Cada hotel de delegação terá um centro pequeno de operações, com um delegado. O tamanho do aparato depende da decisão do chefe da delegação argentina e do centro em Porto Alegre.

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