Forças lideradas pela Rússia concluem retirada do Cazaquistão

As forças armadas russas e seus aliados concluíram nesta quarta-feira (19) sua retirada do Cazaquistão, após sua mobilização em apoio ao governo do país da Ásia Central, ameaçado no início de janeiro por violentos distúrbios.

Mais de 2.000 soldados foram enviados para a ex-república soviética a pedido do presidente Kassym-Jomart Tokayev, após distúrbios que não se viam desde a independência do país em 1991.

No início de janeiro, as manifestações contra o aumento dos preços da energia degeneraram em tumultos e em uma forte repressão, que deixou 225 mortos, centenas de feridos e pelo menos 12.000 detidos.

"A operação de manutenção da paz (…) no território da República do Cazaquistão terminou", declarou Andrei Serdyukov, chefe da missão da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), uma aliança militar liderada por Moscou que interveio a pedido do governo cazaque.

O Ministério russo da Defesa especificou que "quatro aviões russos de transporte de tropas com soldados decolaram dos aeroportos de Nur Sultan e Almaty", no Cazaquistão.

Esses aviões "transportam as últimas unidades" e seus líderes, segundo o ministério.

As tropas não participaram dos confrontos entre os manifestantes e as forças cazaques, mas seu envio significou o apoio político e militar da Rússia de Vladimir Putin ao regime cazaque.

Tokayev destituiu seu ministro da Defesa, Murat Bekhtanov, dizendo que ele não "mostrou as qualidades de liderança necessárias", o que obrigou o Cazaquistão a "pedir ajuda externa".

O estado de emergência estabelecido no país após as manifestações foi levantado nesta quarta-feira. O porta-voz presidencial, Berik Ouali, escreveu no Facebook que "a unidade e a integridade do povo, as forças de ordem e o Exército" restauraram a ordem no país.

As autoridades locais acusaram "terroristas" treinados no exterior de organizar esses distúrbios, o que possibilitou solicitar essa ajuda à OTSC. Além de ser liderada pela Rússia, a aliança inclui Armênia, Belarus, Tadjiquistão, Quirguistão e Cazaquistão.

Implantado em 6 de janeiro, o contingente estava composto por 2.030 militares russos, bielorrussos, armênios, tadjiques e quirguizes. Sua retirada começou em 13 de janeiro.

Disputa pelo poder?

Em Almaty, a maior cidade do país, jornalistas da AFP notaram nesta quarta-feira que a polícia ainda bloqueava o acesso a várias ruas centrais, depois que um grupo de oposição proibido convocou um protesto.

Os acontecimentos no Cazaquistão permanecem pouco claros, com sinais de uma disputa interna pelo poder na alta cúpula.

Na terça-feira, o influente ex-presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, de 81 anos, afirmou, em um vídeo em que apareceu pela primeira vez desde os distúrbios, que era um "aposentado" e negou qualquer conflito com seu sucessor.

Nazarbayev garantiu que Tokayev, a quem entregou a presidência em 2019, "tinha todos os poderes". "Portanto, não há conflito ou confronto dentro da elite", acrescentou, denunciando "rumores infundados".

A raiva dos manifestantes foi dirigida em particular a Nazarbayev, acusado de ter fomentado a corrupção nesta ex-república soviética na Ásia Central. Ele se manteve no poder por quase três décadas.

Após sua saída da presidência em 2019, Nazarbayev manteve um papel influente na política de seu país, reivindicando o título de Elbassy, "chefe da Nação" em cazaque, e mantendo a chefia do influente Conselho de Segurança.

Questionado sobre o reaparecimento de Nazarbayev, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse nesta quarta-feira que a Rússia não interferiria nos "assuntos internos do Cazaquistão" e que Putin mantinha relações "muito cordiais" com seu homólogo Tokayev e com seu antecessor.

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