Putin alerta sobre nova corrida armamentista com os EUA

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quarta-feira (24/10) que a saída dos Estados Unidos do tratado de armas nucleares firmado com Moscou nos tempos da Guerra Fria irá gerar uma nova corrida armamentista e destacou que se novos mísseis americanos foram instalados na Europa o governo russo responderá de maneira simétrica.

Após se reuniu com primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, em Moscou, Putin declarou que a saída dos Estados Unidos do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) é praticamente certa, pois o Congresso americano já teria até disponibilizado recursos para o desenvolvimento de mísseis.

Putin argumentou que o desmantelamento de um sistema global de controle de armas é extremamente perigoso e acrescentou que Moscou está preocupada com o fato dos EUA já terem abandonado o tratado antimísseis e planejarem deixar o INF, o que deixaria em aberto o futuro de um novo Start – que limita o armamento estratégico ofensivo. "Se tudo for desmantelado, então não restará nada em matéria de limitação de armamento. O resultado será uma corrida armamentista", alegou Putin.

O INF – negociado em 1987 pelo então presidente americano, Ronald Reagan, e pelo líder soviético Mikhail Gorbachev – determinou a eliminação de mísseis nucleares e convencionais de curto alcance por ambos os países. O acordo é considerado a pedra fundamental da segurança europeia.

No domingo, o presidente americano, Donald Trump, anunciou que os EUA vão se retirar do pacto e justificou a decisão alegando que a Rússia viola o tratado. Putin afirmou ainda que, se os EUA abandonarem o INF e colocarem mais mísseis na Europa, a resposta de Moscou será rápida e efetiva. "Se forem instalados na Europa, então, nós deveremos responder de maneira simétrica", acrescentou.

O presidente advertiu também que "os países europeus que aceitarem isso, se chegar a esse ponto, devem entender que colocarão em perigo o seu próprio território sob a ameaça de um possível ataque de resposta. É algo evidente". Apesar das ameaças, Putin insistiu que não vê "nenhum motivo" para colocar o continente em uma situação de "tão alto grau de periculosidade", já que, neste caso, isto seria um retorno à situação dos anos 1980, quando os mísseis americanos de alcance médio Pershing posicionados na Europa podiam atingir os pontos vitais da extinta União Soviética em apenas alguns minutos.

Putin voltou a negar que Moscou esteja violando o tratado INF e considerou que essas acusações são uma "desculpa" alegada por Washington para justificar sua saída do primeiro tratado de desarmamento da Guerra Fria. Além de lembrar que a Casa Branca nunca apresentou provas de tais violações, Putin garantiu que os EUA foram o primeiro a infringir o acordo ao colocar na Romênia elementos estratégicos do escudo antimísseis como o sistema de combate Aegis. S

egundo o presidente russo, "em questão de horas" tais sistemas podem passar de um armamento defensivo para ofensivo, apenas com uma modificação em seu software. Em seguida, Putin manifestou seu desejo de abordar esse assunto com Trump, em 11 de novembro em Paris, onde ambos se reunirão nos atos comemorativos do centenário do fim da Primeira Guerra Mundial. "Estamos dispostos a trabalhar com nossos sócios americanos sem qualquer tipo de histeria".

Ameaças americanas

Nos últimos dias, Trump comentou em dois momentos que os EUA planejam deixar o INF e aumentar seu potencial nuclear se Rússia e China não atenderem às suas exigências. A China não é signatária do tratado INF e, portanto, pode fabricar livremente armas nucleares de médio alcance.

Sobre essa questão, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, garantiu na terça-feira em entrevista coletiva, depois de se reunir com Putin, que Washington anunciará "no devido momento" a saída do INF, um tratado que ele tachou de "obsoleto".

O INF foi o primeiro acordo para reduzir os arsenais nucleares e que levou à eliminação em 1991 de todos os mísseis balísticos e de cruzeiro de médio e curto alcance de ambas as potências, um passo essencial para pôr fim às tensões da Guerra Fria. As tensões entre Estados Unidos e Rússia vêm aumentando em meio a uma série de acusações que Moscou interferiu nas eleições presidenciais americanas de 2016.

Os dois países também divergem quanto ao apoio do Kremlin ao governo sírio na guerra civil do país e quanto ao papel russo no conflito na Ucrânia.

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