Minha cidade é a Berlim da nova Guerra Fria, diz ativista de Hong Kong

Comparando os desafios dos manifestantes pró-democracia de Kong Hong com o papel de Berlim durante a Guerra Fria, o ativista Joshua Wong disse, na capital alemã, que a sua cidade agora é um bastião entre o mundo livre e a “ditadura da China”.

O ativista de 22 anos, que participa de um evento que celebrou aqueles que lutam por direitos humanos ao redor do mundo, prometeu que os manifestantes não seriam desencorajados pela decisão do governo municipal de derrubar a contestada nova lei de extradição.

“Se estamos em uma nova Guerra Fria, Hong Kong é a nova Berlim”, disse, muito próximo ao Muro de Berlim, no terraço do prédio Reichstag, que por décadas ocupou a terra de ninguém entre a comunista Berlim Oriental e a parte ocidental e capitalista da cidade.

Hong Kong está em convulsão há meses, desde que o governo anunciou tentativas de facilitar a extradição de suspeitos para a China, uma medida vista como o prelúdio para deixar a região autônoma e plural mais em linha com o continente. Wong, líder do movimento pró-democracia Demosisto, tornou-se um rosto proeminente para os manifestantes.

“Pedimos que o mundo livre se junte a nós na resistência ao regime autocrático chinês”, acrescentou, descrevendo o líder chinês Xi Jinping, como “não um presidente, mas um imperador”.

Estudantes de Hong Kong formam correntes humanas em protesto contra o governo

Centenas de alunos uniformizados, muitos usando máscaras, formaram correntes humanas em bairros de toda Hong Kong, nesta segunda-feira, em apoio a manifestantes contra o governo, após mais um final de semana de confrontos na cidade sob controle chinês.

A polícia disse ter prendido 157 pessoas nos três dias anteriores, sendo 125 homens e 32 mulheres de 14 a 63 anos, elevando o total de prisões a mais de 1.300. A ex-colônia britânica enfrenta sua primeira recessão em uma década, já que os protestos estão afastando turistas e afetando as vendas do varejo em um dos destinos de turismo de consumo mais populares do mundo.

A chegada de turistas recuou 40% em agosto na comparação anual, disse Paul Chan, secretário de Finanças da cidade — os confrontos contínuos têm interditado ruas e paralisado partes da cidade, e os transtornos em seu aeroporto internacional também afetaram a indústria turística.

“O mais preocupante é que o caminho adiante não melhorará facilmente”, disse Chan em seu blog no domingo, observando que alguns hotéis viram a ocupação despencar até 70%.

Ativistas atearam incêndios na rua e vandalizaram uma estação da Ferrovia de Trânsito em Massa (MTR) no principal distrito comercial de Central no domingo, depois de milhares protestarem pacificamente diante do consulado dos Estados Unidos, pedindo ajuda para levar democracia à região administrativa especial.

Os estudantes, que empunhavam pôsteres com as cinco exigências dos manifestantes ao governo, pediram que as autoridades cumpram as promessas de liberdade, direitos humanos e Estado de Direito que foram feitas quando o Reino Unido devolveu Hong Kong ao controle chinês em 1997.

Em uma aparição rara, a líder de Hong Kong, Carrie Lam, caminhou pelo distrito comercial com o secretário de Transporte e Habitação, Frank Chan, e autoridades do MTR para inspecionar a estação danificada, onde conversou com funcionários e usuários.

Líder de Hong Kong alerta para interferência e escalada da violência


A interferência de Parlamentos estrangeiros nos assuntos de Hong Kong é profundamente lamentável, disse a líder da cidade controlada pela China, Carriem Lam, nesta terça-feira, acrescentando que uma escalada da violência não conseguirá resolver questões sociais no polo financeiro asiático.

Apoiada pelo governo chinês, Lam falava depois de mais um final de semana de confrontos às vezes violentos na ex-colônia britânica. A polícia disparou gás lacrimogêneo durante verdadeiras perseguições de gato e rato com os manifestantes, que em certos momentos destruíram vitrines e atearam fogo nas ruas.

“É extremamente inadequado Parlamentos estrangeiros interferirem nos assuntos internos da HKSAR de qualquer maneira, e não permitiremos que (os Estados Unidos) se tornem participantes dos assuntos da HKSAR”, disse Carrie, referindo-se à cidade pela sigla de região administrativa especial da China.

No domingo, milhares de manifestantes protestaram diante do consulado dos EUA, alguns com a bandeira norte-americana, pedindo ajuda para levar democracia a Hong Kong.

Os manifestantes pediram que o Congresso dos EUA aprove uma legislação que exigiria que os EUA façam uma avaliação anual para determinar se Hong Kong é suficientemente autônoma da China continental para manter benefícios comerciais e econômicos dos EUA.

Hong Kong voltou ao controle da China mediante a fórmula “um país, dois sistemas”, que garante liberdades inexistentes na China continental. Mas muitos de seus moradores temem que Pequim esteja erodindo continuamente essa autonomia.

A China nega interferir na cidade, e autoridades chinesas acusaram forças estrangeiras de tentarem prejudicar Pequim provocando caos em Hong Kong. Elas também alertaram forasteiros a não se intrometerem no que classificam como um assunto interno.

Indagada a respeito dos protestos diante do consulado dos EUA e do apelo de Lam para que Parlamentos estrangeiros não interfiram, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Hua Chunying, disse que seu país se opõe resolutamente à interferência de qualquer governo estrangeiro nos assuntos da China.

As manifestações estão abalando a economia de Hong Kong, que está à beira de sua primeira recessão em uma década. A chegada de turistas recuou 40% em agosto na comparação anual.

Em seu primeiro discurso mencionando os tumultos, o bilionário Li Ka-shing exortou os líderes políticos a buscarem a paz com os jovens, qualificando-os como “mestres do futuro”.

 

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