DESORDEM NAS RUAS – Infiltrados oficiais

Fabíola Gerbase, Letícia Fernandes, Natanael Damasceno e Renata Leite 
 
Depois de ter causado polêmica com o uso de policiais infiltrados nos protestos pela cidade, a Polícia Militar decidiu oficializar a estratégia. Na manifestação realizada ontem perto da casa do governador Sérgio Cabral, na esquina da orla com a Rua Aristides Espínola, no Leblon, um grupo de cem policiais circulava entre os participantes do ato fazendo revistas, especialmente de quem estivesse com mochila, em busca de supostos artefatos. Mas, desta vez, os PMs estavam fardados. Os anifestantes responderam com vigilância – cada revista era acompanhada de perto com o registro feito por vídeos e fotos – e reclamaram da falta de identificação nos coletes usados pelos policiais. Divididos em cinco grupos de 20 homens, os PMs traziam nos coletes apenas uma letra (de A a E para cada grupo) e um número (de 1 a 20). Segundo o tenente-coronel Mauro Andrade, que comandava a abordagem, não houve tempo para preparar a identificação dos coletes. 
 
– O objetivo é patrulhar dentro das manifestações para ser seletivo. Quando o Batalhão de Choque atua, não consegue fazer essa separação. Estamos tentando nos adaptar. A corporação fez um estudo de caso e observou uma lacuna no controle da multidão – disse o tenente-coronel. 
 
Andrade informou ainda que, em caso de problema com algum PM, é possível procurar a Corregedoria da Polícia Militar e informar a letra e o número da identificação, suficientes para se chegar ao nome do policial. O vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), Ronaldo Cramer, no entanto, afirma que a falta de identificação viola a Constituição do estado: 
 
– Ainda não fui informado sobre isso pelos representantes da OAB que foram ao protesto, mas, se estiver acontecendo, claro que é uma violação, especificamente do artigo 191. Ele exige que o policial, ao abordar um cidadão, se identifique com nome, cargo, posto e local onde está lotado. 
 
Um dos PMs que atuava entre os manifestantes repudiou a truculência policial: 
 
– Eu sou usuário do serviço que presto. Essa nova estratégia é para diminuir a truculência policial, que realmente está inadmissível. 
 
Perto da casa de Cabral, os manifestantes pediram a desmilitarização da polícia e a saída do governador. Foram recolhidos donativos para a família do pedreiro Amarildo Dias de Souza, morador da Rocinha desaparecido desde 14 de julho após ser levado para a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Ele foi lembrado novamente no ato que os manifestantes fizeram em frente à Toulon, depredada no dia 17 de julho. Um manifestante caracterizado como padre encenou uma missa em homenagem aos manequins da loja e lamentou que a depredação tenha tido mais repercussão do que o sumiço de Amarildo. De lá, os manifestantes seguiram para Copacabana pela Avenida General San Martin e pela Rua Prudente de Morais, no sentido oposto ao do trânsito, causando muita retenção. Foi preciso fechar vias e fazer o desvio do tráfego. 
 
Até Copacabana, não houve confronto. No trajeto, o ato ganhou adeptos e reuniu mais de 500 pessoas. Um homem com uma faca foi detido. 

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