Logística precisa assegura vacinação em terras indígenas

Mariana Alvarenga E Margareth Lourenço

Duas senhoras indígenas enfrentaram a forte chuva, protegidas apenas por um retalho de lona, para receber a vacina contra o novo coronavírus, no Polo Base Umariaçu I.  Elas moram ali mesmo, e só precisaram caminhar cerca de 200 metros até as tendas montadas por militares do Exército para receber o imunizante. O que pode parecer facilidade de acesso, na verdade envolveu detalhada operação de logística para que as doses da vacina chegassem até quase a porta dos moradores da longínqua aldeia Umariaçu I, no Alto Solimões, na região do município de Tabatinga, no Amazonas.

A cena ocorreu na terça-feira (19), e teve como testemunhas mais de uma dezena de jornalistas. A convite do Ministério da Defesa, eles acompanharam o começo da vacinação no Alto Solimões. As doses dos imunizantes chegaram até ali em menos de 24h após a liberação pela Anvisa para aplicação do imunizante da Coronavac no Brasil. A carga preciosa saiu de São Paulo, passando por Brasília e Manaus, em aviões da Força Aérea Brasileira, e seguiu por estradas até a localidade em caminhões do Exército.

Ali, no polo base, unidade de saúde da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), militares do 8º Batalhão de Infantaria de Selva (8º BIS), que fica a 10 km da aldeia, montaram tendas para receber idosos e jovens de pele morena, olhos amendoados e cabelos muito lisos, a maioria deles da etnia ticuna. As duas senhoras indígenas juntaram-se ao grupo que já aguardava, depois de se livrarem da lona e enxugaram com as mãos o que puderam do corpo molhado pela chuva. Elas acomodaram-se nas cadeiras protegidas pela tenda e aguardaram a sua vez de receber o imunizante.

O técnico em enfermagem Tarcis Marques, 34 anos, foi o primeiro profissional de saúde a ser vacinado. Ele é da etnia kocama, mora na aldeia Umariaçu I e trabalha no polo base. “Estou dando exemplo para minha população. Quero que todos tomem a vacina para se prevenir contra essa doença, que é fatal”, disse ele, emocionado. Tarcis contou que foi infectado pela Covid-19, passou mal com problemas respiratórios, dores de garganta e de cabeça. “Me curei com remédios tradicionais aqui da região. Agora, chegou a vacina, que é muito importante, é nossa esperança”, completou.

O Coordenador do Distrito Sanitário Especial de Saúde Indígena (DSEI) Alto Solimões, Weydson Pereira, destacou que a ansiedade era grande por aquele momento. “Apesar das especificidades logísticas, vamos possibilitar que a vacina chegue a todas as aldeias”, disse. Ele informou que as vacinas são armazenadas em câmaras de conservação na sala de vacina do posto de saúde. Weyson disse ainda que a meta do Polo Base Umariaçu I é aplicar todas as doses da coronavac no período de 10 dias. O posto recebeu cerca de mil doses, quantidade para imunizar toda a população local acima de 18 anos.

 O Secretário de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto do Ministério da Defesa, Manoel Luiz Narvaz Pafiadache, detalhou o apoio logístico do Ministério da Defesa ao Ministério da Saúde nessa missão. “As aldeias serão atendidas pelas de mais fácil acesso até as mais afastadas. Isso permite que a gente faça todo um trabalho de planejamento com uso de helicóptero”, detalhou.

Ele exemplificou que há aldeias pelo Brasil, como as de etnia xavante, que podem ser acessadas por terra. Porém, outras, no interior da Amazônia, nem mesmo por embarcação é possível alcançá-las. “Nas comunidades de etnia yanomami, em Surucucu, a oeste de Roraima, só é possível chegar por aeronave, então se a SESAI precisar, entraremos com nossos meios fornecendo auxiliando”, ressaltou.

Pafiadache lembrou ainda que o Ministério da Defesa possui expertise em logísticas como essa. Ele citou a Operação Gota, também realizada em parceria com o Ministério da Saúde. Desde 1993, a iniciativa promove a imunização da população em regiões de difícil acesso, com oferta de vacinas como febre amarela, sarampo e meningite.

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