Armando Brasil – PÓS PANDEMIA E O BRASIL

 

Armando Brasil

Tudo aponta para que a pandemia decorrente do corona vírus seja prolongada. Durante os próximos meses não teremos uma vacina.. Além da crise sanitária, o fantasma de uma brutal crise econômica e social paira sobre a sociedade brasileira.  Os setores de serviço foram profundamente afetados. Atividades de entretenimento, de serviços pessoais, de lazer, de esportes, de cultura, a gastronomia, como exemplos, já estão sofrendo mutações profundas.

E pós pandemia não retornarão ao que eram. A isso se soma o aumento do trabalho em casa e do crescimento das atividades de ensino a distância que refletirão no fluxo de transporte de passageiros. Podemos admitir que, como consequência de todos esses fatores, devemos ter um aumento exponencial da taxa de desemprego. Se nada fizermos, teremos milhões de desempregados e de famílias desprovidas de qualquer renda. Um brutal desemprego, se muito não for feito, será inevitável

Exemplo pretérito de crise similar aconteceu em 1929. Tudo indica que a atual crise econômica, decorrente da pandemia, terá uma dimensão maior do que a depressão do inicio dos anos trinta do século passado. Para vencê-la,  parece-me inevitável, tal qual se fez naquela época, o governo terá de realizar investimentos na economia que deverão ir muito além do social.

Este exemplo pretérito me leva a lembrança do economista inglês Keynes. Seu livro de 1936 mostrou-se correto, salvando o capitalismo ao mostrar que a economia de um país não deve ser vista como uma economia doméstica. O Estado Nacional tem a propriedade de emitir moeda, colocar dívida pública, algo que nenhuma família possui.

Assim pode estimular a atividade econômica e inverter a visão familiar presente, a de que a poupança traz o investimento.  Para uma sociedade que tem um Estado o investimento pode gerar a poupança. Como um bom economista, Keynes não trabalhou com previsões, trabalhou com fatos. Os países que estavam melhor lidando com a crise eram a Alemanha, a Suécia e o Brasil. Todos trabalhando fora da ideia de ajustar as despesas aos gastos. Gastando muito acima da sua capacidade de arrecadação.

A Alemanha com sua política de canhão com manteiga que mais adiante detalharemos, a Suécia governada pela social democracia, privilegiando a qualquer custo o gasto social e o Brasil comprando e queimando café para garantir a renda dos cafeicultores. Keynes, simplificando, colocava que a renda resultava do investimento, indexado pela propensão ao consumo. A crise atual, pelo necessário confinamento sanitário, limita a propensão ao consumo praticamente à sobrevivência: a alimentos e a remédios. Resta o investimento que, como Keynes colocava, tem de ser crível em dois aspectos: gerar riqueza e ser garantido e pago.

Keynes, ao observar a Alemanha, defrontou-se com a figura de Hjalmar Schacht, o maior economista prático do século XX, aquele que havia vencido a hiperinflação alemã de 1923 e que nos deu o escopo teórico do Plano Real. Schacht havia assumido o comando da economia alemã após Hitler ter assumido o poder.  Para que o leitor conheça quem foi Hjalmar Schacht, sugiro a leitura do texto “Hjalmar Schacht e a Economia Alemã (1920-1950)“, na Internet, de autoria de Joaquim Miguel Couto e Gilberto Hackl.

Em resumo, Schacht assume o Banco Central a pedido de Hitler e se defronta com a pouca liquidez da dívida alemã. Para ultrapassar esta barreira de captação de recursos pelo Estado alemão, Schacht propõe a criação de uma empresa, cujo capital seria formado pelas principais empresas alemãs. Esta empresa emitiria títulos de dívida, destinados a financiar os investimentos do governo alemão. Estes títulos estariam garantidos por essas empresas, em primeira instância e depois pelo Tesouro alemão. Eles vieram a ser chamados de títulos MEFO, pelo nome da empresa que os emitia. Aos investidores foi dito que estes títulos seriam resgatáveis pelo setor bancário alemão, depois de um certo prazo e teriam uma remuneração de 4 % ao ano, sendo que, também, depois de um certo prazo, os bancos poderiam descontar estes títulos junto ao Caixa do Banco Central Alemão.

Os títulos MEFO tiveram uma ampla receptividade junto aos investidores alemães. Foram responsáveis, entre outros investimentos do governo alemão, pelo amplo programa de infraestrutura rodoviária e pelo rearmamento do país. Um fato interessante foi que muitos destes títulos não eram descontados, pois a sua remuneração proporcionava um bom ganho em uma economia estabilizada. Substituíam de forma adequada o caixa em espécie das empresas pois eram remunerados. Foi responsável pelo término do desemprego na Alemanha, após dois anos de seu lançamento.

Bem que os economistas que adaptaram as ideias de Schacht para vencer a hiperinflação alemã ao Brasil ao elaborar o Plano Real poderiam adaptar as ideais dele, usando os mecanismos do endividamento público para financiar um amplo programa de investimentos em infraestrutura e no setor industrial.

Devem aproveitar a desvalorização recente do dólar, que nos torna de novo competitivos e usar esses recursos para voltar a industrializar o Brasil, nos setores que pós pandemia serão fundamentais para um país ter autonomia e ter soberania: Saúde, Energia, Agroindústria e Defesa.

Este texto foi escrito para que o leitor saiba que há muito mais coisa em economia do que pregam os financistas, que foram atropelados pela pandemia.
 

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