A crise do socialismo europeu pode estar repercutindo no Brasil?


 

André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos,
consultor de agências e órgãos internacionais
em matéria de conflitos de média e baixa intensidade,
especialista em Ciências Penais e Mestrando
em Direito na área de direitos humanos.

A inoperância de governos em proporcionar o bem estar-social a sua população sempre foi, na história humana, um ingrediente potencialmente explosivo. Deu causa a atos de violência, fomentou revoluções populares e, particularmente, foi um campo propício para o surgimento de ideias extremistas assim como da intolerância, transformada em xenofobia. As revoluções francesa no séc. XVIII,  russa no início do séc.XIX e mais recentemente, a 2ª Guerra Mundial e a revolução cubana, podem ser consideradas como  exemplos, incluindo-se, também, o terrorismo internacional, cujos simpatizantes e grupos, são provenientes, em grande parte, de  Estados falidos.

Nestes episódios, a insatisfação popular chegou a seu limite extremo. Carga tributária elevada, desemprego, falência de políticas públicas sociais e de saúde, degradação do poder aquisitivo e constantes crises na economia levaram os povos a  violentas revoltas que marcaram a história.

Para uma parcela significativa destas sociedades, a esperança no sentido de impulsionar melhores condições de vida de suas populações estava centrada no socialismo de Marx, baseado não no individualismo, mas na coletividade como estratégia de desenvolvimento e progresso. E desta forma, muitos países voltaram seus governos e suas políticas para o modelo socialista, como a última fronteira a ser transposta em direção a uma sociedade mais justa e igualitária.

Porém, o cenário que vemos hoje, nada se parece com o ideário perseguido. Especialmente na Europa, o modelo fracassou em sua ideologia oportunizando a mesma conjuntura social e política que antecederam as revoluções de que nos referimos anteriormente. Em países como a Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha, os socialistas perdem terreno para as extremas, que  apresentam-se com um discurso xenófobo, nacionalistas e neonazistas antissemitas e contrários a imigração e ao mantenimento do próprio bloco regional. Hoje, são maioria no Parlamento Europeu.

Este estado de coisas leva-nos a pensar na possibilidade de uma nova configuração da política internacional, um modelo de maior exclusão do que propriamente integrativo. Nele, o   multiculturalismo e o cosmopolitismo, orgulho das democracias ocidentais, pode estar ameaçado por uma nova “cortina de ferro”, baseada em um nacionalismo exacerbado, como na primeira metade do século passado. Sem dúvida, um retrocesso civilizacional.

Um questionamento natural neste momento de crise é em relação ao que teria dado errado no regime socialista nestes países? Seria apenas uma ideologia utópica, como muitos apregoavam ou o processo de globalização econômica inviabilizou-o a curto prazo. São questões que merecem reflexão pois não acredito que alguém tenha as respostas neste momento.

Em relação ao Brasil, a conjuntura é  muito semelhante. O acesso as novas tecnologias da mídia aproximou inexoravelmente a opinião pública  numa espécie de inconsciente coletivo internacional.  Já não basta o paternalismo estatal que caracteriza o país a décadas. As constantes manifestações violentas e a formação de blocos das extremas são potencialmente mitigadores de graves crises governamentais e institucionais na busca de mudanças. E tratar novos problemas com velhas fórmulas assim como está ocorrendo no continente europeu leva a resultados imprevisíveis, especialmente para aqueles que  não possuem uma compreensão mais ampla do  fenômeno que se desenrola, apelando à violência como um caminho mais prático.

Verdadeiramente, o que podemos afirmar, até então, é de que o cenário político internacional mostra-se atualmente com maior incerteza do que a época do esfacelamento da União Soviética, no início da década de 90, momento em que havia esperanças crescentes em um novo modelo civilizacional baseado em liberdades. Se, como defendem alguns especialistas, a história é cíclica, a perspectiva é de tempos difíceis, permeado de crises e talvez, lamentavelmente, novas revoluções.  
 

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