PCC – Em 4 anos, facção cresceu 6 vezes de tamanho fora de SP

Nota DefsaNet

Série especial sobre o PCC publicada na edição de Domingo de O Estado de São Paulo (OESP), 03JUNHO2018.

PCC usa doleiros e já fatura mais de R$ 400 milhões OESP Link

PCC – Em 4 anos, facção cresceu 6 vezes de tamanho fora de SP OESP Link

PCC – Grupo vende 45 mil números de rifa e cobra mensalidade OESP Link

PCC – 1º Brasileiro chefe de um cartel de drogas OESP Link

Não pertence à série, mas leitura recomendada:

Eduardo Fernandes – A Hipótese PCC e a Quinta Coluna da Segurança Pública DefesaNet Link

 

Marcelo Godoy

O Estado de S.Paulo

 

Em quatro anos, o total de integrantes do PCC mapeados pelo censo da organização em outros Estados foi multiplicado por seis. Além de São Paulo, onde o aumento foi quase de 100%, os Estados que concentram o maior número de bandidos inscritos na facção – os chamados batizados – são Paraná e Ceará. Cada um tem mais de 2 mil soldados, número equivalente ao total de integrantes que existia fora do Estado de São Paulo em 2012.

Os números mostram que o crescimento da facção é contínuo. Em 2014, ela tinha 3.261 integrantes em outros Estados; em 2017, já eram 18.538 e, no País, o total chegava a 29.460. De lá para cá, mais 2 mil bandidos se filiaram fora de São Paulo ao grupo, que tem agora – dados de março – 20.448 homens e mulheres em outros Estados. O total no País já ultrapassa a casa dos 30 mil.

Os documentos da inteligência do Ministério Público de São Paulo mostram ainda que no Estado, apesar da repressão sofrida, o grupo passou de 6 mil integrantes em 2012 para 10.922 em 2018. A precisão dos dados é possível por causa da apreensão dos registros da chamada cebola, a mensalidade paga à facção pelos seus integrantes. Ela é gratuita para quem está preso, mas criminoso que está em liberdade deve contribuir com R$ 950.

Rendas

De acordo com o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), o PCC estabeleceu metas para a expansão interestadual.

Para tanto, a facção está promovendo a estruturação do chamado "progresso", que são as fontes de renda da organização: a caixinha, a rifa e o tráfico. É como se a organização desse uma espécie de curso para os novatos que querem entrar no negócio. Como se fosse uma franquia, o grupo fornece ainda droga em consignação para quem vai começar e faz uma pregação sobre sua visão de mundo. É o que Gakiya chama de "fortalecimento da doutrina e da ideologia do crime".

 

Nessa expansão para outros Estados, o PCC enfrentou a resistência de organizações locais, como a Família do Norte (FDN) e o Comando Vermelho, provocando uma guerra no submundo e nas prisões, com conflitos intensos em 11 Estados e moderados, segundo o MPE, em outros seis. Somente no Piauí, em Pernambuco, Alagoas, Goiás, Distrito Federal, Paraná e na Região Sudeste não foram registrados conflitos entre as três facções.

 

No Estado de São Paulo, a organização conta com 1.589 pessoas em liberdade pagando mensalidade. A zona leste é a região que concentra o maior número de membros (500), seguida pela zona sul, com 193. Outros 9.333 integrantes estão no sistema prisional. Para tentar conter a facção, o governo paulista instalou bloqueadores de telefonia celular em 23 penitenciárias. "A facção funciona como uma rede. Ela não é vertical", afirma o pesquisador Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP).

 

Monopólio

 

Para Leandro Piquet Carneiro, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP, o crime organizado, ao contrário do crime comum, não busca uma transferência pontual de renda (o roubo, o estelionato, o furto etc). "O que é típico dessa atividade é a busca de renda monopolista em nichos e espaços. Por isso, o crime organizado é tão violento, pois o seu primeiro desafio é atingir o monopólio nas áreas em que atua."

 

 

 

Para Piquet, a expansão do PCC lança um desafio aos estudiosos, pois essas organizações criminosas só funcionam quando têm uma atuação local, em um pequeno nicho e território, e ficam "fragilizadas à infiltração policial e à detecção quando tentam integração vertical (forma de organização empresarial com uma hierarquia em que cada setor da organização tem uma função distinta), expandindo suas áreas de atuação e negócios". "Isso ocorreu com Pablo Escobar, na Colômbia." No caso do PCC, o grupo expandiu-se para todo o País sem – até agora – se fragilizar.

 

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