Coreia do Norte avança no desenvolvimento de míssil hipersônico

A Coreia do Norte efetuou com sucesso um segundo teste com míssil hipersônico, confirmou nesta quinta-feira (6) a Agência Central de Notícias da Coreia (KCNA, sigla em inglês). Especialistas desconhecem os detalhes da arma testada, mas veem sinais de avanço tecnológico no arsenal militar norte-coreano. Rússia, China, Estados Unidos e Coreia do Norte disputam uma corrida para desenvolver essas armas, que são capazes de desviar de escudos antimísseis e viajam a velocidades muito superiores à do som, dependendo da tecnologia que empregam.

Em setembro passado, o regime comunista de Pyongyang já tinha surpreendido as grandes potências com uma experiência semelhante. No lançamento desta quarta-feira (5), a novidade foi que o míssil estava carregado com uma "ogiva hipersônica deslizante", que "atingiu com precisão um alvo a 700 km de distância", reportou a Agência Central de Notícias da Coreia (KCNA, na sigla em inglês).

O disparo "reconfirmou o controle de voo e a estabilidade do míssil na etapa de voo ativo e avaliou o rendimento da nova técnica de movimento lateral aplicada à ogiva hipersônica", disse a KCNA. Um míssil hipersônico é mais rápido e mais manobrável do que um míssil padrão.

A interceptação desse tipo de objeto pelos sistemas de defesa é considerada mais difícil. Anualmente, os Estados Unidos gastam bilhões de dólares no desenvolvimento de sistemas de defesa capazes de detectar este e outros tipos de armas convencionais e atômicas.

O lançamento norte-coreano também confirmou "a fiabilidade do sistema de bulbo de combustível em condições meteorológicas de inverno", que pode ser interpretado como uma possível referência ao recipiente de combustível líquido.

Este novo sistema elimina a necessidade de carregar os mísseis com um agente propulsor no local de lançamento, como ocorre com os mísseis convencionais movidos a líquido, um processo demorado que dá ao inimigo ampla oportunidade de localizá-los e destruí-los. Dependendo do projeto, os mísseis hipersônicos podem transportar ogivas convencionais ou nucleares.

Ameaça mais séria

Alguns especialistas acreditam que as armas hipersônicas têm benefícios limitados, enquanto outros advertem que se a Coreia do Norte desenvolver totalmente a tecnologia, o país asiático se tornará uma ameaça ainda maior para o mundo. 

Desde que o ditador norte-coreano Kim Jong-un chegou ao poder há uma década, o país avançou rapidamente no desenvolvimento de sua tecnologia militar. Os mísseis hipersônicos estão entre as "principais prioridades" do plano quinquenal da Coreia do Norte, informou a mídia estatal no ano passado.

"Parece que os norte-coreanos identificaram os planadores hipersônicos como uma necessidade militar (provavelmente porque perceberam que pode ser uma solução eficaz de defesa contra antimísseis balísticos)", tuitou Ankit Panda, especialista em estratégias de defesa e arsenal nuclear na região Ásia Pacífico, pesquisador do think tank norte-americano Carnegie Endowment for International Peace.

"Precisaríamos de dados independentes e detalhados para avaliar a eficácia real desses mísseis, mas se levarmos em consideração as duas declarações norte-coreanas sobre o Hwasong-8 e este míssil, este teste parece ter sido melhor do que o de setembro", acrescentou Panda.

Em 2021, além do míssil hipersônico Hwasong-8, Pyongyang disse ter testado com sucesso um novo tipo de míssil balístico mar-solo (SLBM), um míssil de cruzeiro capaz de percorrer longas distâncias e uma arma lançada por um trem.

Condenação internacional

Estados Unidos, Japão e Canadá condenaram o novo teste, ocorrido na quarta-feira.

"Esse lançamento viola múltiplas resoluções do Conselho de Segurança da ONU e representa uma ameaça aos vizinhos da RPDC (República Popular Democrática da Coreia) e à comunidade internacional", disse um porta-voz do Departamento de Estado americano. "Seguimos comprometidos com uma reaproximação diplomática com a RPDC e lhes pedimos que dialoguem", acrescentou.

Nesta quinta, a Alemanha pediu a Pyongyang que "aceite as ofertas de negociações feitas pelos Estados Unidos e pela Coreia do Sul e que inicie negociações sérias sobre o desmantelamento de seus programas nucleares e de mísseis", de acordo com uma declaração do Ministério das Relações Exteriores alemão.

Desde que Joe Biden tomou posse há um ano, os Estados Unidos declararam repetidas vezes que estão dispostos a se reunir com as autoridades norte-coreanas. Mas Pyongyang rejeitou até agora a oferta, acusando Washington de continuar aplicando políticas "hostis". A Coreia do Norte diz que precisa de seu arsenal para se defender contra uma eventual invasão americana.

EUA condenam novos tiros de "provável míssil balístico" da Coreia do Norte

Os Estados Unidos condenaram nesta quarta-feira (5) os tiros de "um projétil não-identificado", lançado pela Coreia do norte no mar do Japão. Segundo as forças armadas sul-coreanas, a arma poderia ser um míssil balístico. Um dos porta-vozes do Departamento de Estado Americano pediu ao governo norte-coreano que retomasse o diálogo com as potências ocidentais.

"Esse tiro viola várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU e representa uma ameaça para os vizinhos da Coreia do Norte e a comunidade internacional", declarou o representante de Washington. "Defendemos uma gestão diplomática da questão e pedimos a retomada com diálogo", acrescentou. Segundo o exército da Coreia do Sul, o país vizinho lançou "provavelmente um míssil balístico" no mar, no leste da península coreana, por volta das 8h10 no horário local (20h10 de terça-feira no horário de Brasília).

O lançamento foi feito da província de Jagang, na fronteira com a China, de acordo com os militares sul-coreanos. "Os serviços secretos sul-coreanos e americanos analisam com atenção a situação para obter mais detalhes", diz o comunicado divulgado pelo chefe de Estado Maior da Coreia do Sul.

O Departamento de Estado Americano também reforçou seu "compromisso" com a Coreia do Sul e o Japão e disse que continuará a proteger os dois países da ameaça norte-coreana. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, e o ministro da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, devem se reunir à distância na quinta-feira (6) com as autoridades japonesas para discutir questões de segurança.

O novo embaixador dos Estados Unidos em Tóquio, Rahm Emanuel, deve participar do encontro. A administração do presidente Joe Biden declarou diversas vezes que está "aberta" a discussões com a Coreia do Norte. Pyongyang rejeitou a oferta até agora, acusando Washington de promover uma política "hostil."

O ditador norte-americano, Kim Jong-un, se encontrou três vezes com o ex-presidente Donald Trump, que fracassou na obtenção de um acordo global para colocar fim ao programa nuclear norte-coreano.

Alcance de 500 quilômetros

Após uma reunião de emergência, o Conselho de Segurança Nacional da Coreia do Sul se disse "preocupado com o lançamento", de acordo com uma nota do gabinete presidencial.

Para o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, "é realmente lamentável que a Coreia do Norte continue lançando mísseis desde o ano passado", disse, observando que seu governo estuda os detalhes da operação, incluindo o número de projéteis lançados.

O porta-voz do governo japonês, Hirozaku Matsuno, informou que, se o artefato "tiver seguido uma órbita normal, deve ter percorrido cerca de 500 quilômetros e caído fora da zona econômica exclusiva do Japão".

Sanções internacionais

Em sua primeira década no poder, o ditador Kim Jong-un priorizou o desenvolvimento nuclear e de armas no país, embora isso tenha levado a diversas sanções internacionais. Apesar de os problemas econômicos do país terem sido agravados pela pandemia do coronavírus, o regime manteve a estratégia militar, realizando uma série de testes entre setembro e outubro de 2021.

Estes testes foram retomados nesta quarta-feira, afirmam os países vizinhos. O lançamento ocorre depois de Kim Jong-un manifestar, na semana passada, em uma reunião de seu partido, seu compromisso de continuar a desenvolver as capacidades militares do país.

Entre setembro e outubro de 2021, o regime norte-coreano anunciou testes bem-sucedidos de mísseis de cruzeiro de longo alcance, mísseis balísticos de um submarino e de um trem, além do que definiu como um teste de míssil hipersônico.

Além das consequências econômicas das sanções internacionais, a Coreia do Norte sofre com o bloqueio autoimposto em suas fronteiras para impedir a entrada do coronavírus. A ONU teme uma crise alimentar sem precedentes no país.

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