Com cúpula entre Xi e Biden, EUA querem mostrar condução responsável de relação com China

Autoridades da Casa Branca estão se preparando para uma reunião virtual entre o presidente Joe Biden e o líder chinês, Xi Jinping, ocasião em que esperam mostrar ao mundo que os EUA podem administrar de maneira responsável a relação entre as duas superpotências rivais, disseram pessoas familiarizadas com o assunto.

As farpas combativas trocadas na diplomacia com a China no início do governo Biden preocuparam aliados, e autoridades dos Estados Unidos acreditam que um engajamento direto com Xi, que consolidou seu poder em Pequim de uma maneira que não era vista desde Mao Tse Tung, seja a melhor maneira de impedir que a relação entre as duas maiores economias do mundo saia dos trilhos e chegue a um conflito.

Dadas as restrições domésticas da China contra a Covid-19 e a relutância de Xi em viajar, duas fontes familiarizadas com o assunto disseram que os EUA buscam uma videoconferência entre Biden e Xi em novembro, embora os planos ainda estejam em discussão.

Uma agenda provavelmente não será acertada até que sejam feitas consultas com aliados, disseram as fontes, incluindo na cúpula do Grupo dos 20 em Roma e em sequência na conferência climática da ONU em Glasgow.

Biden irá comparecer a ambos os fóruns. Xi, que não deixa a China desde o início da pandemia, não deve viajar.

Embora os desafios para o encontro entre Biden e Xi sejam altos –Washington e Pequim estão discutindo em questões que vão das origens da pandemia até a expansão do arsenal nuclear da China– a equipe de Biden até agora está colocando baixas expectativas para os resultados específicos da reunião, e se recusou a dizer o que pode incluir na agenda.

"Ainda estamos planejando os detalhes da reunião virtual bilateral e não há nada para dizer antecipadamente no momento", disse uma fonte sênior do governo.

China recomenda que EUA aja com 'prudência' em Taiwan

A China pediu nesta sexta-feira (22) ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que aja com "prudência", após suas declarações sobre a defesa militar de Taiwan, em caso de invasão por Pequim.

Questionado na quinta-feira (21) sobre a possibilidade de uma intervenção militar americana para socorrer Taiwan, Biden respondeu de maneira afirmativa.

"Sim. Estamos comprometidos com isso", declarou o presidente democrata ao canal CNN, durante um encontro com seus eleitores em Baltimore.

Os comentários de Biden vão na contramão da antiga política americana de "ambiguidade estratégica", com a qual Washington ajudava Taiwan a construir suas defesas, mas sem se comprometer a sair em apoio da ilha.

Taiwan tem um sistema político democrático.

Desde 1945, este pequeno território insular é governado por um regime que se instalou após a vitória dos comunistas na China continental em 1949, na esteira da guerra civil no país asiático.

A "República Popular da China", que tem Pequim como capital e é governada pelo Partido Comunista, considera a ilha uma pequena parte de seu território.

As autoridades chinesas ameaçam usar a força, caso Taipé declare formalmente sua independência.

"Sinais equivocados"

Ao comentar as declarações de Biden, o governo de Pequim pediu ao presidente americano que "não interfira em seus assuntos internos".

"Sobre as questões relacionadas com seus interesses fundamentais, como soberania e integridade territorial, a China não tem espaço para compromissos", afirmou o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Wang Wenbin.

"Pedimos à parte americana (…) para atuar com prudência sobre o tema de Taiwan e se abster de enviar sinais equivocados aos ativistas separatistas taiwaneses para não prejudicar gravemente as relações China-EUA", completou o porta-voz.

Biden fez uma promessa semelhante em agosto, quando declarou que os Estados Unidos assumiram o "compromisso sagrado" de defender os aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Canadá e na Europa, e "o mesmo vale para Japão, Coreia do Sul e Taiwan".

Após as afirmações de quinta-feira do presidente americano, a Casa Branca disse à imprensa que a política a respeito de Taiwan "não mudou".

"Suspeito de que Biden não pretendia anunciar nenhuma mudança", declarou à AFP Richard McGregor, pesquisador do instituto australiano Lowy.

"Ou não se importava com o que estava dizendo ou, talvez, estivesse decidido a adotar deliberadamente um tom mais duro, devido a como Pequim intensificou o assédio militar a Taiwan nos últimos tempos", completou.

Incursões

Ao ser questionado sobre se os Estados Unidos também poderiam enfrentar o desenvolvimento de programas militares na China, Biden também respondeu de maneira afirmativa.

"China, Rússia e o resto do mundo sabem que temos a capacidade militar mais poderosa do mundo", disse o presidente americano.

Ao mesmo tempo, Biden reiterou o desejo de não participar de uma nova Guerra Fria com a China.

Pequim e Washington divergem em muitos temas, mas a questão de Taiwan é considerada, com frequência, como o único problema que provavelmente provocaria um confronto armado.

O próximo embaixador na capital chinesa, Nicholas Burns, destacou na quarta-feira que não é conveniente confiar na China na questão de Taiwan. Nesse sentido, recomendou vender mais armas para esta pequena ilha, de modo a fortalecer sua defesa.

O diplomata, que falou na Comissão de Relações Exteriores do Senado – que deve confirmar sua nomeação -, também denunciou as recentes incursões de aviões chineses na Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ), as quais chamou de "repreensíveis".

ONU: 43 países pedem à China que respeite direitos dos uigures

Quarenta e três países de todos os continentes exigiram nesta quinta-feira (21) que a China "garanta o respeito do Estado de Direito" aos uigures em Xinjiang, onde asseguram que a situação de direitos humanos é "particularmente" preocupante, algo que Pequim nega.

"Instamos a China para que permita o acesso imediato e sem impedimentos a Xinjiang de observadores independentes, entre eles o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos [Acnudh]", disse o embaixador francês na ONU, Nicolas de Rivière, em sua intervenção durante uma reunião virtual da terceira comissão da Assembleia Geral da ONU, especializada em direitos humanos.

"Estamos particularmente preocupados pela situação na região autônoma uigur de Xinjiang", ressaltou o diplomata francês, citando relatos críveis da existência de "campos de reeducação política onde mais de 1 milhão de pessoas estão detidas arbitrariamente".

A declaração conjunta fala de tortura, tratamento cruel, desumano e degradante, esterilização forçada, violência sexual e de gênero, e separação forçada de crianças, voltadas "desproporcionalmente aos uigures e aos membros de outras minorias".

O embaixador chinês na ONU, Zhang Jun, interveio rapidamente na reunião para denunciar e rechaçar o que classificou de "acusações infundadas".

"Xinjiang está desfrutando do desenvolvimento e o povo se emancipa a cada dia e está orgulhoso dos progressos que fez", afirmou o embaixador.

Mais tarde, em uma entrevista coletiva, Zhang afirmou que a China deseja receber uma "amistosa" à região, mas se mostrou contrário a que a comissária da ONU para os Direitos Humanos lidere uma investigação.

O embaixador acusou Estados Unidos, França e Reino Unido de ter um "histórico terrível em termos de direitos humanos".

Em um comunicado, o governo chinês acusou os Estados Unidos de terem executado uma "limpeza étnica desumana" contra os nativos norte-americanos e acusou a França de ter cometido "crimes contra a humanidade" em suas antigas colônias.

Há dois anos, a declaração foi asssinado por 23 países, e um ano depois recebeu o apoio de 39 aos quais se uniram em 2021 Turquia, Esuatini, Portugal e República Tcheca.

Segundo fontes diplomáticas, a China pressiona a cada ano os membros da ONU para dissuadi-los de assinar a declaração, ameaçando não renovar uma missão de paz em determinado país ou impedir a instalação de uma nova embaixada na China para outro.

¹com AFP

 

 

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