Coreia do Norte contorna sanções, diz ONU

Com suntuosas manifestações de massa, a liderança norte-coreana festejou o 69° aniversário de fundação do Estado e o "teste perfeito de uma bomba de hidrogênio". Neste domingo (10/09), o ditador Kim Jong-un foi visto no jornal estatal Rodong Sinmun junto à sua esposa, Ri Sol-ju, num evento de gala para cientistas nucleares.

Os EUA pretendem levar nesta segunda-feira à aprovação do Conselho de Segurança da ONU as sanções mais duras já aplicadas ao país asiático. No entanto, de acordo com um relatório das Nações Unidas divulgado neste fim de semana, a Coreia do Norte consegue cada vez mais contornar as medidas punitivas internacionais impostas ao país – do embargo de armas às sanções financeiras.

De acordo com o documento, a Coreia do Norte conseguiu arrecadar aos menos 270 milhões de dólares com negócios ilícitos. O país isolado continua a exportar "praticamente todos os produtos afetados pelas resoluções das Nações Unidas", apontou o relatório, explicando que isso é possível devido à imposição "relaxada" das sanções, mas também porque o regime "desenvolveu suas táticas de circunvenção", escreveram os oito especialistas que trabalharam no estudo entre fevereiro e agosto de 2017.

Críticas à China

A ONU explica que os parceiros dessas transações são, por um lado, a China, que compra 90% das exportações norte-coreanas, mas também outros países asiáticos, como também a Síria e cada vez mais nações africanas. No passado, Pequim foi acusado repetidamente de não respeitar inteiramente as resoluções da ONU contra a Coreia do Norte. Recentemente, o Império do Meio assegurou, no entanto, o cumprimento completo das medidas punitivas.

Na esteira da violação do embargo de armas, os especialistas da ONU estão investigando Angola, Congo, Eritreia, Moçambique, Namíbia, Uganda e Tanzânia. Além disso, a Coreia do Norte teria cooperado com a Síria em torno de armas convencionais e químicas proibidas, como também em mísseis balísticos. Dois países não mencionados teriam interceptado fornecimentos para o país em guerra civil no Oriente Médio. Damasco ainda não se manifestou sobre as acusações.

As exportações de matérias-primas são a principal fonte de divisas para Pyongyang. Depois que a China suspendeu as importações em fevereiro, o regime as redirecionou para países como o Vietnã e a Malásia. A Coreia do Norte busca "maneiras deliberadamente indiretas de exportar matérias-primas bloqueadas e contornar as sanções", afirmou o relatório da ONU.

Entre essas commodities bloqueadas estão, por exemplo, carvão, ferro e minério de ferro, a não ser que haja uma autorização de exceção. No entanto, tal autorização não existe para o cobre, prata, ouro, zinco e níquel – o que não impediu a China, Índia e Sri Lanka de importá-las da Coreia do Norte.

Pyongyang festeja aniversário de fundação e lançamento de bomba de hidrogênio

Mais armas de destruição em massa

Segundo os especialistas, o regime também consegue contornar as restrições internacionais às transações financeiras. Muitas instituições financeiras norte-coreanas ainda teriam representações no exterior, e muitos bancos estrangeiros ainda estariam disponibilizando seus serviços, de forma voluntária ou despercebida, a Pyongyang, constatou o estudo.

Além disso, funcionários do governo em Pyongyang também participam de "negócios enganosos", abrindo, por exemplo, diversas contas bancárias no exterior em seu nome, no nome de familiares ou de organizações "laranja".

Apesar da "política de sanções mais direcionada na história das Nações Unidas", escreveu o relatório, a Coreia do Norte "fez progressos consideráveis na área de armas de destruição em massa." Em 2017, Pyongyang conseguiu realizar 14 testes de foguetes, dois dos quais foram mísseis balísticos intercontinentais.

Os especialistas da ONU informaram ainda que, dentro do país, o regime promove o projeto de construção de uma instalação de testes nucleares subterrâneos, como também de uma fábrica de enriquecimento de urânio.

O relatório das Nações Unidas foi finalizado antes do lançamento de um míssil norte-coreano que sobrevoou o território japonês, em meados de agosto, como também do teste nuclear no início de setembro.

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Verdades e mitos sobre a dinastia Kim

Família governa a Coreia do Norte desde a fundação do país, há quase sete décadas, com um culto quase divino às personalidades de Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un.

 

Um jovem líder

Kim Il-sung, o primeiro e "eterno" presidente da Coreia do Norte, assumiu o poder em 1948 com o apoio da União Soviética. O calendário oficial do país começa no seu ano de nascimento, 1912, designando-o de "Juche 1", em referência ao nome da ideologia estatal. O primeiro ditador norte-coreano tinha 41 anos ao assinar o armistício que encerrou a Guerra da Coreia (foto).

 

Idolatria

Após a guerra, a máquina de propaganda de Pyongyang trabalhou duro para tecer uma narrativa mítica em torno de Kim Il-sung. A sua infância e o tempo que passou lutando contra as tropas japonesas nos anos 1930 foram enobrecidas para retratá-lo como um gênio político e militar. No congresso partidário de 1980, Kim anunciou que seria sucedido por seu filho, Kim Jong-il.

 

No comando até o fim

Em 1992, Kim Il-sung começou a escrever e publicar sua autobiografia, "Memórias – No transcurso do século." Ao descrever sua infância, o líder norte-coreano afirmou que ao 6 anos participou de sua primeira manifestação contra os japoneses e, aos 8, envolveu-se na luta pela independência. As memórias permaneceram inacabadas com a sua morte, em 1994.

 

Nos passos do pai

Depois de passar alguns anos no primeiro escalão do regime, Kim Jong-il assumiu o poder após a morte do pai. Seus 16 anos de governo foram marcados pela fome e pela crise econômica num país já empobrecido. Mas o culto de personalidade em torno dele e de seu pai, Kim Il-sung, cresceu ainda mais.

 

Nasce uma estrela

Historiadores acreditam que Kim Jong-il nasceu num campo militar no leste da Rússia, provavelmente em 1941. Mas a biografia oficial afirma que o nascimento dele aconteceu na montanha sagrada coreana de Paekdu, exatamente 30 anos após o nascimento de seu pai, em 15 de abril de 1912. Segundo uma lenda, esse nascimento foi abençoado por uma nova estrela e um arco-íris duplo.

 

Problemas familiares

Kim Jong-il teve três filhos e duas filhas com três mulheres, até onde se sabe. Esta foto de 1981 mostra Kim Jong-il sentado ao lado de seu filho Kim Jong-nam, fruto de um caso com a atriz Song Hye-rim (que não aparece na foto). A mulher à esquerda é Song Hye-rang, irmã de Song Hye-rim, e os dois adolescentes são filhos de Song Hye-rang. Kim Jong-nam foi assassinado em 2017.

 

Procurando um sucessor

Em 2009, a mídia ocidental informou que Kim Jong-il havia escolhido seu filho mais novo, Kim Jong-un, para assumir a liderança do regime. Os dois apareceram juntos numa parada militar em 2010, um ano antes da morte de Kim Jong-il.

 

Juntos

Segundo Pyongyang, a morte de Kim Jong-il em 2011 foi marcada por uma série de acontecimentos misteriosos. A mídia estatal relatou que o gelo estalou alto num lago, uma tempestade de neve parou subitamente e o céu ficou vermelho sobre a montanha Paekdu. Depois da morte de Kim Jong-il, uma estátua de 22 metros de altura do ditador foi erguida próxima à de seu pai (esq.) em Pyongyang.

 

Passado misterioso

Kim Jong-un manteve-se fora de foco antes de subir ao poder. Sua idade também é motivo de controvérsia, mas acredita-se que ele tenha nascido entre 1982 e 1984. Ele estudou na Suíça. Em 2013, ele surpreendeu o mundo ao se encontrar com Dennis Rodman, antiga estrela do basquete americano, em Pyongyang.

 

Um novo culto

Como os dois líderes antes dele, Kim Jong-un é tratado como um santo pelo regime estatal totalitário. Em 2015, a mídia sul-coreana reportou sobre um manual escolar que sustentava que o novo líder já sabia dirigir aos 3 anos. Em 2017, foi anunciado pela mídia estatal que um monumento em homenagem a ele seria construído no Monte Paekdu.

 

Um Kim com uma bomba de hidrogênio

Embora Kim tenha chegado ao poder mais jovem e menos conhecido do público que seu pai e seu avô, ele conseguiu manter o controle do poder. O assassinato de seu meio-irmão Kim Jong-nam, em 2017, serviu para cimentar sua reputação externa de ditador impiedoso. O líder norte-coreano também expandiu o arsenal de armas do país.

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