Sisfron terá implantação de mais três fases; Astros será ampliado e rebatizado de Fogos
Daniel Rittner, da CNN Brasil
Brasília 25 Dezembro 2025
Após a entrada em vigência da lei complementar que deixa até R$ 30 bilhões fora do arcabouço fiscal para investimentos em defesa, o Exército Brasileiro espera dobrar seus aportes na modernização da força e está reorganizando sua carteira de projetos estratégicos.
A expectativa do Exército é passar de um orçamento que tem oscilado de R$ 1,2 bilhão a R$ 1,4 bilhão por ano, no âmbito do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), para um volume anual de R$ 3 bilhões no período 2026-2031.
Esse ciclo de seis anos é visto pela cúpula da força terrestre como uma “janela de oportunidade” para tirar o atraso ou acelerar a implantação de programas como o Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras), considerado fundamental para o combate ao narcotráfico e ao contrabando
Apenas duas das nove fases do Sisfron — uma em Dourados (MS) e outra na fronteira amazônica — foram efetivamente colocadas em prática até agora.
O prazo original de entrega do novo sistema era 2021, mas já foi adiado diversas vezes. Hoje, diante da escassez de recursos, a previsão é estar plenamente operacional apenas em 2039.
O Sisfron gera um fluxo contínuo de dados por meio de radares, sensores térmicos e óticos, aeronaves remotamente pilotadas, sensores eletromagnéticos, simuladores e segurança cibernética.
Com os recursos adicionais, o Exército pretende dar novo fôlego à implantação de mais três fases em faixas de fronteira: uma na área de responsabilidade da 1ª Brigada de Infantaria de Selva (fronteira em Roraima), outra nas regiões da 13ª Brigada de Infantaria Motorizada e da 18ª Brigada de Infantaria do Pantanal (em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), a terceira na 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada (Paraná e Santa Catarina).
Centauro
O projeto de modernização de blindados também deve se beneficiar. Depois da incorporação de dois protótipos, neste ano, o Exército vai receber mais 96 veículos Centauro II-BR até 2033.
O contrato com o consórcio Iveco-OTO Melara, no valor total de R$ 5 bilhões, deve ser assinado entre fevereiro (previsão mais otimista) e maio (estimativa conservadora).
Ele abrange não só os blindados em si, mas o offset (compensação tecnológica) e o serviço de logística integrada.
Equipados com canhões de 120 mm, os veículos Centauro têm tração 8×8 e 720 cavalos de potência. Sua blindagem é capaz de lidar com ameaças como minas terrestres, explosivos improvisados e munições cinéticas de alta pressão.
De acordo com informação publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 12 desses blindados — os mais poderosos do gênero na América do Sul — serão posicionados em Roraima, perto da fronteira com a Venezuela.

Centauro II BR disparando durante textes realiuzados no campo de instrução de Siacã, área do Comando Militar do Sul (CMS). O blast mostra o poder do canhão de 120mm da Viatura. Foto CMS
Reorganização
Enquanto isso, haverá uma reorganização geral dos programas estratégicos do Exército, com parte deles sendo fundidos ou reclassificados.
Uma das principais mudanças contempla o programa Astros, que tem como objetivo dotar a força terrestre com um sistema de foguetes de artilharia de longo alcance e elevada precisão.
Esse projeto perdeu tração, nos últimos anos, diante da situação da Avibras. Com sede em Jacareí (SP), a empresa está em recuperação judicial e vinha desenvolvendo um míssil tático de cruzeiro, capaz de atingir um alvo a 300 quilômetros de distância com erro de no máximo nove metros. Para prosseguir, depende de uma solução para o caso Avibras.
Mesmo assim, o Astros será ampliado e rebatizado de Fogos, passando a ter três verticais debaixo de um único guarda-chuva.
O novo Fogos abrangerá o antigo Astros, sistemas de artilharia de campanha e uma nova defesa antiaérea.
Uma encomenda no valor de até R$ 3,4 bilhões deve ser fechada ainda em 2026 para um novo sistema de defesa antiaérea que permitirá à força terrestre incorporar tecnologia inédita na América Latina para a interceptação de drones e mísseis de cruzeiro inimigos.
Outros programas também serão redesenhados. O Lucerna (voltado à inteligência militar) e o OCOP (obtenção de capacidade operacional plena) deixarão de receber o carimbo de estratégicos e passarão a ser setoriais.
Não se trata de um rebaixamento, garantem fontes do Exército, que preferem acentuar a diferença entre as duas classificações.
Os projetos estratégicos buscam a incorporação de novas capacidades pela força terrestre. Já os projetos setoriais têm menos agregação de tecnologia inovadora e se baseiam em modernizações correntes.
Um efeito colateral, no entanto, é que os projetos setoriais deixam de fazer parte do PAC e ficam dependentes do orçamento discricionário do próprio Exército.
Os programas Amazônia Protegida (de melhorias da infraestrutura militar na região amazônica) e Sentinela da Pátria (de novas infraestruturas em todo o território nacional) serão juntados debaixo do mesmo guarda-chuva.
O programa de Defesa Cibernética vai ser ampliado e passará a cobrir também iniciativas relacionadas à inteligência artificial.
O programa de Aviação do Exército, que contempla a compra de 12 helicópteros americanos Black Hawk (entre outras aquisições), permanece da mesma forma.
Força avança em compra de defesa antiaérea; Itália deve fornecer sistema
Intenção é posicionar artilharia em Jundiaí e em Brasília; negociação prevê tecnologia de radares para a Embraer. Negócio deve ser fechado em 2026 e tem valor previsto de até R$ 3,4 bilhões
Daniel Rittner, da CNN Brasil
Brasília
25 Dezembro 2025
O Comando do Exército avançou, nos últimos dias, na compra de um novo sistema de defesa antiaérea que permitirá à força terrestre incorporar tecnologia inédita na América Latina para a interceptação de drones e mísseis de cruzeiro inimigos.
Segundo relatos de fontes militares ao CNN Money, o negócio deve ser fechado em 2026 e tem valor previsto de até R$ 3,4 bilhões – mas ainda pode ser reduzido, dependendo das negociações.
O chefe do Estado-Maior do Exército, general Francisco Humberto Montenegro, assinou neste mês um documento interno que estabelece as “diretrizes de obtenção” do armamento.
Na prática, essas diretrizes trazem pré-requisitos que acabam excluindo do processo as empresas indianas BDL (Bharat Dynamics Limited) e BEL (Bharat Electronics), com quem o Brasil chegou a negociar o fornecimento do sistema de defesa antiaérea Akash.
As diretrizes favorecem uma eventual encomenda à italiana MBDA, que fabrica o sistema Emads (Enhanced Modular Air Defense Solutions), com participação da empresa Leonardo.
É a mesma família de mísseis terra-ar que deverão ser usados pela Marinha nas novas fragatas da Classe Tamandaré, que estão em construção em Itajaí (SC), garantindo a interoperabilidade entre as Forças Armadas.
O Exército se prepara para enviar, nas próximas semanas, um RFP (request for proposal) – uma solicitação formal de proposta, com preços e cronograma de entrega.
Nas etapas anteriores – RFI (request for information) e RFQ (request for quotation) – o Exército chegou a receber até oito propostas. Nessas etapas, entretanto, as ofertas apresentadas não têm caráter vinculante. Na RFP, os fornecedores precisam honrar as informações em caso de encomenda efetiva.
As tratativas com os indianos não foram adiante porque eles queriam vender ao Brasil um sistema de geração anterior ao Akash.
O sistema mais atual, de ponta, tem tecnologia israelense. Segundo fontes, a Índia insistia em negociar um equipamento mais defasado e cuja propriedade intelectual é totalmente própria.

Os componentes do Sistema EMADS (Enhanced Modular Air Defense Solutions), participação das empresas MBDA (França) e Leonardo (Itália)
Por isso, o diálogo foi intensificado com a Itália para uma compra no modelo “governo a governo” (gov-to-gov) – quando dois países negociam diretamente, mesmo que o contrato envolva empresas privadas.
O CNN Money apurou que o Exército já discute internamente onde posicionar geograficamente os novos sistemas de defesa antiaérea e qual será a compensação tecnológica (offset) exigida dos italianos.
Para o offset, a tendência é negociar uma transferência de tecnologia para que a Embraer Defesa & Segurança adquira a capacidade de produzir radares.
Do ponto de vista geográfico, a intenção do Exército é distribuir duas baterias de artilharia – cada uma com 96 mísseis – em três localidades distintas.
Uma ficará no 12º Grupo de Artilharia Antiaérea, em Jundiaí (SP), e outra ficará no 11º Grupo de Artilharia Antiaérea, em Brasília (DF). A terceira deverá ir para a região Norte.
O objetivo é proteger o principal polo econômico do país e a capital federal, além de outro ponto estratégico (no Norte) ainda não completamente definido.
Diante da ameaça crescente de conflitos globais, o Exército busca diminuir uma vulnerabilidade importante. Hoje a capacidade de interceptação aérea com mísseis lançados da superfície não ultrapassa alvos acima de 3 mil metros de altitude.
Ao preencher essa lacuna de defesa, a força terrestre busca não só se preparar para eventuais escaladas militares, mas também aumentar o poder de dissuasão em um cenário internacional cada vez mais hostil.





















