Estaleiros e ensino emperram o pré-sal

Ramona Ordoñez / Bruno Rosa
COLABORARAM Letícia Lins, de Recife, e Danilo Fariello, de Brasília


Dos sete estaleiros do país que vão construir 33 sondas para a Petrobras explorar o pré-sal do petróleo, quatro ainda estão iniciando obras e dois precisam fazer ampliações. Também não foram liberados R$ 6 bilhões de financiamentos públicos. Outro gargalo é a falta de mão de obra especializada, afetada por deficiências do ensino no Brasil. O setor precisa contratar, até 2013, 25 mil pessoas

As encomendas da Petrobras para o pré-sal se transformaram em uma verdadeira corrida contra o tempo. Só para as encomendas das 33 sondas da Petrobras, serão necessários investimentos de ao menos R$ 9,2 bilhões. Do total, cerca de R$ 6 bilhões virão de financiamentos via Fundo da Marinha Mercante – que ainda não foi liberado. Dos sete estaleiros que vão construir as sondas, quatro estão apenas iniciando as obras e dois estão em ampliações, necessárias para poder atender à estatal. O setor enfrenta ainda outro desafio: a falta de qualificação da mão de obra. Segundo o Sinaval, o sindicato do setor, até 2013 serão necessários mais 25 mil trabalhadores nos estaleiros. Hoje, são 59 mil.

A ameaça de atrasos dos estaleiros, uma cadeia de fornecedores ainda em expansão e a falta de mão de obra adequada aparecem como os principais gargalos para o pré-sal, alertam especialistas. O BNDES se mostra preocupado com o cenário, já que os estaleiros existentes não conseguem atender aos pedidos. A entrega das sondas – cada uma leva dois anos para ser construída – deveria começar em junho de 2015.

Cada sonda custa US$ 800 milhões

A Petrobras não assinou contrato com a Sete Brasil e a Ocean Rig para a construção das 26 sondas, cujo resultado da licitação saiu em fevereiro. A previsão é que os documentos sejam finalizados em abril. A Sete Brasil fará 21 sondas e a Ocean Rig, cinco. A Sete Brasil, empresa da qual a Petrobras é sócia, havia vencido licitação anterior para construir sete sondas. Pelo modelo, as duas empresas encomendarão as sondas aos estaleiros e as alugarão para a Petrobras por até 20 anos.

Sem assinar com a Petrobras, a Sete Brasil negocia com os estaleiros. Das 28 sondas, só nove estão contratadas, sendo que sete serão feitas pelo Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Pernambuco, com atraso em todas as obras. Já a Ocean Rig, diz uma fonte, pretende fazer as sondas em seu próprio estaleiro, o Eisa Alagoas, que será construído. A empresa avalia se transfere parte para o Mauá, no Rio. Cada sonda tem custo de US$ 800 milhões.

– Os atrasos de entrega dos navios no EAS são por problemas de formação de mão de obra. Mas os novos estaleiros ficarão prontos a tempo de atender às encomendas – explica Ariovaldo Rocha, presidente do Sinaval.

O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Construção Naval e Offshore (Abenav), Augusto Mendonça, alertou que um dos gargalos do setor é a falta de pessoal. Ele lembrou que há menos de dez anos eram 6 mil empregados:

– Em 2015 teremos de ter pelo menos 100 mil trabalhadores no setor.

Rodrigo Bacellar, superintendente da área de insumos básicos do BNDES, lembra que novos estaleiros são essenciais. Já foi mapeado o financiamento de R$ 33 bilhões para os próximos anos – R$ 15 bilhões para as sondas.

– Os atuais estaleiros não dão conta. É preciso aumentar a capacidade. Há ainda a curva de aprendizado, que é demorada. No Nordeste, não há cultura no setor – diz Bacellar, lembrando que a liberação de dinheiro para as sete sondas do EAS está em análise.

Mesmo que algum estaleiro não consiga construir as sondas a tempo, João Carlos Ferraz, presidente da Sete Brasil, diz que, como contratará seis estaleiros, há redução de risco:

– É pouco provável que todos os estaleiros apresentem problemas ao mesmo tempo. É reconhecido que o EAS enfrenta alguns problemas, mas as evidências que os sócios do estaleiro nos apresentaram nos permitem prever que o ritmo das obras será rapidamente retomado.

A Sete Brasil garante que entregará a primeira sonda à Petrobras até 15 de junho de 2015. Procurada, a estatal não se manifestou.

Além de tocar as obras, os estaleiros negociam a vinda de fornecedores, essencial para atender à política de conteúdo nacional, na faixa dos 60%. É o caso da OSX, de Eike Batista, que assinou com sete fornecedores sua instalação em São João da Barra, no Rio.

– Buscamos fornecedores que têm confiabilidade de entrega. Temos condições de pegar mais sondas. Muitos estão se candidatando sem parceiro tecnológico – avalia Luiz Eduardo Carneiro, presidente da OSX, cuja parceira é a Hyundai.

O Paraguaçu, na Bahia, de Odebrecht, OAS e UTC, deve escolher até o fim deste mês seu parceiro tecnológico. Há conversas com a japonesa Kawasaki e a sul-coreana DSME (Daewoo).

Preocupado com a cadeia de fornecedores, o governo corre. O BNDES quer virar sócio de companhias do segmento, mas não tem nada fechado. O banco pretende emprestar R$ 1,5 bilhão em 2012 para estimular as pequenas e médias empresas do setor. A Secretaria de Desenvolvimento do Estado do Rio quer anunciar em abril o polo de navipeças na Baía de Guanabara.

– Queremos criar um distrito moderno e consolidar o conteúdo fluminense dentro do projeto de conteúdo nacional. E tem que ficar perto do mar, pois há equipamentos, de até 16 metros de altura, que não podem ser transportados por terra – afirma Alexandre Gurgel, diretor da Companhia de Desenvolvimento Industrial.

Empresas do Rio fazem investimentos

Cristiano Prado, gerente de Competitividade Industrial do sistema Firjan, lembra que a cadeia produtiva do setor, com o pré-sal, vai movimentar US$ 400 bilhões até 2020:

— É importante ter esse horizonte de produção para que as empresas se organizem. Muitos estaleiros do Rio podem ajudar os que farão as sondas, já que estão em ampliação e se modernizando. Barra do Furado, em Quissamã, receberá novos estaleiros e consumirá investimentos de R$ 1,2 bilhão.

Nos estaleiros do Rio, há muitos investimentos. Após melhorias feitas em suas instalações, o STX está na fase final da construção de um navio de apoio marítimo e outro de manuseio de âncoras. Cada um tem custo entre US$ 70 milhões e US$ 90 milhões.

Já o Aliança, em Niterói, está aumentando sua capacidade e inaugurou unidade em São Gonçalo de blocos para navios. A empresa planeja investir R$ 1,38 bilhão. O Inhaúma (Ishibras), arrendado pela Petrobras, voltou a funcionar e faz a adaptação do casco P-74, para o pré-sal.

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