US Navy Visita MB – Entrevista Alm Moura Neto e Alm Gary Roughhead

Por Wayne dos Santos Lima
Especialista em Assuntos Militares e Segurança Pública e Privada
Correspondente DefesaNet

 
O DefesaNet marcou presença neste último dia 10 de agosto na cerimônia de condecoração do Almirante Gary Roughhead, Chefe de Operações Navais da US Navy, com a Ordem do Mérito Naval da Marinha do Brasil, ocorrida no 1º Distrito Naval, no centro do Rio de Janeiro.
 
Concedida ainda no Governo Lula, em 2009, tal condecoração visa marcar o momento de uma maior aproximação entre as Marinhas dos dois países – algo que foi mencionado diversas vezes durante os discursos cerimoniais do comandantes das duas Marinhas e em entrevista coletiva, realizada logo após o evento.
 
Quanto a coletiva, algumas declarações bem esclarecedoras foram oferecidas pelo Almirante Gary Roughead da US Navy e o Almirante-de-Esquadra Moura Neto da MB, demonstrando já o grau de cooperação entre as duas forças.
 
Quando perguntado logo de início se os EUA estariam dispostos a cooperar com o Brasil para a segurança da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 e sobre que tipo de auxílio ou cooperação seria, Roughead destacou a importância da segurança dos oceanos e mares, principalmente para os países da região e que, em função da extraordinária relação que as duas Marinhas possuem, a US Navy estaria pronta para oferecer qualquer tipo de suporte, principalmente com informações e inteligência, caso fossem solicitados, contudo, nada ainda havia sido definido por ambos os governos.
 
O Almirante Moura Neto complementou, lembrando que as forças armadas brasileiras já iniciaram suas preparações, não apenas para os eventos de 2014 e 2016, como já incluíram em seu planejamento a Copa das Confederações de 2013, citando como exemplo de preparação a organização dos últimos Jogos Mundiais Militares, realizados no Rio de Janeiro, os quais, ainda segundo o Comandante da MB, teriam sido alvo de elogios de diversas autoridades internacionais.
 
Sobre qual seria a atual política norte-americana para a África e sua visão do papel desempenhado pelos brasileiros naquela região, Roughead afirmou não haver dúvida que a África possui uma importância, não só hoje, mas para o futuro, sendo assim, se torna necessário investir no estreitamento das relações com os países africanos. O Almirante norte-americano lembrou também da importância das relações históricas que o Brasil possui com diversos países daquele continente e que em virtude deste fato nosso país possui uma posição de destaque para a segurança na região.
 
Ainda segundo o Chefe de Operações da US Navy, sob sua gestão, não se mediu esforços para auxiliar as forças armadas dos países africanos, tanto da costa ocidental, quanto da costa oriental a melhorar a qualidade das forças armadas daqueles países através de programas como o “Africa Partneship Station” de forma a permitir que aqueles próprios países pudessem se encarregar da segurança em suas costas marítimas.
 
O Almirante Moura Neto por sua vez, complementou a explicação de seu colega, comunicando que o Brasil participa do programa “Africa Partneship” desde o seu início com observadores brasileiros a bordo dos navios norte-americanos e participará da próxima a ser realizada em 2012.
 
Como não se poderia deixar de perguntar, o Almirante foi questionado por um dos jornalistas sobre os motivos da reativação da 4ª Frota e se ela poderia ser empregada para atuar contra o narcotráfico na região do atlântico sul.
 
O Almirante Roughead inicialmente fez questão de ressaltar que a decisão de se restabelecer a 4ª Frota se trata de uma reorganização administrativa e que a mesma não possui em princípio nenhum meio operacional, os quais, somente serão realocados de outras frotas, em outras partes do mundo na medida em que o(s) problema(s) se apresentar(em), sendo assim, apenas os meios realmente necessários seriam empregados – não significando necessariamente um aumento das forças navais dos EUA na região.
 
Lembrou que os desafios a serem enfrentados no hemisfério ocidental eram bem diferentes dos enfrentados no oriente, sendo assim havia a necessidade de se restruturar as forças navais na região, pensando em enfrentar  ameaças mais ligadas aos crimes transnacionais e a segurança de todos os países de uma forma conjunta. Desta forma a 4ª Frota teria sido pensada por ele, já no início de sua gestão, para oferecer uma solução igualmente conjunta, através de cooperação com os demais países da região de forma a prover a segurança necessária a todos, tornando-se uma espécie de “Quartel General” ou base para tomada de decisões, visando oferecer não apenas proteção armada, mas ajuda humanitária aos países e povos necessitados, vítimas de catástrofes naturais, como o terremoto no Haiti – na ocasião a US Navy enviou o Navio Hospital UNNS Comfort.
 
Ao ser questionado se sabia que naquele mesmo dia estaria sendo lançado ao mar para testes o Porta-Aviões da Marinha Chinesa e se haveria algum tipo de acordo de cooperação entre o Brasil e a China para capacitação dos militares chineses para operar em navios aeródromos, o Almirante Moura Neto respondeu que, sobre aquela nave especificamente, sabia o que a imprensa veiculava, embora tivesse conhecimento de que aquele governo pretendia completar seu poderio naval através da aquisição de um porta-aviões e que de fato chegou a haver um contato preliminar, há cerca de dois anos, pela Marinha Chinesa neste sentido, mas que nada mais foi aprofundado, sendo assim o Comandante brasileiro considerou o assunto “estacionado”, não tendo passado das “tratativas preliminares”.

DefesaNet

Leia a entrevista com o Ministro nelson Jobim, publicada em 13 Maio 2009, que teve ampla repercussão. Tratava de treinamento de oficiais da Marinha do PLA junto com a tripulação do porta-aviões São Paulo.

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Questionados sobre como seria especificamente a cooperação entre a US Navy e a MB durante os eventos esportivos internacionais a serem realizados no Brasil   e se haveria já algo planejado ou decidido, o Almirante Moura Neto afirmou que embora as possibilidades de cooperação sejam reais e quase infinitas, “em face do grande relacionamento que existe entre as duas marinhas” não existe nada ainda de efetivo sobre como se daria esta cooperação.
 
O Almirante Roughead por sua vez fez questão de parabenizar novamente o Brasil por sediar tais eventos e ressaltar que a US Navy estaria disposta a cooperar e auxiliar com o que fosse necessário e solicitado pela Marinha do Brasil, principalmente por se tratar de um país com o qual possuem uma relação de grande amizade.
 
Nosso comandante aproveitou o momento para lembrar de fato a grande relação de amizade que a MB possui com a US Navy, cujas raízes históricas remontam a 1ª Guerra Mundial, tendo sido a única força armada brasileira a enviar efetivo para a Europa e, posteriormente, auxiliando novamente a US Navy na 2ª Guerra Mundial, de forma mais efetiva.
 
O Alm. Moura Neto lembrou também que por ocasião da visita do Presidente dos EUA, Barack Obama ao Brasil, o próprio ofereceu auxílio de seu país no que fosse preciso para prover segurança aos Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo.
 
Questionado sobre sua opinião a respeito da substituição do antigo Ministro da Defesa Nelson Jobim pelo atual Celso Amorim, o Almirante Gary Roughead, gentilmente comunicou que, embora aguardasse uma oportunidade para se encontrar com o novo Ministro brasileiro, por ser um marinheiro, não estaria autorizado a comentar decisões políticas, principalmente de governos de outros países.
 
Mais uma vez o Chefe de Operações da US Navy ressaltou a extraordinária cooperação entre as forças de ambos os países, baseada em um grande respeito mútuo, desta forma, ele entende como um compromisso de sua marinha trabalhar para conduzir a MB  para o futuro, onde a formação das novas gerações dos jovens militares brasileiros seria o norte desta cooperação, através de exercícios conjuntos com a US Navy.
 
Ainda segundo Roughead, tal cooperação se torna cada vez mais necessária na medida em que os EUA reconhecem a importância que os oceanos tem para as nações e igualmente a importância que cada uma destas marinhas possui para seus respectivos países. Sendo assim, ambas as forças devem buscar a cooperação não somente para solucionar os problemas regionais, mas também os que se apresentam a comunidade global.
 
Aproveitando o momento em que o ilustre visitante mencionava a cooperação irrestrita entre as forças, visando inclusive “levar a MB ao futuro”, o DefesaNet questionou sobre em que pé estava o desenvolvimento de duas tecnologias modernas da US Navy, sendo o torpedo MK-48 mod 6 e os Destroyers DDG-1000 classe Zumwalt, e como o Almirante Roughead veria um intercâmbio maior de tecnologias mais sensíveis entre a US Navy e a MB.
 
Visando um melhor esclarecimento da questão o Almirante Moura Neto sugeriu ao visitante que respondesse sobre o novo Destroyer, enquanto ele mesmo responderia com suas considerações a respeito do torpedo.
 
Desta forma o Almirante Roughead explicou que embora o Destroyer DDG-1000 fosse o mais novo navio a ser desenvolvido pela marinha norte-americana sua produção estaria limitada a apenas 3 unidades, sendo então descontinuado e reiniciaram a produção de uma nova classe utilizando o novo Sistema de Direção de Tiro AEGIS, tendo um deles ficado pronto e utilizado em exercícios na última primavera – dando a entender que estes 3 navios transformar-se-iam em demonstradores de tecnologias, as quais seriam empregadas nas classes futura.
 
Quanto a compartilhar as tecnologias mais sensíveis, Roughead destacou que exercícios conjuntos tem sido programados com as duas marinhas de forma a que os oficiais brasileiros tenham conhecimento a respeito do funcionamento de tais sistemas e que tudo dependeria na verdade de definições e acordos futuros, uma vez que ele estaria aberto ao debate, mas que, mais importante que apoiar o incremento tecnológico da MB, em sua opinião, é a capacitação dos jovens que serão o futuro da Marinha do Brasil, permitindo que ambas as forças caminhem juntas.
 
O Almirante Moura Neto por sua vez lembrou que a MB já faz uso do mais novo modelo de torpedo norte-americano, tendo inclusive efetuado 2 disparos de teste com total sucesso e sendo então efetuada a integração dos mesmos com os submarinos brasileiros de forma gradual na medida em que forem ocorrendo as modernizações de meia-vida de todos os 5 submarinos, onde serão substituídos tanto os sistemas de armas (por um da Lockheed Martin) como o próprio armamento.
 
Tanto o Almirante Roughead quanto o Almirante Moura Neto se disseram extremamente satisfeitos com o novo torpedo.
 
Por fim, uma das informações mais importantes oferecidas pelo Almirante Roughead foi a de que estaria abrindo uma linha de negociações entre os Comandantes das duas Forças de Submarinos para discutir um possível intercambio de oficiais brasileiros para operar em seus submarinos nucleares, ajudando a formar uma cultura operacional deste tipo de embarcação, uma vez que o Brasil está prestes a se tornar um dos países operadores desta arma estratégica.
 
Após esta informação crucial o Almirante Moura Neto deu por fim a entrevista ressaltando que todos “os passos estão sendo dados como deve ser feito nas áreas sensíveis”.

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