Navio classe Mistral abre novos horizontes à Marinha de Guerra Russa

Ilia Kramnik

Na França foi lançado à água o navio de desembarque Vladivostok, construído para a Marinha de Guerra russa segundo o projeto francês BPC 160, mais conhecido como Mistral. Na opinião de especialistas, tais vasos de guerra irão reforçar as potencialidades da Marinha de Guerra da Rússia.

O plano conjunto russo-francês visando à construção de quatro navios – dois para a França e dois para a Rússia – foi politizado desde o início. E não podia ter sido de outra maneira. O aspeto político interno dizia respeito, antes de mais, às controvérsias entre os produtores e o Ministério da Defesa quanto à admissibilidade de construir navios do gênero no exterior e à importação de armamentos em geral. O aspeto político externo se referia à colaboração da Rússia com um dos líderes da OTAN num ramo tão importante como a Marinha.

Por ironia do destino, o Mistral se tornou alvo de ataques de ambos os lados: na Rússia, os oponentes do projeto diziam que a compra desses navios enfraqueceria a Marinha e seria um desperdício de recursos financeiros. Fora da Rússia, havia receios de que a aquisição dos Mistral poderia fortalecer a Marinha de Guerra russa, perturbando o equilíbrio de forças entre as partes. Tais declarações eram procedentes da Geórgia que, em 2008, sentiu na sua pele o impacto da Esquadra do Mar Negro durante o conflito georgiano-abkhaze. Tal como dantes, os países bálticos também se mostravam apreensivos pelo fato de verem reforçado o potencial da Marinha russa.

Todavia, o peso político dos partidários do projeto acabou por triunfar. Superados os obstáculos, os trabalhos se iniciaram. O navio principal estava a ser construído através de esforços conjuntos – a parte da popa do Vladivostok ficou a cargo da empresa russa Baltiiski. Convém notar que o volume dos trabalhos executados pela Rússia, tomando em conta a instalação de equipamentos e armas, previsto para o próximo ano, se estima em 20% e no segundo navio Sebastopol, será de 40%.

Hoje em dia, as tropas de desembarque naval contam com navios do projeto 775, construídos na Polônia na década de 70-80 e os barcos soviéticos obsoletos do projeto 1171. Estas embarcações, cujo prazo de serviço já expirou, deixaram de corresponder às exigências de desembarque contemporâneas, tornando-as vulneráveis perante o emprego de meios modernos de defesa costeira. O aniquilamento do navio priva os fuzileiros tanto de um meio de transporte, como de um apoio de fogo eficiente.

O conceito de navio prevê um desembarque combinado: por meio de lanchas e helicópteros. O apoio de fogo se realiza, nesse caso, por helicópteros de combate ou aviões de decolagem e pouso vertical que se estacionam no navio juntamente com os demais meios de transporte. As dimensões sensivelmente maiores não têm muita importância porque o novo navio tem baixa visibilidade, o que impede a sua neutralização por meios convencionais. Para defender o navio contra ataques aéreos, será usada a escolta de navios com sistemas de DAA.

Tais navios modernos, com condições confortáveis para tripulantes e elevada autonomia de marcha, permitem efetuar operações prolongadas em zonas remotas, podendo ser utilizados ainda como os vasos de comando, hoje escassos.

Os países bálticos e a Geórgia não devem ter receios. Os novos navios de desembarque russos, podendo cobrir a distância maior a 10000 milhas marítimas, foram criados para outros objetivos. Mas em conflitos semelhantes ao sírio ou líbio podem desempenhar um papel significativo. Um batalhão de marines, com viaturas blindadas ligeiras e lança-granadas, apoiado por 15 helicópteros e um destacamento de navios de guerra, munidos de mísseis de cruzeiro, não poderá, claro, desempenhar um papel-chave no decurso de uma guerra de larga escala. Mas, em zonas de conflitos regionais, poderá vir a desempenhar um importante papel.

Tradução: Voz da Rússia

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