Desminagem humanitária: um esforço conjunto por dignidade e esperança

Conheça a atuação dos Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil na Colômbia

Por Primeiro-Tenente (T) Yan Carlôto – Brasília, DF

O dano causado pelo acionamento de um artefato explosivo não pode ser menosprezado. Em uma fração de segundo essa ameaça, antes invisível, pode alterar completamente o curso de uma vida ou mesmo encerrá-la de forma súbita. Na Colômbia, cerca de 12.409 pessoas foram vítimas de minas antipessoal (MAP) e munições não detonadas em 498 municípios, segundo dados do governo daquele país. Somente em 2024, já foram registradas sete ocorrências dessa natureza.

Resultado de mais de 60 anos de conflito com forças paramilitares no país, as minas deixaram uma marca perene na população colombiana. Cerca de 81% das vítimas ficaram feridas e 19% morreram em detonações, ou seja, aproximadamente 1 em cada 5 casos resulta em óbito. Cerca de 59% dos afetados foram membros das forças de segurança do país, mas essa realidade afeta até mesmo aqueles que não estão engajados no conflito. Dentre os civis afetados, 26% correspondem a crianças e adolescentes.

O Capitão de Fragata (Fuzileiro Naval) Leonardo Garcia foi testemunha da realidade causada pelas MAP na Colômbia. “No meu local de trabalho eu via, todos os dias, os jovens mutilados chegarem no hospital da Base militar e pude constatar todo o esforço de reabilitação para que eles usassem próteses mecânicas. Eu vi isso tudo de perto. O quanto isso afeta uma população é um problema que os brasileiros conhecem pouco, mas é uma realidade daquele país.” Relata o oficial que, em 2015, participou de uma missão de monitores da atividade de Desminagem Humanitária.

Desminagem Humanitária

De acordo com as Normas Internacionais para as Atividades relativas às Minas (IMAS), o termo “Desminagem Humanitária” se refere às “atividades que levam à remoção de perigos de material bélico explosivo, incluindo técnicas de levantamento, mapeamento, desminagem, marcação, documentação pós-desminagem, ligação com a comunidade na ação contra minas e entrega de terras desminadas para uso. A desminagem pode ser realizada por diferentes tipos de organizações, tais como ONG, empresas comerciais, equipes nacionais de ação contra minas ou unidades militares”.

Em 1997, mais de 90 países, incluindo o Brasil, assinaram a “Convenção sobre a proibição de minas antipessoal”, conhecida como “Convenção de Ottawa”, um acordo internacional que proíbe, totalmente, o desenvolvimento, a produção, o armazenamento, a transferência e o emprego das MAP e exige a sua total destruição.

A contribuição brasileira é um esforço em ajudar a reverter esse quadro. Inicialmente, o Brasil enviava representantes para o Grupo de Monitores Interamericanos (GMI), organização da Junta Interamericana de Defesa (JID) e da Organização dos Estados Americanos (OEA), que prestava assessoramento técnico e de capacitação aos colombianos.

Em 2014, a Armada da Colômbia solicitou à Marinha do Brasil (MB) que enviasse Fuzileiros Navais para criar os cursos e a documentação necessária para que pudesse trabalhar como uma organização de Desminagem Humanitária independente do Exército colombiano. Assim, poderiam absorver o conhecimento e a experiência de nossos militares nessas atividades. Para isso, a MB enviou, em 2015, dois oficiais para o “Centro Internacional de Entrenameinto Anfíbio”.

O êxito alcançado no relacionamento técnico-profissional estabelecido entre os militares dos dois países fomentou o pedido para o envio de um efetivo maior de militares do Brasil, inclusive do Exército Brasileiro, para o desempenho de funções de instrutoria e, também, de assessoria.

Os resultados dessa cooperação despertaram o interesse em uma parceria a nível do Ministério da Defesa (MD). Dessa forma, aconteceu um progressivo aumento do contingente da missão e, em 2018, foi criada a Missão de Instrutores e Assessores em Desminagem Humanitária (MIADH) que, sob a égide do MD, atua em grande parcela do território colombiano.

Atualmente, a Marinha permanece com apoio, via OEA, no GMI e diretamente entre os países, via MD, na MIADH. A Força Naval conta com três militares no GMI e cinco na MIADH.  De forma inédita, os oficiais da MB passaram a chefiar os dois grupos ao mesmo tempo.

Mais um passo: primeira vez chefiando a MIADH

Em cerimônia realizada na última sexta-feira (1º), no Instituto de Cultura Brasil Colômbia, em Bogotá, a Marinha assumiu, pela primeira vez, a Chefia da Missão de Instrutores e Assessores de Desminagem Humanitária.

Quem representa o Brasil na função é o Capitão de Mar e Guerra (Fuzileiro Naval) Leandro Calabria Ventura dos Santos, que possui, no currículo, a participação como monitor internacional na Missão de Assistência à Remoção de Minas na América Central (MARMINCA), na Nicarágua, em 2008, além de ter exercido vários cargos operativos no Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais, incluindo o de Comandante.

Para o Capitão de Mar e Guerra (FN) Calabria, ser o primeiro Oficial Fuzileiro Naval designado como Chefe da MIADH é uma grande responsabilidade, pois, “além de zelar pela continuação da excelência do trabalho realizado pelos meus antecessores, fica patente a obrigação de honrar tudo o que foi construído pelos pioneiros dessa Missão, antigos representantes do Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais. Além disso, não posso deixar de salientar a minha satisfação, bem como a dos demais membros dessa missão, em colaborar com esse trabalho afeto à remoção das minas terrestres e artefatos explosivos, o qual julgo crucial nesse momento em que o país busca a reconstrução pós-conflito.”

Ainda segundo o Comandante Calabria, esse trabalho apresenta resultados expressivos para a Colômbia e reforça o comprometimento do Brasil com a desminagem e a segurança regional. “A Marinha do Brasil participa ativamente de todo esse esforço militar que visa permitir que até mesmo os lugares mais longínquos da Colômbia possam tornar-se áreas seguras a seus cidadãos, declarando-os como livre da suspeita de minas e artefatos explosivos, contribuindo sobremaneira para o desenvolvimento social e econômico desse nosso vizinho sul-americano”, afirma.

O Brasil já enviou 59 militares especialistas para a MIADH, dentre os quais 21 do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da MB. Eles atuam no território colombiano a fim de apoiar a Desminagem Humanitária em três Centros de Instrução na Brigada de Desminagem Humanitária – a única no mundo criada com essa finalidade – e no Batalhão de Desminagem e Engenheiros Anfíbios.

Capacitação para ajudar

“Construir, às vezes destruir, mas sempre apoiar” é o lema do Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais, umas das Organizações Militares responsáveis por capacitar os militares da MB a atuarem na atividade de desminagem humanitária. A preparação também ocorre nos bancos escolares do Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo.

Para as Praças, o tema é estudado no curso de especialização e no de habilitação a Sargento da arma de Engenharia. Já para os Oficiais, o preparo se inicia no Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais em um dos módulos do Curso de Qualificação Técnica em Engenharia de Combate.

Para o Capitão de Fragata (FN) Michel Silva Camelo, atual comandante do Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais, “além dos bancos escolares, os adestramentos a bordo do Batalhão, os exercícios ao longo do ciclo de adestramento anual e outros cursos na Marinha, em outras forças e até mesmo no exterior, complementam e aprimoram a capacidade técnica e o profissionalismo dos militares, permitindo que eles realizem uma intensa cooperação técnica, ministrando instruções teóricas e práticas, de treinamento e de reciclagem de conhecimento”.

O Capitão de Fragata (FN) Silva foi um dos militares brasileiros que em 2015 foi enviado para contribuir com a Desminagem Humanitária na Colômbia e estreitar o relacionamento entre os países.

Fonte: Agência Marinha de Notícias

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