Itamaraty cobra da Venezuela explicação sobre acordo com MST

Eliane Oliveira
 

O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, convocou ontem o encarregado de negócios da embaixada da Venezuela no Brasil, Reinaldo Segovia, e pediu a ele explicações sobre o convênio firmado pelo governo de seu país com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), na semana passada. O acordo, divulgado pelo GLOBO, foi celebrado pela entidade e pelo ministro venezuelano Elias Jaua, sem o conhecimento do Itamaraty.

– Convoquei o encarregado de negócios da Venezuela para transmitir estranheza do governo brasileiro com a notícia de que o ministro Jaua veio ao Brasil sem nos avisar e teria cumprido uma agenda política que incluiu a assinatura de acordo com movimentos sociais brasileiros – disse Figueiredo.

Segundo relato do próprio chanceler, Segovia ouviu de Figueiredo que esse tipo de atitude "não se coaduna com o excelente nível das relações com a Venezuela". O encarregado de negócios foi alertado de que o acordo com o MST poderia ser interpretado como uma ingerência em assuntos internos.

– Portanto, solicitamos uma explicação do ocorrido – disse ministro.

Parlamentares batem boca
Enquanto o diplomata venezuelano conversava com o ministro das Relações Exteriores, no fim da manhã de ontem, o deputado e ex-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e o senador eleito Ronaldo Caiado (DEM-GO) bateram boca em torno do assunto durante um evento promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Caiado, que questionou o acordo na discussão, levou a melhor. Chinaglia foi vaiado por uma plateia de cerca de mil empresários. O parlamentar petista deixou claro que o governo brasileiro nada tem a ver com o convênio firmado entre Venezuela e o MST.

– Se a Venezuela financia ou quer convênio com o MST, é um problema da Venezuela e do MST – disse Chinaglia, interrompido com vaias dos empresários.

– Se (o convênio) não fere a lei, nós podemos até criticar. Mas não queiram envolver o governo, ou quem quer que seja, naquilo que foi patrocinado e veio a público pelo governo da Venezuela e por uma organização social. Quando Caiado fala, ele ideologiza, dizendo que há uma revolução socialista – acrescentou o deputado petista.

Ele lembrou que, este ano, Caiado abraçou a causa da cubana Ramona Matos Rodrigues, que veio ao Brasil trabalhar no programa Mais Médicos e abandonou o programa. Chinaglia disse que, se fosse presidente da Câmara na época, não permitiria que o parlamentar goiano levasse a médica ao plenário da Casa:

– Ali não é território de lobista. Ou o Parlamento é respeitado em suas funções ou não existe.

Caiado foi aplaudido ao alertar para o risco de "venezuelização" do Brasil. Disse que os partidos deveriam ter mais compromisso e destacou que há uma denúncia grave em que o PT precisa assumir sua responsabilidade. Ele imaginou o cenário no país se o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves (MG), tivesse vencido a eleição.

– Se Aécio tivesse sido eleito, vocês veriam esse Brasil totalmente bloqueado pelo MST. Nós não fazemos esse jogo. Não podemos desativar a mobilização da oposição. Temos de nos estruturar todos os dias, para chegarmos em 2018 e ganharmos as eleições – afirmou Caiado.

De acordo com uma fonte da área diplomática, o convênio foi firmado sem que o governo brasileiro recebesse qualquer informação. A única notícia que o governo tinha era que o ministro para Comunas e Movimentos Sociais da Venezuela, Elias Jaua, esteve no Brasil para tratar de assuntos pessoais.

Ministro vai à Câmara falar do acordo
Por acordo entre governo e oposição, o ministro Luiz Alberto Figueiredo aceitou comparecer em audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara no próximo dia 19 para dar explicações sobre o acordo firmado entre o MST e o governo da Venezuela.

Caiado havia apresentado requerimentos de convocação do ministro, mas, após negociação com o governo, aceitou a transformação do requerimento em "convite".

Já o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, deve comparecer no próximo dia 12 à Comissão de Agricultura da Câmara para falar de fraudes no Pronaf e também do acordo do MST com a Venezuela. Na verdade, o requerimento havia sido apresentado para ouvir o então ministro interino, Laudermir Müller, que é secretário-executivo do ministério e estava no cargo. Mas Rossetto, que estava na campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição, já retornou ao cargo.

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