Inteligência – Fundamental ter um serviço forte, que municie o país com informações estratégicas

Gelio Fregapani


]Por que a atividade de inteligência é tão desprezada no Brasil? Por que governantes e a própria sociedade ainda se prendem a passados tenebrosos, e esquecem que o mundo evolui e a fila anda? Quando se fala em serviço secreto, ou serviço de inteligência, no Brasil, a primeira coisa que vem à tona é o “porão”, ou pelo menos o triste passado do Serviço Nacional de Informações (SNI). Mas efetivamente os serviços de inteligência hoje são ferramentas importantes para o processo decisório e estratégico de um país, além de serem a melhor arma para a defesa e a segurança nacionais e internacionais.

Quando falamos em defesa nacional, a sociedade brasileira tem um pavor, ou pelo menos um descaso, com as instituições que estruturam o sistema de defesa, principalmente o desrespeito com as Forças Armadas, e também com a estruturação do Serviço de Inteligência, representado pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN).

A ABIN, desde sua estruturação, quando uma só vez teve direção competente não recebeu missões nem autorização para agir, e isso não foi culpa dela,  pois as suas atribuições e aplicações dependem muito da Presidência da República e também do Gabinete de Segurança Institucional. Nos últimos anos além da direção amorfa, a ABIN ficou relegada a ações sem fundamento para o processo de inteligência estratégica, e desenvolvendo ações irrelevantes ou no máximo de inteligência policial, como por exemplo, o acompanhamento de ações ideológicas pela imprensa e o eventual monitoramento de algum político corrupto. Fica de fora uma lista grande que deveria interessar ao sistema brasileiro de inteligência,:as ameaças internacionais, o tráfico internacional de drogas, terrorismo, tráfico de seres humanos e conflitos regionais, e princi palmente a inteligência estratégica econômica, considerando o novo papel do nosso País na economia internacional, nas parcerias estratégicas, nas questões nucleares e quem sabe, até na inovação e educação.

É perceptível que os últimos governos tiveram descaso total com a atividade da informação, e principalmente um descaso com a ABIN. Hoje, a agência tem em seus quadros uns 800 analistas, que praticamente fazem clippings e não ações de inteligência que possam desencadear uma força de decisão, posicionamento e participação do Brasil no sistema internacional, sem contar o impacto de segurança e defesa internacional para o país, considerando inclusive os próximos grandes eventos que acontecerão.

A própria agência tem baixa representação no exterior. Hoje temos um oficial de inteligência em Buenos Aires, um em Bogotá e um em Caracas, e mais uma representação avançada em Key West, na Flórida, Estados Unidos, e neste caso, em especial, parece mais um conto de Hemingway.

Por que não temos agentes produzindo informações na África e na Ásia, principalmente com o advento do BRICS Ou até mesmo, do ponto de vista de inteligência estratégica econômica, representações em Washington ou Nova York, Paris e Londres? Será que o Itamaraty se dá conta disso? Já tivemos muitas surpresas no passado ao perceber que as embaixadas produziram informações atrasadas para uma tomada de decisão.

Desde o 11 de setembro de 2001, e a ocorrência de outros atentados terroristas, o Brasil depende cada vez mais de um serviço secreto forte e bem estabelecido, pois, mesmo considerando o fato de que o país não tem inimigos externos, os eventos que acontecerão são um chamariz estratégico para ameaças terroristas, sem contar com a própria criminalidade brasileira, que a cada dia vem crescendo, e sem um braço mais forte por parte dos governantes. Sem ser alarmista, mas o nosso País tem um grande vazio no tema inteligência. Temos instituições sem integração alguma ao sistema brasileiro de inteligência, e uma agência deslocada da sua real função.

O mais interessante é que a ABIN tem em seus quadros pessoas com um grande gabarito intelectual, diferentee de outras agências internacionais,existem muitos mestres e doutores literalmente encostados em atividades de coleta de informações e produção de relatórios sem fins estratégicos para o Estado e de proteção ou vantagem para a nação.

Se considerarmos as boas práticas realizadas pelos serviços de inteligência das grandes potências, a ABIN poderia desenvolver de forma integrada ações com empresas brasileiras no exterior ou com estudantes considerados pesquisadores do Ciência sem Fronteiras, Veja o caso da China, que envia todos os anos 40 mil estudantes para as melhores universidades, e eles produzem conteúdos estratégicos para os seus serviços de inteligência. . Nosso plano de inovação perde muito, pois não tem uma política de acompanhamento e produção de cenários estratégicos para análise das demandas e até mesmo a constituição de uma visão mais prospectiva nos centros de pesquisas.

E, do ponto de vista da contra espionagem,  perdemos principalmente com a espionagem industrial que acontece no território nacional, a bioespionagem praticada por ONGs patrocinadas por diversos países, a atuação de quadrilhas internacionais do narcotráfico, o contrabando de armas para o crime organizado, a movimentação de células terroristas em território nacional, a compra de terras brasileiras por parte de grandes grupos chineses, o controle de territórios com base nos aquíferos – e aí vai uma lista gigantesca.

Sobre as ONGs, isso literalmente remonta ao conceito do “santo do pau oco”, das organizações que roubam nossa riqueza para alimentar o tesouro dos outros.

Assim, por que a nossa Presidente Dilma não transforma a ABIN numa grande organização estratégica? Medo do passado?  Por que a ABIN não tem integração com empresas brasileiras no exterior, e também integração com as universidades?

O cenário do Brasil é preocupante. Teremos eventos de grande porte internacional, e de alguma forma com ameaças potenciais. É fundamental para o Brasil um serviço de inteligência forte, que municie o país de informações estratégicas e mostre ao mundo que o Brasil efetivamente pode ter um novo movimento estratégico nos próximos anos, e não viver de um passado utópico, onde inteligência significava “porão”. E devemos ter um serviço atuante no exterior, onde realmente interessa, e não se perdendo em trabalhos de “detetives de traição” com países sem sentido e traidores do Brasil, ou acompanhando movimentos criminosos em que os serviços policiais deveriam efetivamente atuar.

Como diria um grande estrategista, “informação é poder”

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