Walter Felix – A sutileza da informação pode estar no sentimento


A sutileza da informação pode estar no sentimento


 

Walter Felix Cardoso Junior
Coronel Reformado do Exército Brasileiro
Doutor em Engenharia de Produção (UFSC)
wfelixcjr@gmail.com

Houve um tempo em que era possível ser bem mais solidário com a audiência enquanto se falava sobre mistérios e segredos de uma conjuntura complexa. Entretanto, hoje em dia, tem-se que pensar duas vezes antes de comunicar livremente, devido aos riscos do processo de informar. Daí a conveniência de controlar as próprias revelações porque isso pode ser perigoso quando os outros percebem o tanto que nós já sabemos.

Correr atrás de segredos alheios e lidar com eles por algum tempo é uma atividade complicada, principalmente se tangenciamos a intimidade das pessoas.  

A propósito, um dia um repórter novato me perguntou sobre o que eu realmente fazia nessa atividade “tão esquisita”. Bem, a parte mais aproveitável do que me cabia realizar era descobrir nuances entre rivais e algumas sutilezas deles com potencial para influenciar decisões importantes. Em seguida, eu me esforçava para explicar claramente e especificamente a um deles, como se poderia fazer pra suplantar os demais, seja num certame ou ambiente de negócios ou campo de batalha.

Esse processo iniciava com o rastreamento dos movimentos de certas pessoas ou organizações, enfocando as coisas estranhas que eventualmente fizessem, e isso acabava se transformando num procedimento estruturado, contudo, bastante penoso. Daí, outras pessoas especializadas se ocupavam de interpretar o que se descobrira, combinando fatos e situações suspeitas, para depois modelarem uma ideia conclusiva. Na ponta do reduzido sistema havia gente experiente em tomar atitudes. Com seus poderes então, faziam algo à respeito. Tudo muito simples, porém, complexo.

Se havia a conveniência de tomar algum procedimento “não ortodoxo”, ninguém ficava constrangido com isso, mesmo porque a lealdade e o patriotismo sempre permitem suplantar pequenos pecados cometidos.

Frequentar demorados eventos externos, tendo o cuidado de não se deixar reconhecer, comparar narrativas, vasculhar miríades de arquivos digitais, consultar percepções divergentes, tudo isso era importante, principalmente porque nesse tipo de labor exclusivista costuma faltar tempo e sobrar pressão.

Algumas dessas técnicas especiais de pesquisa mais rigorosa sobre elementos do mercado ainda continuam sendo normalmente praticadas, mas agora com enfoques mais inovadores e apurados, privilegiando a componente mais subjetiva das percepções, a intuição.

Todo, quero dizer, cada pedaço de informação circulante, carrega consigo uma espécie de DNA da necessidade original que não foi revelada. Não é por acaso quando uma informação relevante cruza o nosso caminho. Há sempre um sentimento importante que faz marcar esse fato, uma mensagem subliminar, uma afeição nova, uma incerteza torturante, um alento cativante ou uma oportunidade desafiadora, ainda que tais sentimentos possam passar inicialmente despercebidos.

Seja como for, deve haver arte para descobrir o que as pessoas realmente desejam, e vão fazer. Chega a ser espantoso perceber como elas pensam diferentemente entre si. Não obstante, e curiosamente, até mesmo nossos superiores no sistema costumam divergir entre si, e também sobre o que fazemos ou sobre as nossas contribuições mais sinceras, e, inclusive, sobre o que deve ser feito com tudo isso.

É uma frustração quando essa “ficha nos cai”, porque podemos, sim, ser pegos de surpresa dentro da própria casa. Se nós não desenvolvemos a capacidade de antecipar o que os próprios chefes desejam fazer conosco, e com o o produto do nosso trabalho, não merecemos continuar insistindo nesse ramo “tão esquisito”.

Como é reconfortante saber que nossos líderes nos escutam com interesse verdadeiro sempre que colocamos opiniões sensatas sobre a mesa. Mas, é bom lembrar sempre que quando os outros sabem o mesmo que nós, o diferencial passa a ser a clareza.

Assim, vejo como um desperdício infeliz desprezar a emoção embutida na informação que chega. Benditas as fontes abertas, a velocidade e o acesso, artifícios que antecipam a intuição do “aha”…, o insight valioso e matador.

O recurso daqueles que ainda não entenderam isso é ficar esperando pelas ofertas do destino.

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