A formalização de um contrato de até US$ 8,58 bilhões entre o governo dos Estados Unidos e a Boeing para o fornecimento de 50 caças F-15IA à Força Aérea de Israel (IAF) representa mais do que uma simples aquisição de material aeronáutico.
O acordo, firmado no âmbito do programa Foreign Military Sales (FMS), reforça a profundidade da cooperação estratégica entre Washington e Tel Aviv e evidencia a relevância contínua da plataforma F-15 no cenário operacional contemporâneo.
O contrato prevê, em sua fase inicial, a produção de 25 aeronaves, com opção para mais 25 unidades adicionais, com execução concentrada em St. Louis, Missouri, até 2035. O escopo abrange todas as etapas do ciclo de vida do programa — desde o desenvolvimento e integração de sistemas até testes, produção e entrega — sob a gestão do Air Force Life Cycle Management Center (AFLCMC).
A liberação imediata de US$ 840 milhões sinaliza a prioridade atribuída ao projeto, que foi conduzido sem concorrência, um indicativo claro de sua natureza estratégica e de confiança mútua entre as partes.
F-15IA: adaptação sob medida para a doutrina israelense
O F-15IA será uma variante profundamente customizada, desenvolvida para atender às exigências operacionais específicas de Israel. A aeronave deverá incorporar aviônicos avançados, sensores de última geração, sistemas de guerra eletrônica dedicados, além da integração de armamentos nacionais e estrangeiros.
Historicamente, Israel tem adotado uma política de ampla autonomia tecnológica em seus vetores aéreos, e o novo F-15IA seguirá essa lógica, preservando a capacidade de adaptação rápida a cenários de alta intensidade e ameaças assimétricas.
A escolha do F-15, mesmo em um contexto de crescente protagonismo de aeronaves de quinta geração, reflete uma decisão operacional pragmática. Com grande alcance, elevada carga útil e comprovada robustez, o F-15 permanece particularmente adequado a missões de ataque estratégico, interdição profunda e superioridade aérea sustentada — capacidades consideradas essenciais no ambiente regional do Oriente Médio.
Complementaridade com F-35I e F-16 modernizados
A introdução do F-15IA permitirá à IAF substituir plataformas mais antigas, ao mesmo tempo em que fortalece a complementaridade entre suas principais frotas. Enquanto o F-35I Adir oferece furtividade, fusão de sensores e penetração em ambientes altamente contestados, o F-15IA amplia a capacidade de projeção de poder, transporte de grandes cargas de armamento e atuação em missões de longa duração.
Essa combinação reflete uma arquitetura de força equilibrada, na qual aeronaves de diferentes gerações operam de forma integrada, explorando ao máximo suas vantagens específicas. O resultado é uma força aérea altamente flexível, capaz de responder tanto a conflitos convencionais quanto a ameaças emergentes, incluindo sistemas antiaéreos avançados e atores não estatais fortemente armados.
Impactos industriais e estratégicos
Do ponto de vista industrial, o programa garante a continuidade da linha de produção do F-15, demonstrando que a plataforma ainda possui relevância comercial e operacional, mesmo diante da expansão dos caças de quinta geração. Para a Boeing, trata-se de um contrato-chave, com impacto direto na manutenção de capacidades industriais críticas nos Estados Unidos.
No plano estratégico, o acordo reafirma o compromisso norte-americano com a vantagem militar qualitativa de Israel (QME), pilar central da política de segurança dos EUA no Oriente Médio. Ao mesmo tempo, envia uma mensagem clara aos atores regionais sobre a disposição de Washington em sustentar, no longo prazo, a superioridade tecnológica e operacional de seu principal aliado na região.
Em síntese, o programa F-15IA transcende a dimensão técnica da aquisição e se consolida como um vetor político, industrial e estratégico, reforçando a centralidade da cooperação EUA–Israel e a longevidade de uma das plataformas de combate aéreo mais bem-sucedidas da história.





















