Entrevista Exclusiva com o Comandante da Aeronáutica

Tenente-Brigadeiro do Ar Nivaldo Luís Rossato falou com exclusividade sobre o Gripen, seu papel na defesa da soberania nacional, o apoio do Ministério da Defesa, e os efeitos do caça sobre a busca pela carreira de piloto militar.

por Vianney Junior

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Em meio às comemorações pelos 16 anos do Ministério da Defesa, Brasília deu o ponta pé inicial das exibições programadas pela Força Aérea para levar para próximo dos contribuintes um de seus programas de modernização. O caça sueco-brasileiro Gripen NG (Nova Geração), mais que uma máquina destinada à assegurar a proteção dos 22 milhões de quilômetros quadrados sob responsabilidade da FAB, é uma peça integradora de tecnologias, que busca incorporar capacitação e conhecimento à indústria nacional, utilizáveis também, em outras aplicações de uso civil.

Sua escolha visou igualmente os ganhos educacionais técnicos e acadêmicos, a geração de postos de trabalho no país, e oportunidades de empregos de alta qualificação.

Agora, ao aproximar-se a conclusão de todos os trâmites contratuais envolvendo os dois países e as duas Forças Aéreas, um grupo de técnicos suecos com apoio de militares brasileiros excursionam pelo Brasil com uma réplica da aeronave, que está sendo desenvolvida pela Saab com a participação de empresas brasileiras da base industrial de defesa. Na ocasião do lançamento do tour, conversamos com o Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Nivaldo Luís Rossato. Confira a seguir:

Vianney JuniorBrigadeiro Rossato, neste ano de forte restrição orçamentária, cada Força busca assegurar a continuidade de seus programas estratégicos. A FAB traz para o centro do país, na Esplanada dos Ministérios, e em seguida para outras cidades, um modelo em escala real do Gripen NG Brasil. Qual o significado desta ação? Qual a importância de trazer para perto da população uma peça como essa, estratégica no arsenal da Força Aérea Brasileira?

Brigadeiro Rossato – Bom, trazer este programa para perto da população é importantíssimo. A divulgação do quê que é a Força Aérea, do que são as Forças Armadas é fundamental para que o povo brasileiro entenda qual é a razão de ser destas instituições, e ver que equipamentos compõem estas Forças. Então o momento, no ano que se comemora 16 anos da criação do Ministério da Defesa, no centro da Esplanada dos Ministérios é um momento ímpar. Quanto a isso, o pessoal do CeComSAer foi ágil e hábil em conseguir a concessão para instalação do modelo do avião aqui, já que normalmente é proibido a utilização desta área. Talvez por ser um avião tão importante e tão falado nos últimos anos, o Governo Federal e o Governo do DF concordaram com esta exibição.

VJ – O caça é provavelmente dentre os ativos de uma força aérea, o que mais desperta o interesse de jovens para a carreira de piloto militar. Como o senhor avalia o efeito do Gripen, incorporando estas novas tecnologias, representando uma nova geração, sobre a procura de candidatos para ingresso na Força?

Brigadeiro Rossato – A carreira militar sempre foi atrativa no Brasil, até porque a área militar é bastante organizada, é um dos exemplos dentro da sociedade. Então o jovem sempre teve um grande interesse em entrar nas atividades militares, e a aviação certamente atrai bastante. E quando vê um avião com a tecnologia do Gripen, com a divulgação que tem, a juventude logicamente se interessa mais. Assim como times que ganham, tem mais torcedores, um avião como esse vai trazer mais gente interessada na Força Aérea.

VJ – O Ministro da Defesa, Jaques Wagner, manifestou recentemente sua boa impressão acerca das tecnologias embarcadas, em particular sobre a modernidade do visor único de tela larga, o Wide Area Display, que é um diferencial do Gripen NG Brasil, como um dos requerimentos da FAB. Como o senhor avalia essa manifestação de aprovação do Ministro da Defesa?

Brigadeiro Rossato – O Ministro Jaques Wagner sempre foi incentivador do Gripen. Ele jamais deixou de nos dar o apoio integral para este nosso programa estratégico. E quando ele recebeu de um capitão nosso que participou do treinamento na Suécia, um briefing sobre a capacidade dos armamentos, sobre a capacidade do radar, na capacidade da eletrônica em geral, ele toma consciência da importância disso. Inclusive dentro do cenário moderno, para domínio do espaço aéreo, é fundamental que a gente tenha um avião como esse, e o nosso Ministro está perfeitamente alinhado com a nossa posição.

VJ – O Brasil diz buscar seu reconhecimento como ator global. Já há tempos vem pleiteando um assento definitivo no Conselho de Segurança da ONU, mas é óbvio que para cada bônus há equivalente ônus. Com a incorporação do Gripen na Força Aérea Brasileira, um caça que já participou de Forças de Coalisão autorizadas pelas Nações Unidas, e envolvendo a própria indústria nacional na produção deste nível de tecnologia, como o senhor avalia os avanços que o Brasil possa ter quanto a sua influência regional e eventualmente global, estando equipado apropriadamente para atender uma convocação da ONU?

Brigadeiro Rossato – Bem, eu entendo que qualquer país tem interesse em ter maior presença na ONU. O Brasil talvez por ser um país gigantesco, com o tamanho que nós temos, é mais do que natural que tenhamos essas ambições. Quanto a ter o Gripen, ou qualquer outro armamento moderno que nós estamos incorporando às Forças Armadas, isso ajuda em alguma coisa, mas nós estamos principalmente interessados na defesa da nossa soberania.

Todas as Forças estão interessadas nisso. Nós víamos há muitos anos, praticamente vinte anos atrás, ou até mais, que nós precisávamos de um caça desta geração, porque ele é o ponto central da defesa da soberania, e todos nós sabemos que o poder aéreo é fundamental. Se nós não tivermos poder aéreo não adianta termos outras coisas. Todas as guerras recentes mostram essa predominância do poder aéreo. Posteriormente, depois de ter o domínio do espaço aéreo, é que vem as ações decorrentes, mas esta é fundamental.

 

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