Na escolha do Gripen pesou o lobby político partidário

Na escolha do Gripen pesou o lobby político partidário
 
A escolha do caça Gripen, da empresa Saab, foi meramente político partidária pelo governo do PT. Os próprios quadros do partido não escondem mais isso, que o político se sobrepôs ao elemento técnico no momento da decisão. O anúncio da construção de uma fábrica da empresa em São Bernardo do Campo, berço do Partido dos Trabalhadores e governada por um dos petistas históricos, Luiz Marinho, teve influência decisiva na resolução do governo de Dilma Rousseff.

"A Saab, então, me procurou pedindo o meu apoio. E eu vi nisso uma oportunidade para trazer investimento para a região", afirmou Marinho, ex-sindicalista e amigo pessoal do ex-presidente Lula. O prefeito de São Bernardo se recorda de sua interferência pessoal quando o ministro da Defesa, Nelson Jobim, ter praticamente descartado o Gripen em sua gestão, quando chamou o caça de ‘avião de papel’.

Além do intenso lobby de Marinho junto ao governo federal, declarado por ele mesmo à imprensa, São Bernardo levou vantagem por já ter um núcleo da Saab e por ter conseguido, inclusive, forçar muito antes do anúncio a migração de fábricas e empresas do polo aeroespacial de São José dos Campos para o ABC paulista. Mesmo sob o governo petista, São José dos Campos é vista com reservas pelo governo federal pela forte ascendência do PSDB que governou a cidade por 16 anos e por ter um prefeito, Carlinhos Almeida, como um político sem grande expressão dentro do PT nacional.

Cartas Marcadas

Para a imprensa Marinho afirmou categoricamente que ao apoiar a escolha da sueca Saab para a produção dos caças da FAB lhe garantiu a construção da fábrica na cidade, a primeira fora da Suécia. O próprio chefe da divisão de aeronáutica da companhia, Lennart Sindahl, endossou que a escolha da cidade se deveu “ao bom ambiente político”. O governo de Dilma Rousseff seguiu as orientações de seu antecessor, Lula, que queria a constituição de um polo aeroespacial, particularmente aeronáutico, em São Bernardo do Campo.

Eufórico na coletiva de imprensa para anunciar o investimento da Saab, Marinho não se conteve e fez um autoelogio. “Eu sou bom pra c.”, disse, segundo o jornal O Globo. A frase teria sido tida na entrevista junto aos empresários suecos. Segundo o jornal, os gravadores dos repórteres captaram a frase.

 A Saab investirá US$ 150 milhões na fábrica, além de estimular uma nova onda de crescimento para o polo na região. A unidade fabril será responsável pela produção de peças estruturais dos aviões e gerará cerca de 1 mil empregos diretos num primeiro momento. O governo federal também espera que esse anúncio ajude na disputa pelo governo de São Paulo e recupere quadros afastados desgostosos com a atuação do PT da esfera local e federal.

As declarações de Marinho sobre sua interferência no processo de escolha foi um fósforo aceso num tanque de gasolina. O Congresso Nacional ainda faz silêncio, em muito por causa da crise da Petrobras, mas sua Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional se programa para fazer uma audiência pública com o ministro da Defesa, Celso Amorim, e o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito. O objetivo é esclarecer detalhes sobre a decisão do governo brasileiro de comprar 36 caças da empresa sueca Saab.

O próprio presidente da comissão, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), se incumbiu disto. Depois do Brasil ter cortejado a França e dar todos os indicativos que a norte americana Boeing levaria a concorrência, promovendo até a chegada da companhia no país com diversos projetos conjuntos com a Embraer, veio a notícia que a Suécia tinha levado o pleito. Embora haja fortes suspeita que isso será mais uma cortina de fumaça para justificar a escolha e apresentar os motivos da ‘exclusão’ da Boeing.
Para Ferraço, a espionagem do governo norte americano no Brasil, revelada pelo analista de inteligência Edward Snowden, devem ter prejudicado a Boeing. "Ainda que as autoridades não admitam, é evidente que houve reflexão sobre isso", concluiu o político que é da base do governo e demonstra que a o viés político esteve presente para ressuscitar a Saab na disputa.

Azedou

A Boeing lançou uma nota oficial virulenta assim que soube da decisão por parte do governo brasileiro. Parceira da Embraer na construção do avião cargueiro KC-390, tinha planos concretos para o Brasil, inclusive criando a Boeing do Brasil e uma unidade para projetos e pesquisas no Parque Tecnológico de São José dos Campos.  A confiança era tanta que outros programas estavam acertados com a direção da ex-estatal brasileira.

Se sentindo enganada a Boeing já fez sua primeira vitima em solo nacional: a Embraer. Segundo fontes, a gigante norte americana teria desistido de imediato de três grandes projetos com a Embraer. Seriam eles na área espacial, na construção de satélites, segmento que a Embraer é nula nesta tecnologia;  outro em materiais compostos para fins aeronáuticos e um último o projeto voltado para um segundo avião militar. As especulações ainda não se confirmaram.

No entanto, todos esses projetos são mantidos em sigilo,  e se não tiver um compensação muito boa por parte do governo de Dilma Rousseff pretende abandonar o Brasil. Isso é fato. As relações estão severamente abaladas depois da escolha do Saab. A Boeing mantém com a Embraer três grandes projetos, além do cargueiro. Desde 2012 há um trabalho em Segurança de Voo e outro na área de Cooperação Técnica e em 2011 foi firmado junto com a Unicamp um sobre biocombustíveis aeronáuticos.

Júlio Ottoboni – jornalista científico

 PT versus PT no berço do PT
 
Protegido de Lula e da presidente Dilma, o prefeito de São Bernardo do Campo e cidade berço do PT, Luiz Marinho, não admite sequer outro expoente político no ABC paulista, mesmo que seja da mesma sigla partidária. Depois de conseguir a fábrica da Saab, que produzirá o caça para a FAB, Marinho partiu para cima do prefeito petista de Santo André, Carlos Grana.
 
Ambos não se toleram e isso vem desde os tempos que eram companheiros de direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, no período de uma grave crise no polo fabril do grande ABC, na década de 1990. A questão seria a demasiada atenção recebida por Marinho e sua insaciável fome de poder e de capitalizar os dividendos eleitorais.
 
Luiz Marinho é considerado arrogante e agressivo pelos próprios companheiros de partido, que em boa parte boicotam seu projeto de ser governador de São Paulo. Ou mesmo conseguir o consentimento do seu padrinhos políticos para disputar a prefeitura da capital paulista.  
 

 
 
 

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