Rússia denuncia comentários ‘desestabilizadores’ de Biden sobre a Ucrânia

A Rússia denunciou, nesta quinta-feira (20), os comentários "desestabilizadores" de Joe Biden, que ameaçou uma resposta "severa" no caso de um ataque à Ucrânia, no momento em que o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, busca em Berlim apoio dos europeus contra Moscou.

A reação do Kremlin veio depois que o presidente dos Estados Unidos disse que Moscou pagaria um alto preço se invadisse a Ucrânia, incluindo perda de vidas e duras sanções à sua economia.

"Será um desastre para a Rússia", insistiu.

Para o Kremlin, essas declarações "podem contribuir para desestabilizar a situação" e "levantar esperanças totalmente falsas" entre algumas autoridades ucranianas, segundo o porta-voz, Dmitri Peskov.

Na capital alemã, Blinken iniciou reuniões com seus colegas da França e Alemanha e com a secretária de Relações Exteriores britânica, antes de negociações cruciais com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, em Genebra, na sexta-feira.

Na quarta-feira, o secretário de Estado esteve em Kiev para mostrar seu apoio à Ucrânia e instou o presidente russo, Vladimir Putin, a permanecer na "via diplomática e pacífica".

Com dezenas de milhares de soldados russos na fronteira ucraniana, crescem os temores de um conflito aberto.

Moscou insiste que não quer invadir a Ucrânia e justifica o deslocamento de tropas pela suposta ameaça representada pela OTAN. Antes das negociações, apresentou exigências, incluindo um veto à adesão da Ucrânia à aliança militar transatlântica.

Sem promessas escritas

Washington rejeitou os pedidos, e o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, disse esta semana que "não comprometerá seus princípios básicos, como o direito de cada nação escolher seu caminho".

Importantes reuniões entre as partes foram realizadas na semana passada em Genebra, Bruxelas e Viena, sem avanços.

Os aliados da OTAN sinalizaram sua disposição de continuar conversando, mas Moscou está pedindo uma resposta por escrito às suas propostas, que também incluem a limitação das manobras ocidentais na antiga zona de influência soviética.

Em Kiev, Blinken disse que não daria uma resposta formal a Lavrov em suas negociações em Genebra na sexta e pediu ao Kremlin que dissipe a ameaça de uma invasão da Ucrânia.

A Ucrânia luta contra forças separatistas pró-russas no leste do país desde 2014, ano em que Moscou anexou a península da Crimeia. Mais de 13.000 pessoas morreram nesse conflito.

Neste contexto, Washington anunciou na quarta "uma provisão de 200 milhões de dólares em ajuda para segurança defensiva adicional" à Ucrânia, quantia que completa os 450 milhões de dólares já acordados.

O Reino Unido também anunciou esta semana o envio de armas defensivas para a Ucrânia.

E, nesta quinta, uma autoridade informou que os Estados Unidos aprovaram pedidos de países bálticos para enviar armas de fabricação americana à Kiev.

As autoridades de Kiev solicitaram em várias ocasiões armas à Alemanha, mas Berlim até agora recusou.

Gasoduto alemão

Durante sua primeira visita à Ucrânia na segunda-feira, a nova ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, assegurou que a Alemanha "faria tudo para garantir a segurança da Ucrânia", mas descartou o envio de armas.

Em Berlim, as discrepâncias entre os aliados ocidentais podem reaparecer sobre o polêmico gasoduto Nord Strem 2, que deve dobrar o fornecimento de gás natural da Rússia para a Alemanha, sem passar pela Ucrânia.

O chanceler Olaf Scholz alertou que as novas tensões com Moscou podem ter consequências para este gasoduto, que já está concluído, mas não entrou em serviço até a luz verde do regulador de energia alemão.

Rússia e Ucrânia podem entrar em guerra ‘a qualquer momento’, diz Casa Branca

A Casa Branca afirmou, nesta terça-feira (18), que a Rússia está em condições de lançar um ataque armado contra a Ucrânia “a qualquer momento” e alertou que a situação atual é “extremamente perigosa”.

A afirmação partiu da porta-voz do governo dos Estados Unidos, Jen Psaki, que disse em sua coletiva de imprensa diária que, neste cenário, “nenhuma opção está fora da mesa” para os EUA caso a Rússia decida invadir o território ucraniano.

Psaki assegurou que o governo americano tem informações que indicam que a Rússia está se preparando para evacuar famílias de sua embaixada na Ucrânia e vem fazendo isso desde o final de dezembro.

Imagens que mostram o deslocamento de tanques e caminhões de guerra do Exército da Rússia circularam pela internet e apontam que o alerta do governo americano sobre uma possível invasão pode estar correto.

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, viajou para Genebra, na Suíça, para reunir-se com o chanceler russo Serguei Lavror na sexta-feira (21) a fim de tentar amenizar a tensão.

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou que o secretário irá evidenciar o caminho diplomático que ainda há pela frente. "É escolha do presidente Putin e dos russos decidir se vão sofrer graves consequências econômicas ou não", completou.

Vale ressaltar ainda que a Rússia exigiu respostas imediatas, e uma de suas exigências é impedir o avanço da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) no leste Europeu.

Os dois representantes conversaram por telefone, e o russo afirmou que Moscou espera por um retorno sobre as demandas apresentadas no hemisfério ocidental. Vale ressaltar que o país teme que a Ucrânia vire uma base militar para forças norte-americanas e europeias.

Para o professor de política comparativa da Universidade Nacional de Kiev, na Ucrânia, Olexiy Haran, a Rússia está apenas em busca de um motivo para iniciar uma guerra. Ele afirmou que as demandas do país são irreais.

Já o especialista Anton Suslov, da Escola de Análise Política de Kiev, disse que os ucranianos estão acostumados a novas tensões por conta dos oito anos de guerra que enfrentaram.

No entanto, ele frisou que os cidadãos estão preocupados com a possibilidade de uma nova tensão adentrar o território. Petro Burkovsky, especialista da Fundação de Iniciativas Democráticas Ilko Kucheriv acredita que uma invasão russa ao território ucraniano é iminente.

O estudioso frisa que o próprio país não nega uma ofensiva, mas que o custo será alto. Como solução, ele enxerga que o Kremlin deveria acalmar as tensões e admitir que iniciou a guerra de 2014.

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