Woloszyn – JOGOS DE DESINFORMAÇÃO: os impactos na democracia

                     

André Luís Woloszyn

Analista de Assuntos Estratégicos

alwi.war@gmail.com

Jogos de desinformação sempre foram um sério problema para os governos democráticos, principalmente quando patrocinados por outros governos como instrumento de manipulação da política externa junto a ações diplomáticas convencionais. Seu principal objetivo é criar crises e desvirtuar realidades, confundindo a opinião pública pela desconfiança na veracidade de determinado fato por meio da fabricação deliberada de rumores, ardis, farsas e acusações baseadas em fracas ou nenhuma evidência, implantando-as em adversários ou organizações.

As dificuldades de comprovação rápida ou mesmo feitas tardiamente, cria a dúvida e um juízo pré-concebido difícil de ser modificado por argumentos posteriores, encarados com a mesma desconfiança. Os mestres desta ciência foram os serviços de informações soviéticos, notadamente, o KGB (Comitê para a Segurança do Estado) ao longo da Guerra Fria, mas, com a revolução tecnológica das comunicações digitais, qualquer grupo ou pessoa com conhecimento computacional avançado ou recursos financeiros para contratar empresas especializadas, se iguala aqueles serviços, deixando sua prática de ser uma exclusividade. 

Isto cria sérias implicações para o processo democrático pela tentativa de desqualificar as instituições e a lisura de seus integrantes. E quando os agentes de influência são personalidades conhecidas do público, e parte destas instituições, apoiados por veículos de comunicação de massa, os impactos deste jogo são ainda maiores uma vez que apontam para o pressuposto da quebra da ética, em outras palavras, deslealdade ou traição, uma condição desprezada em qualquer sociedade. 

Esta conjuntura vem ocorrendo no país de forma sistemática e com grande profusão. E o curioso é que envolvem integrantes dos próprios poderes constituídos como agentes conscientes das ações numa luta para eliminação de adversários, personalidades inconvenientes ou qualquer aspirante que manifeste o desejo de entrar no jogo. O resto fica por conta de partidários de uma ou de outra corrente, que se encarregam do compartilhamento nas redes sociais e em grupos de whatsapp, direcionado opiniões e ampliando seus impactos como uma caixa de ressonância.

Mesmo que seja uma farsa aberrante, as ideologias dão seu crivo de verdade naquilo que lhes interessa lembrando a frase emblemática de Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista, afirmando que “uma mentira repetida com frequência se torna uma verdade”, expondo o espírito da desinformação. 

Em um momento de grande insegurança social e incertezas de futuro, face à pandemia do COVID-19 que acarretou desemprego em larga escala, uma situação econômica desfavorável que tende a se deteriorar além de efeitos psicológicos ainda desconhecidos, a desinformação acarreta rachaduras no sistema democrático.

Na forma que vem sendo desenvolvida, peculiarmente na versão brasileira, atinge a todos, tanto operadores como agentes de influência e adversários, os quais se revezam na condição de vítimas, amparados pela habilidade nos discursos de defesa e no número e força dos apoiadores.

Quem ganha com este ambiente? A longo prazo, ninguém.

É um tiro no pé com efeitos retardados que só diminui o status da política brasileira e a imagem institucional do país.

 

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