Igor Gielow – Preocupado com possível radicalização, Exército ainda vê Bolsonaro e Lula contidos

NOTA DefesaNet 

A Guerra Híbrida aos Generais

 

Em uma sequência de quatro matérias publicadas em O Estado de São Paulo (2), Folha de São Paulo e revista Época  no fim de semana mostram a estratégia da grande imprensa, também chamada de “extrema imprensa” de desacoplar os militares do governo Bolsonaro.

Este movimento é necessário por vários motivos sendo os mais visíveis:

1-    O mais lógico enfraquecer o governo Bolsonaro, e,

2-    Caracterizar os militares, que estão na equipe, como meros fantoches.

Porém, dois objetivos subterrâneos são fundamentais, e nisto a Folha e Grupo Globo apostam e o OESP segue a linha do governador João Dória.

Um de política interna:

Neutralizar os militares e imobilizá-los, sem o que, as próximas ações do STF não poderão avançar: anular as condenações de Lula, encerrar a Lava Jato e tentar prender o juiz Moro e membros da equipe.

E outro mais sutil de geopolítica continental e internacional.

Nas vésperas de receber o XI Reunião dos BRICS um presidente Bolsonaro fraco, seria ótimo para o avanço do processo de desconstrução interno e desequilíbrio da estabilidade continental com o novo Grupo de Puebla e reforçaria as Guerras Hibridas Latinas.

Os quatro artigos publicados  são:

1 – OESP – Novo general Heleno surpreende ala militar Link

Um forte ataque ao General Augusto Heleno, conduzido pela sempre correta jornalista Tânia Monteiro, que surpreendeu os meios militares em Brasília. Publicado no OESP, edição dominical 10NOV2019

 

2 Época – O declínio dos generais dentro do Palácio do Planalto Link

Extenso artigo inclusive capa da edição de Época classifica os militares como meros serviçais no Palácio do Planalto

3 – Igor Gielow – Preocupado com possível radicalização, Exército ainda vê Bolsonaro e Lula contidos Publicado na Folha e Uol no dia 11NOV2019

Uma tentativa de conter os danos já provocados pelo discurso de Lula ainda em Curitiba, porem depois amplificados em São Bernardo do Campo.

4 – GHL – Generais do governo Bolsonaro revelam o que pensam sobre Chile e Bolívia Link

Seguindo o mesmo caminho do artigo da FSP, Marcelo Godoy, tenta minimizar os danos das falas de Lula e conter os militares na busca de isolar Bolsonaro e enfraquece-lo. Publicado no Estadão 11NOV2019.

A tudo isso o Comandante do Exército Gen Ex Edson Leal Pujol publicou no OESP, em 12NOV2019, seção de Opinião:

Gen Ex Leal Pujol – O Exército, a Nação e a República

Foi com o advento da República que o Exército atingiu sua maioridade institucional Link

 O Editor

 

Igor Gielow

São Paulo

Publicado nos Portais Folha e UOL

 

O Exército teme o risco de radicalização entre os apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL) e de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas considera que tanto o presidente quanto o ex-presidente foram razoavelmente contidos em suas manifestações iniciais após a libertação do petista.

 

A avaliação foi colhida em um churrasco de comemoração do aniversário do ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas, ocorrido na tarde deste sábado (9) em Brasília, e em conversas posteriores.

 

O general fez 68 anos na última quinta-feira (7), dia em que Lula foi beneficiado pela decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) derrubando a prisão para condenados em segunda instância.

 

O petista foi solto na sexta (8) e, enquanto os comensais chegavam para a festa, no Clube Pandiá Calógeras, no Setor Militar Urbano da capital federal, Lula fazia um discurso para seus apoiadores em São Bernardo do Campo (SP).

 

 

O ex-presidente foi o assunto do churrasco, que reuniu principalmente oficiais-generais da reserva, mas não só. O presidente Bolsonaro e o comandante do Exército, Edson Pujol, estavam presentes durante parte do evento, que contou com pouco mais de cem convidados.

 

Pujol, que vem mantendo uma linha de distanciamento de um governo fortemente integrado por oficiais da reserva e alguns da ativa, presidido por um capitão reformado, surpreendeu alguns presentes ao se dizer muito preocupado com a possibilidade de radicalização de lado a lado.

Homem e óculos e farda

Edson Leal, comandante do Exército, surpreendeu ao se dizer preocupado com a polarização – AFP

 

O temor já havia sido vocalizado mais cedo, em reunião no Palácio do Planalto com Bolsonaro, os ministros militares Fernando Azevedo (Defesa) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), além dos comandantes da Marinha e da Aeronáutica.

 

Os militares têm recomendado moderação a Bolsonaro, argumentando que ele tem a cadeira como principal instrumento para alegar superioridade em um debate com Lula.

 

Ainda assim, o presidente precisava sinalizar à sua base mais radical e publicou postagem no Twitter em que não nomeou Lula, mas o chamou de "canalha". Do palanque, o petista fez o mesmo para sua plateia e acusou Bolsonaro de ligação com milicianos.

 

Tais movimentos eram esperados, e foram considerados por integrantes da cúpula do Exército como moderados, “do jogo”. Mas todos sabem que isso é apenas o primeiro minuto da partida, e que Bolsonaro conta com um Lula atuante para reforçar sua posição de prócer do antipetismo —que o levou a vencer a eleição em 2018.

 

O radicalismo está na essência do bolsonarismo, como provou o episódio em que o presidente postou um vídeo em que o Supremo, a mídia e outros supostos adversários eram caracterizados como hienas a ameaçar o leão presidencial. Do lado petista, não faltam discursos inflamados da mesma forma.

 

Não é casual que Bolsonaro, seus filhos e o general Heleno tenham manifestado preocupação com uma suposta contaminação das ruas brasileiras pelo espírito das manifestações que desafiam o presidente chileno, Sebastián Piñera.

 

A cúpula militar em parte compartilha tais receios, mas teme igualmente ser usada numa radicalização artificial. Como presidente, Bolsonaro pode recorrer a elas em caso de balbúrdia extrema, mas não são poucos os políticos que o advertem de que isso enfrentaria resistência inclusive no Judiciário.

 

Já o temor mais imediato do Exército após a libertação de Lula não encontra tanta ressonância nas outras Forças.

 

Um brigadeiro e um almirante disseram, sob reserva, que havia muita histeria em grupos de WhatsApp de oficiais do Exército, com insinuações falsas de sublevações em presídios devido à decisão do Supremo e à soltura do petista.

 

Tal discordância tem eco no passado recente. Quando o mesmo STF foi pressionado por Villas Bôas, em abril de 2018, de que poderia haver convulsão social caso Lula tivesse um habeas corpus concedido pela corte, o então comandante da Aeronáutica, brigadeiro Nivaldo Rossato, enviou uma dura comunicação interna ao chefe do Exército o repreendendo pela ação.

 

O próprio Villas Bôas viria a assumir que jogou no limite, em entrevista à Folha em novembro do ano passado, porque temia que a situação saísse de controle por influência de oficiais mais radicais da ativa e da reserva. Quando o general deixou o comando, neste ano, Bolsonaro lhe agradeceu e disse que devia sua eleição a ele.

 

Apesar do clima de alerta, a libertação de Lula já havia sido “precificada”, para usar um jargão de mercado financeiro, pela cúpula da Defesa.

 

Tanto foi assim que causou mal-estar nova manifestação no Twitter por Villas Bôas, hoje assessor de Heleno, antes do julgamento —depois, um tuíte falso atribuiu a ele uma crítica inexistente.

 

Ao longo dos meses em que a questão da segunda instância foi discutida, estiveram em linha direta a Presidência, a Defesa e o Supremo.

 

Um elo importante nesse contexto foi o ministro Azevedo, que fora assessor especial do presidente do STF, Dias Toffoli. Com efeito, não se ouviu de Bolsonaro nenhuma crítica à decisão que derrubou um dos pilares de atuação da Operação Lava Jato —a ideia de combate à impunidade pela limitação dos recursos antes de o condenado ir à prisão.

 

Tudo foi costurado. O voto de Toffoli, decisivo no 6 a 5 contra a prisão em segunda instância, foi desenhado para abrir ao Congresso a possibilidade de retomar o entendimento vigente desde 2016 na forma da votação de uma mudança da Constituição.

 

Militares também comentaram a ênfase que o ministro fez sobre a ideia de mandar à cadeia indivíduos perigosos à sociedade, e da segunda instância como grau de jurisdição suficiente para isso —ele tinha votado assim em 2016, mas agora considerou de forma abstrata a necessidade de seguir ao pé da letra a determinação do encarceramento com o trânsito em julgado.

Tal arranjo tende, segundo políticos com interlocução na área militar, a acalmar os ânimos. O teste do primeiro fim de semana parece ter sido bem-sucedido, avaliam, mas é também uma certeza de que as palavras pacificação, Jair Bolsonaro e Lula não andam juntas.

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