Ação judicial em Israel tenta impedir Doria de comprar metralhadoras para a Rota

Amauri Gonzo, Caê Vasconcelos e Arthur Stabile

Uma ação junto ao Estado israelense quer impedir o governo de João Doria (PSDB) de comprar dez metralhadoras fabricadas no país para uso da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), batalhão de elite da Polícia Militar de São Paulo. As metralhadoras Negev 7.62 são armamentos de guerra fabricados pela da IWI (Israel Military Industries). Equipamentos leves, automáticos, de calibre restrito e de uso para campo aberto, as metralhadoras disparam de 600 a 750 balas por minuto. O custo de cada metralhadora é de 56,2 mil reais.

Quem entrou com a ação foi o advogado e ativista de direitos humanos israelense Eitay Mack. Ele conta por telefone à Ponte que descobriu a compra ao monitorar o Instagram da IWI. “É a maior fábrica israelense de rifles e metralhadoras. Era uma empresa governamental, mas foi privatizada recentemente. Nos anos 1970 e 1980 essa empresa já vendeu armamentos para paramilitares envolvidos nos conflitos na América Central, na Guatemal,a El Salvador, e também para as juntas militares do Chile e Argentina”, explica, dando o histórico da fabricante.

“Mais recentemente, eles tentaram vender armas para as Filipinas, para o Vietnã e para Camarões. Nas Filipinas, em outubro de 2019, o governo Duterte assinou um acordo com o governo israelense para a entrega de 70 mil armas, incluindo Negevs, para a ‘guerra às drogas’ da polícia filipina, que já deixou 27 mil mortos – isso mesmo depois de uma decisão judicial impedindo essa venda”, detalha Mack.”Isso me surpreendeu muito, porque a Negev não é uma arma de uso policial, e sim de uso militar”, espanta-se o advogado.

Apesar disso, ele acredita que, com sucessos anteriores de ações judiciais, a venda de metralhadoras para o governo paulista pode ser barrada. “Eu comecei essas ações há sete anos. Eu movi duas petições contra o governo do Sudão do Sul em 2015 e 2016, e Israel parou de vender armas letais para eles. A questão é que quem está cuidando disso é o Ministério da Defesa de Israel, e eles não se preocupam com problemas com direitos humanos. Porém, é possível que a pressão da população local faça diferença”, explica.

“Pode parecer contraditório para quem vê de fora, uma vez que o IDF (Israel Defense Forces, Forças de Defesa de Israel) é conhecido mundialmente pelo seu desprezo aos direitos humanos nas ocupações na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, mas os israelenses se preocupam bastante com o fornecimento de material bélico de Israel para governos que firam os direitos humanos em outros lugares do mundo.

É importante também frisar que o governo Bolsonaro não é visto com bons olhos em Israel, e a imprensa local cobre as violações de direitos humanos e declarações estapafúrdias do governo brasileiro com muita atenção”, detalha, dando motivos para certa esperança na possibilidade de que as armas seja impedidas de chegar à maõs da polícia paulista.

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Da mesma forma, se depender da sociedade civil brasileira, sobretudo de grupos da comunidade árabe e muçulmana em defesa do povo palestino, o armamento não chegará em São Paulo. O movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) Brasil lançou uma campanha no Facebook contra a “feira da morte” e pelo embargo militar de Israel.

Na campanha, o grupo aponta que o governador João Doria se encantou com as metralhadoras usadas por Israel durante uma visita ao estande do país na LAAD (Latin America Aero and Defense Security Expo) de 2019, considerada a maior feira internacional de defesa e segurança da América Latina e conhecida como “Feira da Morte” por organizações defensoras de direitos humanos.

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Para Soraya Misleh, coordenadora da Frente em Defesa do Povo Palestino, reúne organizações da sociedade civil brasileira, da comunidade árabe e muçulmana em defesa do povo palestino, a compra do armamento é “mais um passo na cumplicidade com um governo que usa os palestinos como cobaias para depois vender suas armas para o mundo”.

“O que a gente vê é que o apartheid, a separação étnica, promovido na Palestina todos os dias há mais de 72 anos, desde a criação do Estado de Israel, depois são vendidos e promovem o genocídio do povo pobre e preto nas periferias”, critica Soraya.

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Ela lembra do alto índice de letalidade da Rota, que em 2019 matou 98% a mais do que no ano anterior, segundo levantamento da Ouvidoria das Polícias do Estado de São Paulo. “O sangue dos palestinos é derramado e depois vão derramar o sangue dos pobres e pretos nas periferias de São Paulo. Isso é terrível”.

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