Rio de Janeiro já seria a Cidade do Futuro?

Coronel Fernando Montenegro¹

A urbanização da humanidade acaba normalmente favorecendo a tendência à anomia.  A maioria dos estudos assinala que, a médio prazo, as áreas de fricção serão predominantemente de caráter urbano, privilegiando assimetria de valores, de meios e de objetivos; fazendo uso, entretanto, das tecnologias disponíveis, dos sistemas de inteligência, da influência exercida pela grande imprensa e da informação que é disponibilizada em tempo real, ainda mais com a chegada do 5G.

Atualmente, active-shooters transmitem ao vivo seus ataques, criminosos viralizam vídeos de execuções de seus rivais, terroristas maximizam a exploração dos efeitos dos seus atentados nas redes sociais e até os teatros de operações são acompanhados online; estamos recebendo diuturnamente vídeos das escaramuças do conflito Armênia vs. Azerbaijão.

Todos esses fenômenos se tornaram globais, com repercussões políticas, econômicas e de segurança, capazes igualmente de inibir os espíritos, as opiniões públicas e a liberdade de ação política.

Acadêmicos, sociólogos e estrategas ao redor do mundo assinalam que, provavelmente, em 20 anos, cerca de 60 por cento da população mundial deverá estar em áreas urbanizadas. Isso levanta a probabilidade para a tendência de que os conflitos ocorram num ambiente intraestatal, entre populações, focalizando-se na conquista de corações e das mentes, numa verdadeira batalha por sequestrar as percepções das pessoas, e não na conquista de territórios.

O tratamento desse ambiente de Guerra de 5ªGeração precisa ocorrer com uma visão estratégica em múltiplos domínios numa abordagem integrada, que a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) tem chamado de Comprehensive Approach em suas intervenções.

Em relação aos centros urbanos, a concentração e divulgação de oportunidades, melhores condições de vida e de desenvolvimento, provoca frustrações e necessidades urgentes de cada vez mais recursos, amplifica a atração pelas cidades e a expansão de áreas urbanizadas, dando origem às megalópoles.

Nos países do 3º mundo, onde muitas vezes a corrupção é generalizada, na maioria das vezes essa urbanização ocorre de forma descontrolada, sem estrutura e sem planejamento. As implicações para a escalada dos níveis de violência são óbvias.

A concentração populacional, associada a ideologias que promovem conflitos étnicos, culturais e religiosos acabam sendo poderosos ingredientes para inviabilizar a tranquilidade social. Como se não bastasse, também favorece decisivamente o surgimento de novas pandemias.

Se esse é o cenário prospectivo de vários analistas, uma cidade como o Rio de Janeiro acaba materializando já no presente todas essas características, com suas 1.500 favelas, na sua maioria controladas por gangues criminosas; corrupção generalizada no Governo, tensões sociais latentes e grupos de vândalos se fingindo ativistas político-sociais. 

Dessa forma, o Rio de Janeiro deveria ser estudado com mais atenção na busca de soluções para o mundo que existirá a médio prazo.

¹Coronel Fernando Montenegro – Veterano das Forças Especiais do Exército Brasileiro e Professor

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