Rússia adverte que guerra na Ucrânia pode sair de controle por ação de um ou dois países da Otan

(Reuters) – A Rússia alertou nesta quarta-feira que a guerra na Ucrânia poderia sair do controle e se expandir geograficamente devido a ações imprudentes de um ou dois Estados membros da aliança militar da Otan.

Em uma resposta à Reuters, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse que Moscou acredita que o Ocidente está caminhando “à beira do abismo” e empurrando o mundo para o limite também com suas ações sobre a Ucrânia.

Zakharova também aconselhou o Ocidente a desistir da ideia de derrotar estrategicamente a Rússia.

Putin exalta armas nucleares russas ‘mais avançadas’ que americanas e fala de ‘rancor’ de Macron

Em entrevista ao canal de TV estatal RIA, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou nesta quarta-feira (13) que a “tríade” nuclear da Rússia, ou seja, as três formas de lançar armas nucleares, por terra, mar e ar, é “muito mais” avançada e moderna que a dos Estados Unidos, indicando que poderia testar o arsenal se fosse ameaçado. Putin também disse que o envio de tropas da Otan à Ucrânia “não mudaria nada” no conflito.

“Apenas nós e os americanos temos essas tríades. Nós avançamos muito na Rússia e a nossa tríade nuclear é mais moderna que qualquer outra”, disse Putin.

Os Estados Unidos “estão desenvolvendo os seus componentes, nós também. Na minha opinião isso não significa que queiram iniciar uma guerra nuclear, mas se quiserem, estamos prontos”, acrescentou.

Putin negou mais uma vez que esteja pensando em utilizar as armas nucleares na Ucrânia, apesar das ameaças feitas no passado. 

“Por que deveríamos utilizar meios de destruição em massa? Nunca houve essa necessidade”, declarou, antes de esclarecer que a doutrina militar russa prevê o uso de deste tipo de arma apenas se a existência da Rússia estiver ameaçada ou no caso de “um ataque à nossa soberania e independência”.

O presidente russo também reagiu pela primeira vez às declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, que em 26 de fevereiro afirmou “não descartar” o envio de tropas de países ocidentais à Ucrânia. “Tenho certeza de que isto não mudará a situação no front. O fornecimento de armas também não muda nada”, disse Putin.

Grupo Wagner

Ele também falou do “rancor” do chefe de Estado francês. Segundo ele, Paris teve que enfrentar a concorrência do Grupo Wagner, que desde meados da década de 2010 mobilizou combatentes em vários países africanos em nome de governos locais, superando o tradicional poder regional francês.    

Mas, para Putin, essas são questões puramente econômicas. “Não nos impusemos na África. Não expulsamos a França, o problema é outro. É o famoso Grupo paramilitar Wagner, que realizou uma série de projetos econômicos na Síria e depois se mudou para outros países da África. O Ministério da Defesa apoiou, mas apenas porque era um grupo russo, nada mais”, disse Putin.   

Para o presidente russo “líderes africanos de alguns países fizeram acordos com operadores econômicos russos” porque já não queriam “trabalhar em certas áreas com os franceses”, declarou.

“Não entendo por que as pessoas podem ficar com raiva do nosso país se um Estado independente quer fortalecer as relações com parceiros de outros países, especialmente a Rússia”, disse Putin. Durante a entrevista, ele também falou sobre outras questões. Negou que a Rússia influenciaria as eleições americanas e que ajudava a Coreia do Norte a desenvolver seu programa de armamento. O presidente russo criticou ainda a adesão da Suécia e da Finlândia à Otan. Segundo ele, “a Rússia não tinha tropas na fronteira da Finlândia mas agora terá”.

Macron viaja à Alemanha

Apesar do fracasso da contraofensiva ucraniana no verão de 2023, a Rússia ainda não conseguiu derrotar a Ucrânia dois anos depois do início da guerra, em 24 de fevereiro de 2022. 

Mas, a ajuda ocidental diminuiu, e há dúvidas sobre quanto tempo o Exército ucraniano ainda poderá se manter a linha de frente. Para o Ocidente, uma vitória militar russa na Ucrânia só alimentaria suas ambições territoriais na Europa.  

Neste contexto, Macron pediu também aos aliados que “não sejam covardes”, frisando que o apoio de Paris a Kiev “não deve ter limites”. A declaração gerou divergências com países como a Alemanha.

Nesta sexta-feira (15), Macron viajará a Berlim para uma cúpula entre a Alemanha, França e Polônia, anunciou o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk.    

Este será o primeiro encontro entre o chefe de Estado francês e Olaf Scholz desde o final de fevereiro, quando o presidente criticou a Alemanha, dizendo que o país “hesitava” em entregar certas armas pesadas a Kiev.

Poucos dias depois, ele pediu a seus aliados que “vivam de acordo com a história e com coragem que isso implica”. A declaração do presidente francês não agradou Berlim, mas o objetivo agora é apaziguar as tensões.

Reunião em Paris

A ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, foi convidada a participar nesta quarta-feira (13) na reunião do Conselho de Ministros da França, em Paris, e fará  uma declaração ao lado do ministro francês do Interior, Gérald Darmanin.    

A reunião é “um sinal de que o governo alemão e o governo francês querem encontrar um compromisso”, disse Marc Ringel, diretor do Instituto Franco-Alemão em Ludwigsburg, na Alemanha.    

Na semana passada, a ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, já tinha viajado a Paris para um encontro com o chancler francês Stéphane Séjourné.

Com informações da Reuters e da AFP

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