Organização denuncia envolvimento de jornalistas com o Hamas

Relatório do órgão HonestReporting evidencia a ligação de pelo menos um fotojornalista com o grupo terrorista e questiona a ética dos veículos internacionais de comunicação por terem contratado os serviços de outros profissionais que violaram fronteiras e fotografaram linchamentos e sequestros de israelenses logo quando o ataque do Hamas começou

O órgão de monitoramento da mídia HonestReporting, que trabalha para expor o preconceito anti-Israel na imprensa estrangeira, publicou um relatório investigativo nesta quarta-feira (8) que questiona a presença de fotojornalistas dos principais meios de comunicação, como Associated Press (AP), Reuters, The New York Times e CNN, na fronteira com Gaza justamente quando houve a invasão do Hamas e os massacres realizados pelo grupo terrorista no dia 7 de outubro. 

Os principais questionamentos levantados foram saber se os fotógrafos tinham conhecimento prévio da intenção de levar a cabo o massacre e como chegaram ao local tão rapidamente. Teria o Hamas permitido que eles estivessem lá? Os repórteres tiveram aprovação para entrar em Israel ao lado dos terroristas? Os fotógrafos informaram os seus editores que acompanhavam os terroristas durante os ataques contra israelenses? “A julgar pelas imagens de linchamento, rapto e invasão de um kibutz israelense, parece que a fronteira foi violada não só fisicamente, mas também jornalisticamente”, consta no relatório.

O caso que mais chama atenção é Hassan Eslaiah, um freelancer que produziu imagens para a AP e a CNN. Ele atravessou a fronteira de Gaza para Israel, tirou fotos de um tanque israelense em chamas e depois fez imagens de infiltrados entrando no Kibutz Kfar Aza. Em postagens em sua conta do X (antigo Twitter) que foram apagadas posteriormente, Eslaiah se filmou em frente ao tanque sem estar usando capacete e colete de identificação de imprensa. Pouco depois da publicação do artigo no site da HonestReporting, também veio à tona uma foto mostrando Eslaiah com o líder do Hamas e mentor do massacre de 7 de outubro, Yahya Sinwar.

Outros jornalistas também estavam posicionados para tirar fotos das atrocidades feitas pelo Hamas. É o caso de Ali Mahmud, da AP, que capturou a imagem de uma caminhonete que transportava o corpo do alemão-israelense Shani Louk, que foi brutalmente assassinado por terroristas do Hamas. Já a Reuters publicou fotos de dois fotojornalistas que também estavam na fronteira bem a tempo da infiltração do Hamas: Mohammed Fayq Abu Mostafa e Yasser Qudih. Ambos tiraram fotografias de um tanque israelense em chamas do lado israelense da fronteira, mas Mostafa também tirou uma fotografia de uma multidão linchando o corpo de um soldado de Israel que foi arrastado para fora do tanque. Essa foto foi destaque no site da Reuters como a “Imagem do Dia”.

“É óbvio agora que o Hamas planejou o seu ataque de 7 de Outubro a Israel durante muito tempo: a sua escala, os seus objetivos brutais e a sua enorme documentação foram preparados durante meses, senão anos. Tudo foi levado em consideração – os desdobramentos, o momento, bem como o uso de câmeras corporais e vídeos de celulares para compartilhar as atrocidades”, afirma a HonestReporting.

Segundo André Lajst, cientista político e presidente executivo da StandWithUs Brasil, “isso é um escândalo, um absurdo. O papel da imprensa é fundamental em tempos de guerra para levar informação qualificada e checada para a população do mundo todo, mas pressupõe-se que os jornalistas que transmitem essas informações precisam reportar os fatos como eles são e de maneira completamente transparente – e o que vimos nestes casos apresentados pelo HonestReporting foi o exato oposto, faltando totalmente com a ética jornalística”.

Após a denúncia da organização, dois veículos jornalísticos se manifestaram. “A Reuters nega categoricamente que tivesse conhecimento prévio do ataque ou que tenhamos incorporado jornalistas ao Hamas em 7 de outubro”, disse a agência de notícias. Já a porta-voz da Associated Press afirmou que a AP não tinha conhecimento prévio do ataque de 7 de outubro e justificou dizendo que “o papel da AP é captar notícias e imagens de acontecimentos que acontecem em todo o mundo, em qualquer momento, mesmo que sejam terríveis e envolvam vítimas. A AP usa fotos de freelancers de todo o mundo, inclusive de Gaza”.

Ainda de acordo com Lajst, se for verdade que as agências de notícias não tinham conhecimento de que seus colaboradores estariam “testemunhando o massacre” sem avisar previamente as autoridades, no mínimo não deveriam ter comprado ou utilizado as imagens desses colaboradores. “Com quem eles colaboraram? Ao meu ver, a colaboração deles foi com os próprios terroristas”, ele afirma.

A Direção Nacional de Diplomacia Pública do Gabinete do Primeiro-Ministro de Israel afirmou que “vê com a maior gravidade que os fotojornalistas que trabalham com os meios de comunicação internacionais se juntaram na cobertura dos atos brutais de assassinato perpetrados por terroristas do Hamas em 7 de Outubro nas comunidades adjacentes à Faixa de Gaza”.

“Estes jornalistas foram cúmplices de crimes contra a humanidade; as suas ações foram contrárias à ética profissional”, afirmou a direção. “A Assessoria de Imprensa do Governo (GPO) emitiu uma carta urgente aos chefes dos órgãos de comunicação social que contrataram estes fotógrafos e pediu esclarecimentos sobre o assunto. A Direção Nacional de Diplomacia Pública exige que sejam tomadas medidas imediatas.”

O Ministro das Comunicações de Israel, Shlomo Karhi, contatou a CNN, a Reuters, o The New York Times e a AP nesta quinta-feira (9), à luz do relatório, dizendo: “A gravidade da situação exige uma resposta rápida e completa. Agora é um momento para indivíduos, jornalistas, instituições, sindicatos e organizações em todo o mundo fazerem uma escolha clara. Devemos decidir se estamos do lado da vida e do bem ou do lado do terrorismo depravado, da desumanidade e do mal.”

Confira o relatório na íntegra neste link: https://honestreporting.com/photographers-without-borders-ap-reuters-pictures-of-hamas-atrocities-raise-ethical-questions/

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