ONU põe fim a operação na Líbia

Apesar dos reiterados pedidos dos novos líderes da Líbia para que a Otan (aliança militar ocidental) estendesse sua missão no país, o Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas decidiu ontem, por unanimidade, pôr fim à zona de exclusão aérea a partir das 23h59 (horário local) de 31 de outubro. A intervenção militar para impor a medida, adotada em nome de proteger os civis das forças de Muamar Kadafi, fora autorizada em março pelo conselho, com 10 votos a favor e cinco abstenções — inclusive do Brasil.

Os bombardeios da Otan foram decisivos para a queda do regime e vitória dos rebeldes, que agora se veem sob pressão internacional para investigar as circunstâncias da morte do ex-ditador, capturado vivo. Em resposta, o Conselho Nacional de Transição (CNT) prometeu ontem levar à Justiça os executores de Kadafi.

Na semana passada, a Otan anunciou que a campanha se encerraria na próxima segunda-feira, mas nos últimos dias o novo governo líbio vinha pedindo a continuação da missão até o fim do ano. Apesar de não ter sido atendido, o comando rebelde deverá contar com o apoio da aliança, que está "analisando novas formas de ajudar".

A cúpula do organismo deve se reunir hoje em seu quartel-general, em Bruxelas, para declarar formalmente o fim das operações. Além da consolidação do novo regime, as preocupações do Ocidente se voltam para o material bélico que pertencia à ditadura e foi removido dos arsenais.

Em 19 de março, dois dias depois da votação no CS, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que estava em Brasília em visita oficial, autorizou o início dos bombardeios. Ao longo desses sete meses, a campanha recebeu críticas de entidades como a Liga Árabe e a União Africana, por não ter impedido a morte de civis.

O comando da intervenção também passou por crises, com EUA e França trocando farpas e cobrando-se mutuamente maior protagonismo na liderança das incursões militares. Na opinião do analista iraniano Houchang Hassan-Yari, especialista em assuntos estratégicos para países árabes do Royal Military College of Canada e da Queens University, a atuação da Otan não foi tão efetiva quanto muitos esperavam, mas exigiu da aliança uma cautela inusual. "O objetivo era proteger civis, e não chegar atirando em qualquer alvo que pudesse identificar", afirmou ao Correio.

Kadafi
Com o fim dos combates, a Líbia entra em uma "nova era", como afirmou o ministro britânico das Relações Exteriores, Willam Hague. O chanceler afirmou ter discutido com as novas autoridades do país o "dever de defender os direitos humanos e impedir as represálias e os ataques de vingança".

O chamado soou como mais uma cobrança para a investigação sobre a morte de Kadafi, que foi capturado vivo em Sirte e, momentos depois, foi apresentado morto. As circunstâncias de como tudo ocorreu continuam obscuras. Enquanto o novo poder líbio alega que se tratou de uma troca de tiros, várias fontes apontam que houve execução sumária. O CNT se comprometeu a apurar o caso e levar os responsáveis ao banco dos réus. "Tenho certeza de que esse foi um ato individual, não uma ação revolucionária ou do exército nacional", declarou o vice-presidente do CNT, Abdel Hafiz Ghoga.

Prêmio europeu
O Parlamento Europeu concedeu ontem a cinco militantes da Primavera Árabe o prestigioso Prêmio Sakharov de direitos humanos, equivalente europeu ao Prêmio Nobel da Paz. Os vencedores são o manifestante tunisiano Mohamed Bouazizi, que recebeu prêmio póstumo, a egípcia Asmaa Mahfouz, o dissidente líbio Ahmed Al-Zubair Ahmed Al-Sanusi, a advogada síria Razan Zeitouneh e o chargista Ali Farzat, também sírio. Bouazizi foi o jovem que colocou fogo no corpo, em 17 de setembro de 2010, em protesto contra a extorsão que sofria de autoridades. Ele morreu duas semanas depois e o ato desencadeou protestos que deram início à Primavera Árabe.

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