TESTE DIPLOMÁTICO – Brasil tentará salvar Kioto

Nathália Clark
e Renato Grandelle

Caberá ao Brasil e à Noruega resolver, na Conferência do Clima em Doha (COP-18), o impasse no qual as negociações climáticas mergulharam. A missão foi dada pelo presidente da convenção, Abdullah Bin Hamad Al Attiyah, e aceita pelo embaixador Luiz Alberto Figueiredo. Ontem, o diplomata brasileiro adotou um tom desafiador contra as nações desenvolvidas, contrárias à renovação do Protocolo de Kioto, que impõe um limite legal para suas emissões de dióxido de carbono (CO2).

Criado em 1997 no Japão, o acordo não conteve o ritmo de crescimento da liberação de carbono, como mostra uma pesquisa do grupo Global Carbon Project (GCP) lançada ontem. Pesquisadores de dez países atestaram que, até o fim do ano, as emissões de gases-estufa devem atingir o nível recorde de 35,6 billhões de toneladas – 2,6% a mais do que o registrado em 2011, e 54% acima do que foi visto em 1990, ano-base adotado pelo Protocolo de Kioto.

Entre 2000 e 2011, a emissão de CO2 cresceu, em média, 3,1% por ano. Se este índice for mantido, a temperatura global aumentará em 5 graus Celsius até 2100. Estados Unidos e União Europeia conseguiram, entre o ano passado e este, reduzir suas emissões em 1,8% e 2,8%, respectivamente. É um progresso muito mais tímido do que o esperado.

– Não tenho dúvida de que as nações em desenvolvimento estão fazendo muito mais do que as desenvolvidas em termos de redução de emissões – ressaltou Figueiredo. – Espero sinceramente que eles (os países ricos) deem mais atenção ao que se comprometeram, inclusive com o financiamento para os países em desenvolvimento.

Estas nações, porém, também não fizeram esforços suficientes para reduzir sua liberação de CO2. A China viu suas emissões crescerem 10% desde 2011 – as toneladas de carbono enviadas a mais para a atmosfera equivalem a quase todas as emissões da Alemanha em um ano.

Para se livrar de metas legalmente vinculadas, que obrigariam o país a reduzir a liberação de gases-estufa, a China sempre usa o mesmo argumento: o que importa é a emissão per capita, e não a total. Em um futuro próximo, porém, este pretexto pode não valer mais. No ano passado, cada chinês emitiu, em média, 1,8 tonelada de carbono. É um índice muito próximo ao registrado pela Europa (2 toneladas per capita).

Diretor do Centro Fudan-Tyndall, em Xangai, Jianmin Chen afirmou que a performance chinesa vai melhorar nos próximos anos:

– Cerca de 30% das emissões de carbono da China são relacionadas a bens consumidos em outras nações – assinalou. – O progresso do país no combate à poluição do ar urbano mostra que podemos pensar em desafios maiores.

A Índia também apresentou um crescimento significativo de suas emissões entre o ano passado e este: 7,5%. A economia em expansão dos países em desenvolvimento faz com que eles, agora, respondam por 58% do carbono liberado para a atmosfera. Em 1990, esses países respondiam por apenas 35% das emissões.

– Um crescimento como este, e no meio das negociações climáticas, é como se ninguém estivesse ouvindo a comunidade científica – lamentou Corrine Le Quéré, professora da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, que liderou o grupo envolvido no novo relatório.

Outro estudo, publicado esta semana pela "Geophysical Research Letters", mostrou como o aumento da temperatura global tem afetado a cobertura de neve no Hemisfério Norte.

A cobertura de neve registrada por satélite diminui todos os anos desde 2008 – e, este ano, foi a menor desde o início das observações, em 1967. Nos EUA, três dos últimos cinco anos estão entre os que tiveram a menor quantidade de neve. A pesquisa foi conduzida pela Administração de Oceanos e Atmosfera dos EUA (Noaa, na sigla em inglês).

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