Obama visita regimes duros da Ásia e invade esfera da China

Denise Chrispim Marin

Com uma mensagem em favor da democracia e dos direitos humanos, o presidente dos EUA, Barack Obama, reforçou a aliança de seu país com a Tailândia, conquistou a simpatia de Mianmar e ouviu ranger de dentes no Camboja entre o domingo e ontem. Na primeira viagem internacional desde junho, o presidente reeleito demonstrou que a Ásia Oriental será a prioridade da agenda externa da Casa Branca até janeiro de 2017.

A escolha da periferia da China como destino do giro teve o objetivo de reforçar a contenção da influência de Pequim sobre o Sudeste Asiático – principal destinatário dos apelos de Obama pelo fortalecimento das instituições democráticas e ao respeito aos direitos humanos. Um sinal mais forte já fora emitido por Washington com o deslocamento de embarcações de sua Marinha para a região.

Pela primeira vez na história, um presidente americano desembarcou em Mianmar e no Camboja. Obama foi recebido como um herói, a palavra escrita em cartazes ostentados em Mianmar, onde o líder prometeu restabelecer uma sucursal da agência americana de desenvolvimento (Usaid) e ofereceu US$ 170 milhões, a serem desembolsados em dois anos, se o país continuar com as reformas políticas e tomar medidas para conter a violência contra a minoria islâmica.

O presidente de Mianmar, Thein Sein, mostrou-se receptivo. Permitiu a abertura de um escritório do Alto-Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas e a revisão dos processos contra 200 prisioneiros políticos. "Nos últimos 20 anos, houve algumas frustrações e obstáculos em nossas relações diplomáticas. Mas, agora, alcançamos acordos para o desenvolvimento da democracia em Mianmar", afirmou o presidente, um general reformado que apoiou o regime militar no país.

"As faíscas do progresso não podem ser extintas. Elas devem ser reforçadas e se tornar uma estrela-guia para o povo dessa nação. É assim que vocês alcançarão o futuro que merecem, onde não haverá mais nenhum prisioneiro de consciência. Vocês precisam alcançar um futuro onde a lei seja mais forte do que qualquer líder", disse Obama, na Universidade de Rangum.

A inclusão de Mianmar no giro de Obama pela Ásia foi criticada pelo fato de o país manter opositores presos. No domingo, ainda na Tailândia, o presidente reagiu dizendo que sua visita não endossa o governo de Mianmar, mas dá respaldo ao processo ainda frágil de democratização do país. Essa mensagem foi reforçada durante sua visita à Prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, dissidente que cumpriu 15 anos de prisão domiciliar. Os dois saudaram-se à moda oriental e depois apertaram as mãos, cumprimentando-se de maneira contida – na secretária de Estado Hillary Clinton a birmanesa deu um caloroso abraço. Somente após a entrevista coletiva, Obama beijou o rosto de Suu Kyi. "A fase mais difícil em uma transição é quando pensamos que há sinais de sucesso. Então, é preciso ter cuidado para não sermos ludibriados por uma miragem de sucesso", disse a birmanesa.

No Camboja, Obama teve uma tensa conversa com o premiê Hun Sen, ex-comandante do Khmer Vermelho que lidera o país desde 1985. A tensão ocorreu em razão das cobranças de Obama por eleições livres no país, pela libertação de presos políticos e pelo fim de restrições ao trabalho da imprensa.

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