Brasil volta a financiar o Equador após “geladeira”

Fabio Murakawa

Nos próximos dias, BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e governo equatoriano firmarão um contrato de crédito de US$ 90,2 milhões para a construção da hidrelétrica de Manduriacu, uma central com capacidade para gerar 60 MW na Província de Pichincha, norte do Equador. A responsável pelas obras será a construtora Odebrecht, que venceu uma concorrência que o governo equatoriano ofereceu a empresas brasileiras já de olho nos recursos do banco de fomento do Brasil. O custo total da obra está estimado em US$ 125 milhões. Procurada, a empresa não se pronunciou.

O BNDES não financia obras no Equador desde 2008, quando o governo local apontou falhas na hidrelétrica de San Francisco, cuja construção havia sido concluída um ano antes pela própria Odebrecht, que acabou expulsa do país. Os recursos brasileiros para projetos no país sul-americano caíram a zero depois que o presidente Rafael Correa recorreu à Corte Internacional de Arbitragem, em Paris, para não pagar parte do financiamento de US$ 242,9 milhões do BNDES. O gesto irritou o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a retirar o embaixador brasileiro de Quito e a suspender missões empresariais e visitas de ministros ao país.

"O Equador perdeu a causa no tribunal de Paris e está em dia com o pagamento do financiamento, mas as relações comerciais entre os dois países não haviam se normalizado até agora", disse uma fonte do governo brasileiro. Oficialmente, Brasília não admite ter colocado o Equador na "geladeira".

O BNDES confirma a aprovação do crédito de US$ 90,2 milhões para a construção de Manduriacu. Fontes dentro do banco afirmam que essa é a "primeira operação para a retomada do relacionamento" entre a instituição e o Equador. Uma fonte do governo equatoriano também confirma o acerto.

Fontes dos governos brasileiro e equatoriano afirmam que uma outra obra está perto de receber financiamento do BNDES. Trata-se do projeto de irrigação de Daule Vinces, no oeste do país, cuja concorrência entre empresas brasileiras também foi vencida pela Odebrecht. Orçado em aproximadamente US$ 185 milhões, ele prevê a irrigação de 170 mil hectares de terras ligando as águas de dois rios, e inclui ainda obras de combate a enchentes. O Valor apurou, no entanto, que não ainda há nenhuma outra operação do Equador em análise pelo BNDES.

Desde 2008, o Equador tem dependido do dinheiro chinês para financiar seus projetos, como a maior hidrelétrica do país, Coca Codo Sinclair, com custo de construção estimado em US$ 2 bilhões. Mas o fato de a China cobrar juros mais altos do que o BNDES e exigir quotas de petróleo como garantia em empréstimos levou os equatorianos a sentir saudades do Brasil.

Em meados de 2011, teve início uma reaproximação, com uma visita do ministro de Setores Estratégicos do Equador, Jorge Glas, a Brasília. Na época, ele se reuniu com membros do Cofig (Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações), órgão colegiado formado por diversos ministérios e que trata do financiamento público brasileiro. Acompanhado por uma comitiva, Glas pediu a volta dos empréstimos a projetos em seu país, assegurando que problemas como os de 2008 não voltariam a ocorrer, segundo fontes do governo brasileiro.

Em março último, fontes do governo equatoriano disseram ao Valor que o Equador havia oferecido um pacote de obras de infraestrutura de US$ 2,5 bilhões a empresas brasileiras, já contando com a volta dos financiamentos do BNDES. Dentre essas obras, estava a hidrelétrica de Manduriacu, cujo crédito acabou sendo aprovado pelo banco brasileiro no fim de julho, segundo apurou o Valor.

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