Fidel ironiza ‘aves de mau agouro’

Primeiro, falaram que ele estava morto. Depois, que sofreu um derrame. Mas Fidel Castro garante, em artigo atribuído a ele e publicado ontem pela imprensa cubana, que sequer se lembra do que é uma dor de cabeça.

Intitulado "Fidel Castro está agonizando", o texto assinado pelo líder da Revolução Cubana ironiza e critica os responsáveis pelas recentes versões sobre seu estado de saúde, chamando-os de "aves de mau agouro". A resposta veio pelo site Cubadebate, que publicou junto com o texto de Fidel fotos feitas por seu filho Alex, nas quais o ex-presidente cubano aparece de bengala em uma plantação, vestindo uma camisa xadrez e com um chapéu de palha. Numa delas, ele segura o exemplar de sexta-feira do "Granma", o jornal do regime cubano.

"Ninguém gosta de ser enganado; até mesmo o mais incorrigível mentiroso espera que lhe digam a verdade", diz o artigo, no qual Fidel cita o comunicado atribuído a ele e destinado aos formandos do Instituto de Ciências Médicas Victoria de Girón, divulgado no dia 17, como o evento que fez "o galinheiro de propaganda imperialista se alvoroçar" – as últimas "Reflexões" de Fidel, título dado aos seus artigos publicados pelo "Granma", datam de 19 de junho. O líder cubano cita especificamente a entrevista concedida pelo médico venezuelano José Ramos Marquina ao jornal espanhol "ABC", publicada na sexta-feira. Nela, Marquina diz que Fidel, de 86 anos, teria sofrido um derrame cerebral. Ontem, o médico escreveu em seu Twitter que "ficaram muito boas as montagens de Fidel".

 
Novo texto, o Fidel de sempre

O ex-presidente de Cuba aproveitou seu mais novo texto para voltar à carga contra o capitalismo e a imprensa de fora da ilha. Disse que "muitas pessoas no mundo são enganadas por órgãos de informação, quase todos em mãos de privilegiados e ricos", e citou como exemplo as notícias de abril de 1961 sobre uma eventual chegada a Havana dos "invasores mercenários" da Baía dos Porcos.

Fidel também dedicou alguns parágrafos à Crise dos Mísseis, cujo aniversário de 50 anos é lembrado este mês, e escreveu que a ilha aceitou a ajuda soviética de "armas, petróleo, alimentos e outros recursos" para se defender "dos planos ianques de invadir nossa pátria". E continuou: "Nossa conduta foi eticamente impecável. Nunca pediremos desculpas por nada que fizemos", disse Fidel, para quem "nenhuma mentira, repressão ou novas armas" poderão impedir a derrocada do capitalismo, "um sistema de produção crescentemente desigual e injusto."

O líder cubano também usou o texto para justificar seu silêncio nos veículos oficiais da ilha: "Gosto de escrever e escrevo; gosto de estudar e estudo. Deixei de publicar as "Reflexões" porque certamente não é meu papel ocupar as páginas de nossa imprensa, consagrada a outras tarefas que o país requere."

 
Felicidade e incerteza na ilha

A "reaparição" de Fidel despertou reações opostas em Havana. Para alguns, a volta do líder é motivo de otimismo.

– Para mim, ele parece bem. A verdade é que estou feliz, mas um dia ele morrerá. Com essa idade, ele já está na prorrogação – disse à Associated Press Camilo Fuentes, de 67 anos.

No entanto, há na capital cubana quem veja no texto de Fidel mais um ato de manipulação do regime:

– Acho que é um grande show – afirmou Carina Rojo, aposentada de 57 anos. – Ninguém se importa mais. Há mais interesse pelas coisas de fora.
Rumores frequentes

Os comentários sobre o estado de Fidel costumam ser frequentes nas redes sociais, onde a morte do ex-presidente cubano já foi anunciada várias vezes. Neste ano, rumores sobre a deterioração de sua saúde cresceram na medida em que ele deixou de fazer aparições públicas e se manifestar por meio de suas "Reflexões".

No dia 11, o jornalista venezuelano Nelson Bocaranda, conhecido por ter revelado o câncer do presidente de seu país, Hugo Chávez, disse em seu site que Fidel estava morto e o anúncio oficial viria em 72 horas, o que foi prontamente desmentido pelo filho Alex. Seis dias depois, veio o comunicado aos estudantes de Victoria de Girón. Nada que impedisse Marquina – o mesmo segundo o qual Chávez estava em seus últimos dias – de dizer ao "ABC" que o líder cubano estava à beira da morte.

Anteontem, no entanto, o ex-vice-presidente venezuelano Elías Jaua exibiu uma foto do que teria sido um encontro de cinco horas com Fidel na véspera, no Hotel Nacional de Cuba, na primeira imagem do líder desde a visita do Papa Bento XVI à ilha, em março. Além de Jaua, aparecem na foto a mulher de Fidel, Dalia Soto del Valle; o diretor-geral do hotel, Antonio Martínez Rodríguez; além de uma mulher e uma criança, não identificadas.

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