Dilma e presidente eleito do México vão discutir aliança entre estatais do petróleo

Sergio Leo


Uma possível aliança entre Petrobras e a mexicana Pemex está na pauta do encontro entre a presidente Dilma Rousseff e o presidente eleito do México, Enrique Peña Nieto, do PRI, que vem ao Brasil no dia 20. A visita é parte de uma viagem pela América Latina, que incluirá Chile, Argentina, Guatemala e Colômbia, e servirá, segundo a equipe do novo presidente, para "aproximação política". Em novembro, ele visitará os Estados Unidos.

Dilma, que telefonou a Peña Nieto logo após as eleições, quando o resultado ainda era questionado na Justiça mexicana pelo concorrente Andrés Manuel Lopes Obrador, vê no governo do PRI no México uma oportunidade de um "novo começo" com o país, do qual o Brasil se afastou por divergências nos órgãos multilaterais, durante o governo anterior, de Felipe Calderón.

A presidente acredita ser possível também buscar pontos de contato entre as duas grandes petrolíferas, Petrobras e Pemex, para atuação conjunta no mercado internacional. Uma possível área de cooperação, segundo o governo brasileiro, seriam as compras de equipamentos, como sondas de perfuração, por exemplo: juntas, as duas estatais poderiam buscar melhores condições de prazos e preços. É possível que o encontro entre Dilma e Peña Nieto tenha, como convidada, a presidente da Petrobras, Graça Foster.

Pressionado pela necessidade de aumentar investimentos em tecnologia na estatal mexicana, afetada negativamente pela queda na produção de petróleo no país, Peña Nieto elegeu-se prometendo buscar maior liberdade de atuação para a empresa em suas relações com o setor privado. Falou em inspirar-se no modelo da Petrobras e chegou a mencionar um possível lançamento de ações da empresa, no formato seguido pela estatal brasileira.

Estima-se, no México, que a estatal Pemex necessita de investimentos equivalentes a US$ 20 bilhões anuais para aumentar a produção – dos atuais 2,6 milhões de barris por dia para a meta de produção de 3 milhões de barris diários a partir de 2017 -, afastando a ameaça de esgotamento das reservas existentes, cuja duração é calculada em pelo menos em 30 anos.

O máximo de produção alcançado pelo México foi de 3,4 milhões de barris diários, em 2004. A Pemex já tem recorrido a operadoras privadas, em regime de prestação de serviços, para explorar campos maduros.

A abertura do setor de óleo e gás à participação privada, nos planos de Peña Nieto, capacitaria a Pemex a lançar ações no mercado, no estilo da Petrobras, com a manutenção do controle pelo governo. O assunto é polêmico no país e o presidente eleito não conseguiu maioria absoluta no Congresso, o que exigirá demoradas negociações sobre mudanças nos artigos da Constituição mexicana que garantem à Pemex monopólio sobre a exploração de petróleo (a empresa pode contratar serviços de petroleiras privadas, mas não é autorizada a fazer contratos de risco).

Caíram bem no Palácio do Planalto as repetidas declarações do mexicano sobre o interesse dele em uma aliança com o Brasil no campo internacional. Embora as negociações para redução de tarifas no comércio bilateral estejam paralisadas e tenham sofrido um golpe neste ano com a decisão unilateral de Dilma de impor cotas à importação de automóveis mexicanos, assessores do mexicano e da brasileira incluem a possibilidade de discutir uma aproximação no campo comercial entre os dois países durante a visita de Peña Nieto.

Após sucessivos saldos positivos na relação comercial com o México, o Brasil passou a ter déficit em 2009, e, em 2011, o saldo negativo pulou, de menos de US$ 150 milhões, em 2010, para quase US$ 1,2 bilhão. Em julho, o déficit comercial já superou a marca de todo o ano passado, devido principalmente à importação de carros, que, apesar de sujeita a cotas, foi antecipada pelas montadoras para aproveitar a redução do IPI e a forte demanda interna no Brasil.

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