Dívida – Para ex-presidente do Fed, a região estava em perigo

Nota DefsaNet

Excelente série de artigos publicado no dia 02 Agosto 2012 em O GLOBO.

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Danilo Fariello e Eliane Oliveira

BRASÍLIA Em setembro de 1982, após o calote do México, a quebra de um país do porte do Brasil assombrava o mundo devido ao risco de contágio que poderia levar a uma crise sistêmica. Esta é a visão de um personagem-chave daquele momento histórico, o economista Paul Volcker, então presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Em entrevista ao GLOBO por telefone, o economista vê similaridades entre a crise atual na Europa e a da América Latina de 1982, com a diferença de que o problema hoje não está restrito a bancos e se espalha por mercados não regulados.
 
Como os Estados Unidos viam a possibilidade de uma quebra do Brasil em 1982?
 
Tínhamos uma crise séria nos EUA, graças a pressões vindas de diversas direções, e víamos que uma crise mais grave espalhada pela América Latina seria muito danosa para nosso sistema financeiro, sobretudo para os bancos. Era um problema bancário que poderia prejudicar mais ainda a própria América Latina. O Brasil, como outros países da região, estava em perigo com a interrupção dos empréstimos bancários. Após o México, nosso primeiro alvo de preocupações, queríamos evitar o risco de contágio da crise, como hoje pode ocorrer na Europa. Lembro muito bem quando a crise estourou e as autoridades brasileiras estavam confiantes de que o Brasil não seria tão vulnerável, pois teria melhores políticas monetária e econômica do que o México. Mas a crise do México mostrou outros países superexpostos, e o Brasil não escapou.
 
Por que os bancos emprestaram tanto para a América Latina, a ponto de pôr o sistema financeiro em risco?
 
A disparada do preço do petróleo levou muita riqueza aos países produtores do Oriente Médio e boa parte dessa riqueza retornava em depósitos nos bancos americanos e outras grandes instituições financeiras. Esses bancos estavam buscando locais lucrativos para investir esse dinheiro. Eles ficaram animados com a América Latina, que tinha demanda por investimentos e também dependia da importação de petróleo. Os bancos ficaram exultantes com os investimentos na América Latina e os países, exultantes com a chegada do dinheiro. Essas crises são iguais.
 
O Fundo Monetário Internacional (FMI) considerou o Brasil "grande demais para quebrar". E os bancos?
 
Não lembro especificamente dessa expressão à época. A questão era que os grandes bancos internacionais, e alguns não tão grandes, emprestaram muito dinheiro à América Latina como um todo. Não avaliaram os riscos ou as dificuldades em ter esse dinheiro de volta. As estatísticas não estavam todas disponíveis. Os bancos não sabiam quanto estavam emprestando coletivamente. Eles emprestaram até o topo.
 
Autoridades brasileiras disseram que os EUA tiveram papel fundamental nas negociações em 1982 para o Brasil sobreviver…
 
Eu me lembro de que procuramos o FMI para que liderasse as negociações, refletindo o interesse internacional em garantir segurança ao crédito. Jacques de Larosière (então diretor-gerente do organismo) cooperou para uma solução. Mas, nas negociações, achávamos o FMI radical em suas imposições ao Brasil. Tentávamos colocar o FMI e o Brasil para negociar em termos razoáveis. Também encorajamos os bancos a continuarem emprestando.
 
O senhor assessorou o governo Barack Obama na crise atual. A situação hoje é mais difícil?
 
A crise dos anos 80 era bancária. Era mais gerenciável, porque os bancos são regulados. Hoje, muito do sistema financeiro está fora dos bancos.

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