Armas para a Arábia Saudita ou algo cheira mal na Suécia

Enquanto os jornalistas estão a descobrir novos pormenores de transações secretas, mais funcionários altamente colocados pediram a demissão.

As exportações de armas para a Arábia Saudita não são proibidas oficialmente na Suécia. Mas a oposição de esquerda destaca que todos os entendimentos com Er Riad foram alcançados secretamente, sem o conhecimento da opinião pública que, após a “Primavera Árabe”, não apoia tais transações.

Conforme fora comunicado, o objetivo do projeto Simoom, avaliado em milhares de milhões de coroas suecas, consiste em ajudar os sauditas a construir a primeira empresa de explosivos e de mísseis anti-tanque. A construção da usina não foi iniciada por enquanto, mas apareceram os primeiros pormenores da transação prevista.

Foi informado que os governos da Suécia e da Arábia Saudita assinaram um acordo de cooperação ainda em 2005. Em 2011, a Agência de Pesquisas Militares da Suécia (FOI) concluiu com a Arábia Saudita mais um acordo, desta vez secreto. Naquela altura, o governo de Fredrik Reinfeldt chegou ao poder na Suécia e a situação no Oriente Próximo mudou radicalmente, terminando na “Primavera Árabe”. O fornecimento de armas ao “polícia árabe” colocou Estocolmo numa situação delicada, diminuindo a popularidade da aliança governante no país. Os sauditas ameaçaram contudo que, se a Suécia renunciar a construir a empresa, Er Riad não irá comprar estações de radar no valor de cerca de sete mil milhões de dólares. Em resultado, Estocolmo decidiu mascarar a transação. O Ministério da Defesa assinou um contrato de construção de uma usina em areais da Arábia e destruiu vestígios das conversações, mas, como se verificou, nem todos: a oposição e os jornalistas conseguiram encontrar suficientes provas.

Contudo, a envergadura do escândalo suscita algumas perguntas. A produção e comércio de armas são tradicionais artigos de receitas para a Suécia. Por outro lado, as leis suecas não proíbem a cooperação com Er Riad. Ao mesmo tempo, a Suécia segue uma política de neutralidade e de não-participação em quaisquer alianças. Foi esta carta que decidiram jogar os adversários do atual governo conservador, considera o professor do Centro de Pesquisas da Europa do Norte, Lev Voronkov.

"O atual escândalo é provocado pelo fato de as ações do governo terem sido avaliadas pela sociedade da Suécia como afastamento da política tradicional de liberdade em relação a alianças. Naturalmente, isso levou à contraposição por parte das forças de esquerda e de oposição, que tentam utilizar a situação para obter mais votos nas próximas eleições parlamentares".

Destaque-se que muitas figuras públicas ocidentais consideram a Arábia Saudita como uma das ditaduras mais duras no mundo, onde estão em vigor as leis da sharia que permitem a pena de morte. Ao mesmo tempo, os países ocidentais não veem nisso uma violação dos direitos do homem – por um “pecado” menor foi castigado Muammar Kadhafi e pode ser castigado Bashar Assad. Este fenómeno explica-se facilmente, aponta o presidente do Fundo de Pesquisas de Problemas da Democracia, Maksim Grigoriev.

"A Arábia Saudita é um dos principais fornecedores de recursos energéticos. Um grande número de pessoas que faz parte da elite política e econômica dos Estados Unidos tira lucros dos diferentes tipos de cooperação com os sauditas. Naturalmente, não se faz nada para obrigar a Arábia Saudita a renunciar à política de violação dos direitos do homem".

Em Estocolmo, entretanto, os ministros principais se demitiram. Não é de excluir que, a seguir, será demitido também o chefe do governo. Não se pode excluir a chegada de forças de direita ao poder. Será que elas renunciarão aos fornecimentos de armas aos sauditas? A maioria dos analistas duvida. As palavras de ordem são boas durante a luta pelo poder. Após a vitória, é bastante difícil renunciar aos bilhões obtidos com a venda de armamentos.

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