No Brasil, premiê francês quer reforçar parceria estratégica

Taíssa Stivanin

O primeiro-ministro francês François Fillon chega nesta quarta-feira ao Brasil para reforçar a cooperação entre os dois países e a parceria estratégica no setor da defesa. Uma das propostas inclui uma participação na construção de um dos porta-aviões do projeto de reaparelhamento da Marinha brasileira.

O premiê francês viaja ao Brasil acompanhado de uma delegação de cerca de 40 pessoas, composta de 28 empresários, dez parlamentares e três ministros de estado, segundo informações do governo. O programa de quatro dias inclui um encontro nesta quinta-feira com a presidente Dilma Rousseff em Brasília e visa, entre outros objetivos, "reafirmar a importância da cooperação no setor da defesa", segundo uma fonte do governo francês.

Em 2009, França e Brasil assinaram um acordo para venda de armamento avaliado em U$ 12,3 bilhões. O primeiro-ministro também manifestará o interesse do país em outros contratos no setor, como a participação na construção do futuro porta-aviões brasileiro, parte do programa Mar de Titã, de recuperação da indústria naval brasileira. A empresa DCNS fez uma proposta para o design do futuro navio aeródromo, segundo fontes diplomáticas.

A França também está interessada no projeto brasileiro de renovação da frota de fragatas e de patrulhas oceânicas, e na fiscalização das fronteiras marítimas. A Aeronáutica civil é outro setor estratégico, e um dos intuitos é intensificar as relações entre a Embraer e a EADS. A compra dos 36 caças Rafale, para renovação da frota brasileira, que se transformou em uma verdadeira novela estratégica, também deve ganhar um novo capítulo: o premiê francês deverá falar sobre o assunto com a presidente Dilma.

De acordo com o editor do site Defesa.net, Nelson During, especialista em defesa, o Rafale também está na disputa por um contrato da Marinha, que inclui 48 aviões. “Nessa licitação, que acontece à parte, o Gripen, da sueca Saab, já foi eliminado. Só sobraram o Rafale e o F-18 da Boeing", diz Nelson, referindo-se aos outros dois aviões que concorrem com o Rafale na licitação. No sábado, dia 17, o premiê francês deverá visitar a base de Itaguaí, no Rio de Janeiro, onde serão construídos os submarinos Scorpène e os de propulsão nuclear, com tecnologia francesa.

Reatores nucleares

No âmbito nuclear, o Brasil também pretende adquirir até 2030 quatro novos reatores, além dos três que já existem nas usinas de Angra dos Reis. A França, conhecida pelo seu know-hall no desenvolvimento de energia nuclear para fins civis, também está de olho neste novo filão. Outros setores que interessam os franceses é a privatização dos aeroportos e outros serviços necessários para organização da Copa do Mundo em 2014 e as Olímpiadas em 2016. “Com essa visita, o governo francês quer diversificar os aspectos dessa parceria estratégica, depois de um esfriamento das relações, com a não-conclusão do contrato do Rafale", observa Gaspard Estrada, do Observatório Político da América Latina, da Universidade Sciences Po.

Crise na zona do euro

A crise na Europa também terá destaque na visita. Um dos objetivos da viagem é tranquilizar as autoridades brasileiras em relação à situação na zona do euro, valorizando as decisões tomadas recentemente na Cúpula da União Europeia, em Bruxelas. A questão será abordada durante um seminário na FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), com a participação de empresários dos dois países. O Brasil é o país não-europeu que mais recebe investimentos diretos da França. Cerca de 500 empresas francesas estão instaladas no país.

Acordos e homenagem às vítimas do voo AF447

Durante a visita do primeiro-ministro francês, também serão assinados diversos acordos bilaterais. Um deles, ligado ao programa Ciências sem Fronteiras, prevê a formação de cerca de 10 mil estudantes bolsistas no país. Outros acordos nas áreas de tecnologia da informação e Previdência Social também estão previstos. A agenda do premiê francês ainda inclui a inauguração de um monumento em homenagem às vítimas do voo AF447, que caiu em 31 de maio de 2009 no oceano Atlântico. A cerimônia deve acontecer na sexta-feira, no jardim Parque dos Dois Irmãos, no Leblon. Ainda no Rio, Fillon deverá visitar o teleférico que liga os seis morros do Complexo do Alemão, recentemente ocupado pela polícia. O primeiro-ministro volta para a França no sábado.

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