Oriente Médio – Acordo por libertação de Shalit pode fortalecer Hamas, dizem analistas

Guila Flint

O acordo firmado entre Israel e o Hamas, que prevê a troca de 1.027 prisioneiros palestinos pelo soldado israelense Gilad Shalit, deverá fortalecer o grupo islâmico e enfraquecer seus rivais laicos do Fatah e a Autoridade Palestina, opinam analistas.

O acordo foi anunciado na terça-feira pelo primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e pelo líder do Hamas, Khaled Meshaal.

Segundo o analista militar do jornal Haaretz, Amos Harel, o acordo levará a um "fortalecimento dramático" da posição do Hamas, grupo que controla a Faixa de Gaza.

"Os pontos que o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, ganhou com o pedido de reconhecimento (do Estado palestino) na ONU, enfrentando o governo americano, são insignificantes comparados com o lucro político que o Hamas obterá desse acordo", afirma o analista.

O chefe do serviço de Inteligência Interna de Israel (Shin Bet), Yoram Cohen, reforçou essa avaliação nesta quarta-feira. "O acordo levará ao fortalecimento do Hamas e ao enfraquecimento da Autoridade Palestina (que controla a Cisjordânia) e poderá incentivar novos atentados e sequestros", disse.

De acordo com Cohen, o preço que Israel tem que pagar para libertar Shalit é "pesado", mas ele afirma que as forças de segurança poderão enfrentar os riscos envolvidos no acordo.

"Na Faixa de Gaza existem 20 mil guerreiros do Izadin al-Qassam (braço armado do Hamas), e mais algumas centenas não mudarão o quadro", declarou.

'Melhor possível'

O assessor de Segurança Nacional de Netanyahu, Yaacov Amidror, também opina que o acordo dará força ao Hamas, considerado por Israel um grupo terrorista.

"O Hamas ganha pontos e se fortalece às custas do Fatah", disse Amidror à radio estatal israelense, Kol Israel.

No entanto, Amidror afirmou que o acordo firmado entre Israel e o Hamas para libertar Shalit é o "melhor possível nas circunstâncias atuais".

Ele mencionou as mudanças nos regimes do Oriente Médio, decorrentes da chamada Primavera Árabe, como um fator catalisador para o acordo, agregando que a instabilidade que vigora na região levou o governo israelense a se apressar em concluir o plano porque "ninguém sabe o que acontecerá no futuro".

O fortalecimento do Hamas, que não reconhece a existência de Israel, e o enfraquecimento da Autoridade Palestina junto à opinião pública na Cisjordânia e na Faixa de Gaza podem tornar ainda mais remotas as chances de uma retomada do processo de paz entre israelenses e palestinos.

Acordo

O soldado Shalit foi detido em 2006, e desde então sua família faz campanhas pedindo a sua libertação.

O acordo anunciado na terça-feira estabelece que Israel irá libertar os prisioneiros palestinos em duas etapas.

Na primeira, Israel soltará 477 presos, entre eles 280 que foram condenados à prisão perpétua pela morte de civis israelenses e 27 prisioneiras.
 

De acordo com o chefe do Shin Bet, Yoram Cohen, esses prisioneiros serão libertados na semana que vem, e paralelamente Shalit será transferido para o Cairo.

Em uma segunda etapa, dentro de dois meses, Israel deverá libertar mais 550 prisioneiros palestinos.

A maioria dos libertados na primeira etapa – que eram residentes da Cisjordânia -, será deportada para a Faixa de Gaza.

Apenas 110 dos primeiros 450 presos que serão soltos poderão voltar para a Cisjordânia, outros 40 serão expulsos para o exterior e 300 irão para a Faixa de Gaza, onde serão recebidos com festejos organizados pelo Hamas.

Os prisioneiros que voltarem para a Cisjordânia não terão liberdade de sair de suas aldeias, não poderão viajar para o exterior e terão que se apresentar perante as autoridades militares israelenses uma vez por mês.

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