O Brasil, os EUA e a crise europeia

Com o presidente Barack Obama imobilizado no Congresso pelas resistências dos republicanos à elevação do teto da dívida interna e externa, avança mais revolta a onda de inquietação nos mercados mundiais. A ampliação do limite de endividamento é a única saída antevista pela Casa Branca para evitar a moratória contra credores dos EUA.

Obama pleiteia provisão de US$ 14,3 trilhões. A oposição admite apenas US$ 2,5 trilhões, assim mesmo de forma parcelada e se houver cortes radicais nos gastos da administração — nos recursos destinados aos programas sociais, sobretudo. Está instalado o impasse. Em maio, investidores retiraram do país US$ 67,5 bilhões.

As apreensões despachadas de Washigton para o mundo juntam-se à crise na União Europeia (UE) para formar cenário alarmante. O aporte adicional de 85 bilhões de euros para impedir a quebra da Grécia não alcança consenso no bloco. A Alemanha e o Banco Central Europeu (BCE) discordam quanto à participação dos credores privados na solução do problema. Ainda não saíram de cena o "refinanciamento" a longo prazo da conta em vermelho de Atenas e o perdão de parte dos débitos. Ao mesmo tempo recrudescem os temores de que outros países da zona do euro sejam contaminados pela inadimplência grega.

Admitam ou não certos analistas da órbita governamental, o Brasil está exposto à tormenta e enfrentará riscos. Ainda que (na hipótese mais provável) os EUA, dono da fábrica emitente de dólares, não decepcionem parceiros internacionais, poucas dúvidas há sobre mudanças mundiais perturbadoras. A estabilização norte-americana levará algum tempo e, enquanto não for alcançada, injetará letargia nas economias mais sensíveis. Está visto, pois, que o Brasil, fragilizado pela recidiva inflacionária, necessita precaver-se contra imprevistos.

Cabe não ignorar que o Tesouro brasileiro é o quarto maior credor dos EUA. Investiu em títulos públicos norte-americanos a soma respeitável de US$ 207 bilhões, 63% das reservas em divisas. As aplicações da China, primeiro país da lista, chegam a US$ 1,1 trilhão. Não por outra razão, o presidente Hu Jintao pediu "mais responsabilidade" de Washington na administração fiscal. A economia chinesa, malgrado a segunda mais pujante do mundo, enfrenta risco adicional: a ameaça de falência de comunidades (espécie de municípios) devedoras do poder central.

Há, portanto, no panorama internacional triangulação de fatores que prenuncia tempos difíceis. Ei-la: os obstáculos ao retorno a curto prazo do dinamismo econômico mundial iniciado em 2002 e encerrado com o terremoto de Wall Street em 2008, a ameaça de desintegração da UE e, agora, a instabilidade nos EUA. Não se imagine o Brasil como uma ilha, espaço infenso às tempestades que açoitam os mercados planetários. Não é. Urge prevernir-se para não ser surpreendido pelo pior.

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