Um cidadão decapitado pelo ISIS pode mudar o Japão?

Por Matt Schiavenza – Texto do The Atlantic via Defense One

Tradução, adaptação e edição – Nicholle Murmel

Um video divulgado em contas de Twitter ligadas ao grupo extremista Estado islâmico (EI, ISIS ou ISIL) mostra a aparente decapitação de Haruna Yukawa, 42 anos, cidadão japonês mantido refém pelas forças do ISIS desde agosto do ano passado. A morte de Yukawa ainda não foi verificada, mas o governo em Tóquio acredita que o vídeo é autêntico.

O assassinado vem dias após os extremistas exigirem 200 milhões de dólares como resgate para libertarem Yukawa e Kenji Goto, um jornalista de 47 também refém. Dias antes da execução, o governo japonês prometeu libertar os dois prisioneiros, mas afirmou que não “se curvaria ao terrorismo”. Segundo Goto, que falou durante o vídeo da decapitação de Yukawa, o ISIS o libertaria se Sajida Mubarak al-Rishawi, uma afiliada do grupo presa na Jordânia, também fosse solta.

Em uma coletiva de impresa organizada às pressas, o gabinete em Tóquio se mostrou ultrajado com a proposta:

“O governo do Japão não cederá ao terrorismo e continuará a contribuir para a paz e estabilidade da comunidade internacional e do mundo”, declarou o primeiro ministro, Shizo Abe, aos repórteres.

Para Abe, cujo Partido Liberal Democrata foi bem nas eleições regionais em dezembro passado, a crise com o Estado Islâmico coloca o Japão em um dilema. Desde que assumiu a liderança do país, Abe apoiou a revisão do Artigo 9 da Constituição japonesa – uma medida pacifista que rege a política externa nipônica desde o fim da Segunda Guerra.

O primeiro minitro argumentou que a cláusula se tornou incompatível com um mundo em que a China, adversário de longa data, aprimorou fortemente sua capacidade militar. Após as eleições de dezembro, o ministro da Defesa japonês, General Nakatami, explicou o raciocínio: “o ambiente de segurança do Japão mudou, e precisamos fortificar a segurança nacional”, disse.

Porém, não há garantias de que a morte de Yukawa consolide apoio público para a proposta revisionista de Abe. Instável e com histórico de transtornos mentais, o refém morto viajou para a Síria na segunda metade de 2014 com a intensão de trabalhar como provedor de serviços de segurança particular. Desde sua captura em agosto, a reação do público japonês foi, na maior parte, de raiva por ele ter se colocado em uma situação tão perigosa. Em 2004, a captura de quatro agentes humanitários no Iraque inspirou a mesma falta de simpatia no Japão.

Em todo caso, as opções de Shinzo Abe são limitadas. Em 2013 o governo assinou um termo de compromisso com o G8 – grupo das maiores economias globais – prometendo negar pagamento de resgate a organizações terroristas.

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