A Ásia ainda é importante para os EUA

Por John Deni – Texto do Defense One

Tradução, adaptação e edição – Nicholle Murmel

Acabou a atenção dos Estados Unidos ao Pacífico? Apesar da turnê do presidente Barak Obama pela Ásia nesta semana, certamente é essa a impressão, já que autoridades do governo americano têm cancelado ou adiado viagens à região e se concentrado mais nas questões de segurança envolvendo a Europa e o Oriente Médio.

A evidência mais recente de que o deslocamento do foco americano para a Ásia-Pacífico pode estar suspenso acontecue na semana passada. O secretário de Defesa, Chuck Hegel, adiou sua viagem para Mianmar e o Vietnã, alegando que precisava dar atenção ao combate contra o Estado Islâmico e às audiências no Congresso em Washington. O presidente Obama pode ser capaz de reverter essa impressão de negligência atraés de suas visitas à China, Mianmar e Austrália, mas a mensagem de um “pivô em aberto” parece cada vez mais difícil de mudar.

Olhando de fora, o governo amricano parece mesmo completamente consumido pela necessidade de gerenciar várias crises – isso às custas de negligenciar a Ásia. A anexação ilegal da Crimeia por parte da Rússia e a invasão subsequente da região de Donbass, na Ucrânia, aletraram profundamente – para a pior – o panorama da segurança na Europa. O que muitos antes consideravam uma medida razoável de redução gradual da presença militar estadunidense na no continente agora parece absurdo. O Pentágono luta para projetar um esquema rotativo de forças para proteger o continente, ao mesmo tempo em que o Departamento de Defesa também concentra esforços para acalmar os aliados e estabilizar a segurança no leste da OTAN.

Enquanto isso, o sucesso do Estado Islâmico tem ameaçado não só a segurança na nebulosa fronteira entre Síria e Iraque, mas também a estabilidade na Jordânia, Turquia e Arábia Saudita – todos peças-chave na política de segurança americana. Mas ainda não é claro se a estratégia será suficiente – limitar o envolvimento militar ao mínimo possível para que as forças terrestres locais possam virar a maré contra o ISIS.

Soma-se a isso a epidemia de Ebola na África também, que mostra mais outra função que Washington espera que as Forças Armadas assumam – combater focos de doenças infecciosas. Apesar de o oeste africano ter pouca repercussão nos interesses americanos, a propagação do vírus além da região, para a Europa e América do Norte, é uma preocupação extrema para Washington.

Em grande parte, como resultado dessas crises, a Ásia parece ter ficado em segundo plano. Porém, o governo Obama pode, na verdade, “andar e mascar chiclete ao mesmo tempo”. Quer dizer, a burocracia da segurança nacional pode continuar a dar atenção e se engajar de forma construtiva na solução de problemas políticos, econômicos e de segurança na região, ao mesmo tempo em que gerencia as crises em outras áreas do globo.

Apesar de a política orçamentária de Sequestro (cortes obrigatórios e sistemáticos no orçamento de defesa) inevitavelmente enfraquecer a capacidade do governo, por enquanto ainda é possível assegurar interesses americanos em todo o mundo.

Talvez mais importante ainda, a impressão do “pivô em aberto” demonstre a falha em reconhecer que os interesses globais dos EUA são diversos e díspares. Dada a geografia do país, a segurança nacional e o estilo de vida decorrente dependem, em última instância, de relações econômicas saudáveis com outras nações.

Hoje, a lista dos 15 maiores parceiros econômicos de Washington inclui seis países da Europa, mas apenas cinco na populosa região Indo-Ásia-Pacífico. A Arábia Saudita é o único páis do Oriente Médio na lista, mas aliados americanos na Europa, Sudeste e Leste Asiático dependem do comércio de petróleo e da estabilidade no mundo árabe.

Então, por mais que o comércio dos EUA com a Ásia-Pacífico deva crescer em ritmo mais acelerado do que com a Europa nas próximas décadas, é fácil perceber porque a crise no Velho Mundo e no Oriente Médio hoje exige mais atenção dos líderes em Washington.

Por fim, a “negligência” em relação à Ásia mostra também a falha em reconhecer a própria natureza do esforço atual de reequilibrar poder. Apesar de o pivô asiático ter sido revelado em 2011 e começo de 2012 via discursos, declarações oficiais e, finalmente, com o lançamento em janeiro de 2012 do Gua Estratégico de Defesa, a política de deslocar mais atenção para o extremo leste do mundo é mais evolutiva do que revolucionária.

Há pelo menos 15 anos tem ficado cada vez mais claro que a região da Ásia-Pacífico provavelmente tomaria o lugar da Europa e da América do Norte em termos de produção econômica. Como resultado, os Estados Unidos têm, devagar e constantemente, deslocado mais recursos e foco diplomático, econômico e militar para o continente asiático. É pouco provável que a crise ocasional na Europa ou os conflitos perenes no oriente Médio alterem essa tendência.

Uma visita do secretário de Defesa americano ao Sudeste Asiático certamente gera manchetes nos jornais e representa um sinal poderoso entre aliados e potenciais adversários. Mas pensar que os demais diplomatas americanos e oficiais militares também não estão o tempo todo em contato com suas contrapartes estrangeiras e administrando o balcão da segurança internacional é errado.

O governo Obama faria bem em promover e enfatizar o trabalho efetivo sendo feito abaixo do patamar cerimonial. Quando o público – o os críticos do governo – se concentram só em contar as visitas de Obama, Hegel e outros dignatários à Ásia, surge essa noção desinformada acerca dos interesses americanos vitais hoje, e da estrutura, funções e modalidades segundo as quais um governo promove e protege seus interesses.

Compartilhar:

Leia também

Inscreva-se na nossa newsletter