OTAN reforça presença nos Balcãs e no Leste Europeu

Por Sam Jones – Texto do Financial Times
 
Tradução, adaptação e título – Nicholle Murmel

 

Em sua primeira viagem como novo secretário geral da OTAN neste mês, Jens Stoltenberg escolheu ir à Polônia. E sua primeira parada foi a base aérea de Lask.
 
Trata-se de uma viagem inaugural com motivo importante: sete meses após a Rússia anexar a penísula da Crimeia, a missão de patrulha aérea dos Balcãs – concentrada em Lask para a visita do secretário – ainda está na linha de frente dos esforços de dissuasão da aliança contra Moscou.
 
Na última terça-feira (21OUT14) pouco depois das 13 horas, horário local, um avião de vigilância russo passou brevemente pelo espaço aéreo da Estônia, a invasão, aos olhos da organização do Atlântico Norte, é a maior violação à soberaia aérea de um país-membro desde a queda do Muro de Berlim.
 
O incidente aconteceu em um contexto de diversas provocações por parte da Rússia nos céus do Leste Europeu e nos Balcãs ao longo de 2014. “É preciso voltar lá atrás na História para ver algo desse tipo”, declarou Stoltenberg. O número de contatos e interceptações realizados por aeronaves de caça da OTAN desde janeiro deste ano já é três vezes maior do que em todo o ano de 2013, por exemplo.
 
Até mesmo nações que não fazem parte da organização, como a Suécia e a Finlândia, relataram um aumento significativo de incidentes em seus espações aéreos envolvendo aeronaves russas. “Vimos um grande crescimento no ritmo das operações 24 horas por dia”, diz o tenente-coronel David Pletz, oficial mais graduado na força de seis CF-18 enviada pelo Canadá para um período de seis meses na missão de patrulha aérea dos Balcãs baseada em Šiauliai, na Lituânia.
 
O tenente-coronel  explica que “sob a perspectiva do Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte (NORAD), estamos habituados a trabalhar com os grandes Tu-95 da Rússia, ou seus bombardeiros de longo alcance, mas aqui vemos uma parte bem diferente da Força Aérea deles – as aeronaves de caça mais modernas, bem como aviões de vigilância eletrônica – a situação e consideravelmente mais dinâmica”. Ao todo, a OTAN dispõe de 16 caças em alerta máximo patrulhando os céus entre as nações bálticas e o Leste Europeu – antes da anexação da Crimeia por parte de Moscou, eram apenas quatro aeronaves.
 
O aumento no contingente é apenas a ponta do iceberg. O desdobramento extra de aeronaves de cada nação exige também muito mais aviadores e equipes de apoio. Além das patrulhas na base de Šiauliai, a OTAN enviou também caças de resposta rápida para Ämari, na Estônia e Malbork, na Polônia.
 
 Analistas dizem ser pouco provável que a organização mobilize mais forças no futuro próximo. “É provável que se trate de um fenômeno de longo prazo”, afirma Justin Bronk, analista aeroespacial do Royal United Services Institute de Londres. “[O poder aéreo da OTAN] é um agente de dissuasão muito mais credível que outras medidas, como mais tropas e para-quedistas no Leste Europeu. Essas aeronaves são capazes de lidar com qualquer atividade menor da Rússia”.
 
Durante sua passagem por Lask, onde pilotos americanos e poloneses treinam juntos, o secretário Stoltenberg declarou que as missões de patrulha aéra são “a solidariedade da OTAN em ação”. Ele disse isso cercado por uma variedade impressionante de equipamentos: seis aeronaves, todas a serviço da organização e vindas do Canadá, Polônia, Holanda, Estados Unidos, Alemanha e Portugal. Atrás dos aviões, um AWACS de reconhecimento vindo da Romênia e operado pela própria OTAN.
 
Segundo dados da organização do Atlântico Norte, também foram feitos investimentos significativos para modernizar as bases aéreas no Leste Europeu – uma demonstração do compromisso com a missão desempenhada na área. Representantes da aliança declararam ao Financial Times que mais de 150 milhões de euros foram investidos ao todo. Pistas de voo foram ampliadas e repavimentadas, novos hangares foram construídos e também foram instalados depósitos maiores para combustíveis e armamentos.
 
Na estônia, 40 milhões de euros foram destinados à base aérea de Ämari. Na Letônia, 42 milhões foram usados para modernizar as instalações em Lielv?rde – um grande depósito de combustível será concluído no ano que vem. Na Lituânia, 29 projetos distintos, que somam ao todo 41 milhões, resultaram na reforma do campo de voo em Šiauliai, e 17 milhões de euros foram investidos em Malbork, na Polônia.
 
A OTAN insiste que as novas medidas são coerentes com as obrigações previstas no acordo assinado entre a organização e a Rússia em 1997, que descreve minuciosamente o emprego permanente de forças adicionais na Europa. Qualquer expansão das atividades, porém, não será vista de forma neutra pela Rússia, ainda que a aliança alegue que as medidas atuais são meramente defensivas.
 
A questão é se esse reforço na musculatura da OTAN em termos de aeronaves patrulhando o Leste Europeu vai conter de alguma forma o ímpeto russo na região. Até o momento, não parece ser esse o caso. Enquanto representantes da aliança se preparam para a reunião dos ministros das Relações Exteriores em dezembro, podem decidir investir ainda mais dinheiro na missão noa Balcãs – atualizando sistemas-chave de comunicações e radares, por exemplo.
 
Para as nações bálticas, cada vez mais inquietas, as patrulhas aéreas são uma demonstração rara e tangível da relevância da OTAN. Se Moscou continuar a gerar instabilidades como no incidente nos céus da Estônia, pode ser necessário fazer mais para acalmar os membros mais recentes da aliança.
 

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