Obama e a claustrofobia de viver na Casa Branca

Lucía Leal

Seu inocente passeio no mês passado não parecia um prelúdio de nada, mas os sinais de claustrofobia de Barack Obama se multiplicaram desde então, com escapadas cada vez mais frequentes que mostram o cansaço de estrita rotina de ser presidente dos Estados Unidos.

Que um dos homens mais poderosos do mundo se compare com um urso de circo com desejo de se livrar de suas grades pode ser surpreendente, mas depois de mais de cinco anos submetido à escravidão das agendas e as escoltas de seguranças, Obama parece ter uma sede cada vez maior de ar livre e, sobretudo, de espontaneidade.

"O urso está solto!", proclamou o líder durante um imprevisto passeio a pé pelos arredores da Casa Branca no final de maio.

A frase foi repetida na segunda-feira passada, quando caminhou até um Starbucks para buscar um chá junto com seu chefe de gabinete, Denis McDonough, sem avisar ao grupo de jornalistas que segue cada um de seus movimentos e desconcertando inclusive alguns de seus assistentes, que tentavam sem sucesso averiguar para onde ia.

Na terça-feira, foi o apetite por um hambúrguer o que o levou a driblar a agenda para escapar junto com o secretário de Educação, Arne Duncan, a um restaurante dos arredores da capital.

Foi então quando os analistas começaram a se perguntar se Obama experimentava uma séria alergia ao cuidado roteiro que rege sua vida, especialmente agora que se arrisca a se transformar em um "lamb duck", como é conhecido o líder a quem já ninguém presta atenção porque sua presidência está chegando ao fim.

"Pode ser isso, ou pode ser simplesmente que se sente mais relaxado, porque já não tem uma reeleição pela frente. Ultimamente fica até mais tarde nos atos sociais e se relaciona mais com membros do Congresso", disse à Agência Efe um especialista em Comunicação Política na American University, Dotty Lynch.

Segundo o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, o que leva Obama a querer escapar são "os mesmos instintos que sente qualquer pessoa, a necessidade de sair, esticar as pernas, tomar um café pela tarde ou ficar para almoçar com um amigo".

"Esses são os instintos naturais de um ser humano, que neste caso é o presidente dos Estados Unidos. Não tem o luxo de satisfazer esses instintos tão frequentemente como o resto de nós", assinalou Earnest ao jornal "The New York Times".

Mas as escapadas de Obama levam convenientemente a conversas com americanos comuns, fotografias com bebês e uma revolução de toda Washington, algo que, segundo Lynch, leva a assinatura da equipe de comunicação da Casa Branca.

"Permitem que sejam divulgadas imagens em vídeo dos passeios. Não tenho provas, mas isto parece o resultado de um plano", opinou a acadêmica.

O próprio Earnest ressaltou na terça-feira que Obama "gosta muito de poder apertar as mãos das pessoas e conversar com elas", e essa imagem de presidente próximo parece especialmente útil em plena campanha para as eleições legislativas de novembro, onde os democratas tentarão o controle do Senado.

Em qualquer caso, Obama não é o primeiro presidente a romper a rigorosa coreografia do Salão Oval: Bill Clinton costumava sair para correr todas as manhãs -e comer depois um fast-food -, enquanto Richard Nixon chegou a escapar uma madrugada de 1970 para ver o monumento a Lincoln com seu ajudante, o espanhol Manolo Sánchez.

"A presidência moderna é uma forma peculiar de tortura. Está carente de sonho, carente de privacidade, forçado a dar discursos todo o tempo e constantemente te pedem que tome decisões difíceis", escreveu nesta semana Alexandra Petri, colunista do "Washington Post".

"E Obama não para de dizer que é um urso, o que faz com que me preocupe se está vivendo uma 'crise da meia idade' ou sente uma claustrofobia muito forte, ou talvez as duas. Às vezes nos queixamos quando tira férias, mas talvez precise de uma", acrescentou Petri.

Mas algo está claro, o que Obama irá fazer pouco após ceder a batuta na Casa Branca: "Estarei em uma praia em alguma parte, bebendo uma água de coco", garantiu na semana passada.

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