Olimpíada de Sochi tem aparato inédito de segurança

Daniel Sandford

A cidade de Sochi é ligada ao resto da Rússia por apenas uma estrada – cheia de curvas e estreita – que passa pela costa do país.

E, para chegar lá, é preciso atravessar um enorme posto de checagem, sob controle do serviço de segurança russo, a FSB. Durante a Olimpíada de Inverno, a partir desta sexta-feira, só poderão passar por ali veículos autorizados ou licenciados na cidade.

A reportagem da BBC assistiu a dezenas de carros, ônibus e caminhões sendo detalhadamente revistados por policiais e cães farejadores.

Tirando essa estrada, Sochi está isolada do resto do mundo. A cidade é rodeada pelas montanhas do Cáucaso e pelo Mar Negro.

A fronteira que leva à Abkázia (região da Geórgia que autodeclarou independência) está fechada para veículos durante os Jogos.

As montanhas estão sendo protegidas pelo Exército russo, e na costa próxima à Vila Olímpica é possível ver embarcações militares.

Aeroportos e estações de trem também apresentam um visível aumento em seu aparato de segurança.

Mísseis

Os Jogos de Sochi terão um esquema visível de segurança maior do que qualquer outra Olimpíada de inverno ou verão.

"O presidente (Vladimir) Putin disse que 40 mil membros da polícia e Forças Armadas estarão envolvidos na segurança dos Jogos", disse Alexander Zhukov, chefe do comitê olímpico russo.

"E estamos fazendo o possível para garantir que o máximo de segurança não atrapalhe os espectadores, os atletas, os turistas – não interfira com a festa esportiva."

Perto da estação de energia próxima ao Parque Olímpico, a reportagem da BBC encontrou uma bateria antiaérea, com dois radares e um grupo de veículos armados com mísseis. Mas Zhukov insiste que não é nada fora do normal.

"Participei de alguns Jogos Olímpicos e sei que organizadores dão atenção especial à segurança. Em Londres (em 2012), colocaram até mísseis em tetos (de casas)", afirmou. "Essas medidas são necessárias para garantir a segurança durante um grande evento. Estamos prestando muita atenção a isso em Sochi."

O Parque Olímpico terá uma sala de controle de onde policiais monitorarão centenas de câmeras de segurança. Outras 1,4 mil câmeras farão o monitoramento do resto da cidade, controladas em outra sala de controle.

Ameaças

A ameaça é óbvia: os Jogos ocorrem a apenas algumas centenas de quilômetros de uma das insurgências mais violentas da Europa.

As repúblicas russas de Daguestão, Chechênia e Inguchétia são foco de uma revolta de militantes islâmicos que usam ataques suicidas a bomba, assassinatos e ofensivas contra forças de segurança na tentativa de criar um governo islâmico no Cáucaso.

"É grande a probabilidade de ataques na Rússia antes ou durante os Jogos", diz comunicado das forças de segurança britânicas. "O Imarat Kavkaz (Emirado do Cáucaso) é a maior ameaça e expressou repetidamente o desejo de atacar os Jogos. Em julho de 2013, Doku Umarov (um dos líderes do grupo) instou seguidores a fazer o necessário para atrapalhar o evento."

Para o professor Mark Galeotti, especialista em segurança russa na Universidade de Nova York, "é quase garantido que haverá ataques em outros lugares. Pode haver até ataques em Sochi, fora da zona de segurança".

Ele diz que mesmo que uma bomba exploda em um posto de checagem, sem ameaçar diretamente atletas ou visitantes, bastará para "ganhar as manchetes em Sochi".

'Cidade segura'

Em Volgogrado, uma das maiores cidades do sul da Rússia, 34 pessoas morreram em dezembro em dois atentados suicidas, em uma estação de trem e em um trólebus.

Os ataques foram reivindicados por homens que se diziam do Vilayat Dagestan (grupo que é parte da rede do Imarat Kavkaz), que também prometeram alvejar Sochi.

Esse ambiente realimentou as preocupações de segurança em torno das Olimpíadas de Inverno.

"Até este momento, os rebeldes estão ganhando", diz Galeotti. "Estão fazendo todos falarem sobre a segurança e, assim, mudando o foco do que Putin pretendia para os Jogos – um triunfo para a Rússia – para a insegurança e os fracassos russos."

Mas autoridades britânicas acham que não vai ser fácil atacar a cidade olímpica, opinião compartilhada até pelo oposicionista russo Alexei Navalny – um forte crítico de Putin.

"Acho que as medidas em vigor vão garantir a segurança em Sochi", disse.

"Claro que a região é muito instável, mas acho que a Rússia é capaz de proteger área olímpica. Quando as pessoas pensam no Cáucaso, acham que a Chechênia está a 5 km de Sochi, e não é o caso. Há uma grande distância entre elas. E lembre-se de que a residência de veraneio de Putin fica em Sochi, que é considerada segura."

A "cidade segura" é, no momento, protegida por 40 mil membros das forças de segurança, ao menos um aparato de proteção aérea e uma frota naval.

 

 

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